Parafusos soltos – Em 21 de março comemora-se o Dia Internacional Contra a Discriminação, assunto que nas últimas semanas tem ocupado espaço na imprensa e nas redes sociais, especialmente por causa da eleição do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Feliciano é acusado de homofobia e responde a processo no Supremo Tribunal Federal.
O respeito às diferenças é algo que deve existir a partir da consciência de cada cidadão, não por imposição patrocinada por uma minoria. O assunto tem ultrapassado os limites do bom senso e criado uma nuvem sobre as discussões correlatas. Caso aceite o radicalismo interpretativo, a sociedade tornar-se-á refém do ortodoxismo de um gueto que tenta conquistar espaço a fórceps, quando esse movimento deveria ser natural.
No momento em que o equívoco empurra a compreensão para a seara do radicalismo, como aconteceu no desfile do estilista Ronaldo Fraga, em que as modelos entraram na passarela com palhas de aço aplicadas ao cabelo, o convívio social torna-se perigoso e a necessidade de desculpas indevidas cresce de forma assustadora. Nada houve em termos discriminatórios no desfile de Ronaldo Fraga, mas essas ditas minorias estão abusando do oportunismo.
Discriminação não é apenas racial, mas de gênero, religiosa, social e outros quetais. Quando o então presidente Luiz Inácio da Silva, embalado por sua verborragia insana, disse que a crise internacional era “coisa de loiros de olhos azuis”, os revoltados de agora não se manifestaram. A declaração de Lula foi racista e a discriminação não se dá apenas em relação à determinada minoria. Ela pode, sim, ser inversa e atingir a maioria.
O próprio Lula também cometeu uma vergonhosa discriminação, na ocasião social, quando referiu a Francenildo Costa, o algoz de Antonio Palocci Filho, como “reles caseiro”. E também naquela ocasião essa “claque esperneante” que ora faz barulho manteve-se silenciosa.
Pegando carona
Oportunista, essa lufada politicamente correta em nada contribui para o fim da discriminação racial, crime previsto em lei e com punição exemplar. Fossem válidas essas conclusões obtusas e pontuais que alguns insistem em atirar na figueira da polêmica, um dos próximos a serem alvejados por esse pensamento ignaro será o genial Manuel Bandeira, autor do poema “Irene no Céu”, que você confere a seguir:
“Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
– Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.”
Antes que seja tarde
O ucho.info vai mais longe na análise dessa sandice que alguns tentam impor à força, na esteira de um comportamento social supostamente correto. Se todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, como prevê a Constituição de 1988, não há motivo para a criação de cotas nas universidades. Considerando que algum tipo de discriminação existe, como alegam os impetrantes, essa não está na inocência do personagem de Monteiro Lobato, mas na falência do Estado, que se consuma ao não garantir aos cidadãos direitos iguais.
Tal discussão perde força quando buscamos no cotidiano o contraponto para pleito tão absurdo quanto desnecessário. Carlinhos Brown, músico baiano, não apelou ao anglicismo na busca de um pseudônimo porque é da raça branca. De igual modo, o futebolista Leônidas da Silva foi apelidado de “Diamante Negro” porque era da raça branca.
Até mesmo o jogador Edinaldo Batista Libânio, que atuou pelo São Paulo Futebol Clube, tornou-se conhecido como Grafite porque é da raça branca. Ex-zagueiro do Flamengo, de 1969 a 1972, o capixaba José Jorge Fabiano alcançou a fama sob o apelido de Tinteiro, que lhe foi dado por pertencer à raça negra. E nenhum dos acima mencionados sentiu-se, em algum momento, discriminado.