Dilma defende retirada à força das famílias em áreas de risco, mas falará de pobreza com o papa

Discursos desconexos – Definitivamente a política é a arte da incoerência. Imaginar que esse quadro poderá mudar algum dia é assinar atestado de inocência, de credulidade burra. Longe dos intermináveis problemas brasileiros e das críticas cotidianas, a presidente Dilma Rousseff abusou da incoerência nesta segunda-feira (18), em Roma, para onde viajou com o objetivo de participar da solenidade que oficializará o início do pontificado do papa Francisco.

Aos jornalistas brasileiros, que a flagraram visitando a exposição do pintor italiano renascentista Tiziano Vecellio, Dilma afirmou que durante seu encontro com o papa, marcado para a tarde de terça-feira (19), conversará sobre “fome e pobreza”.

“Logicamente que sim, acho que é um Papa preocupado com as questões dos pobres do mundo tem um papel especial, eu acho que ele cumpre, vamos dizer assim, os princípios básicos que inspiraram o cristianismo e inspiraram Cristo”, declarou a presidente.

A incoerência está no fato de Dilma ter usado um tom duro e carregado de desumanidade ao comentar a nova tragédia que tomou conta de Petrópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro. “A nossa prevenção hoje avisa as pessoas. O que eu acho é que vão ter que ser tomadas medidas um pouco mais drásticas para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar”, afirmou Dilma.

“É uma questão também de conscientizar, porque se não… De fato, o homem não tem condição de impedir desastre. O que ele pode impedir é a consequência do desastre e é isso que a gente tem lutado para fazer no Brasil”, completou.

Em primeiro lugar é preciso lembrar que não passa de balela a afirmação “é isso que a gente tem lutado para fazer no Brasil”. O governo federal pouco faz e não cobra dos governadores e prefeitos as contrapartidas relativas ao dinheiro federal que foi investido na recuperação de áreas destruídas por desastres naturais.

Pouco resolve afirmar que as pessoas precisam deixar as áreas de risco, quando não há para onde ir. No momento em que cria ruas em áreas de risco e nelas disponibiliza serviços como água e energia elétrica, o poder público é corresponsável por qualquer tragédia que ocorra no local.

Para Dilma é muito fácil falar em medidas drásticas para retirar os moradores, enquanto o programa “Minha Casa, Minha Vida”, que poderia ser uma saída para essas famílias que convivem diuturnamente com o risco de morte, avança a passos lentos. Retirar as pessoas dos locais de risco e abandoná-las em igrejas e ginásios é covardia em último grau. Em busca de um mínimo de dignidade, essas pessoas voltam a correr o risco da morte.

Lula, quando assumiu o poder central em janeiro de 2003, encomendou um slogan populista e mentiroso para emoldurar seus dois governos: “Brasil, um país de todos”. Ao referir-se a todos, o ex-presidente também incluiu os que foram esquecidos em Petrópolis e outras tantas cidades brasileiras que aguardam uma solução.

Tomara que o encontro com o papa Francisco desperte em Dilma o espírito da fraternidade, pois esse discurso de ocasião que açambarca o Cristianismo é conversa de boteco de esquina, pois a presidente não é chegada à fé. Estará na cerimônia de posse do papa apenas para ficar bem com o eleitorado brasileiro.