Com cerca de 300 presos mortos, Massacre do Carandiru retorna aos bancos da Justiça paulista

Máquina de matar – Já começou na manhã desta segunda-feira (8), no Fórum Criminal de São Paulo, o julgamento dos policiais militares acusados de envolvimento no Massacre do Carandiru, ocorrido em outubro de 1992, quando oficialmente foram mortos 111 presos durante rebelião no Pavilhão 9 do já extinto presídio da capital paulista.

Ordenada pelo então governador Luiz Antonio Fleury Filho e comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, a invasão provocou a morte de 111 detentos, de acordo com dados oficiais. Anos depois da tragédia, o editor do ucho.info entrevistou conversou com um agente penitenciário que trabalhava no presídio que ficava na Zona Norte da cidade de São Paulo no dia da invasão policial. Segundo relato, cerca de 300 presos foram assassinados.

O número real de mortos foi acobertado pelo governo estadual, que retirou em caminhões de lixo os cadáveres que não seriam reclamados pelas famílias, muitas das quais residindo em outras unidades da federação e que sequer sabiam que seus parentes estavam na maior cidade brasileira.

Como o contingente de policiais envolvidos no caso é grande, o julgamento acontecerá em partes e com intervalos de até quatro meses. Na primeira leva serão julgados 26 policiais militares, mas a defesa alegará que a responsabilidade pela invasão foi de Ubiratan Guimarães, absolvido pela Justiça paulista em 2006 após ser condenado, cinco anos antes, a 632 anos de prisão por 102 mortes ocorridas no outrora sistema penitenciário.

Atendendo pedido dos advogados, a Justiça decidiu não revelar os nomes dos réus como forma de evitar uma onda de retaliações e vinganças por parte do Primeiro Comando da Capital, organização criminosa que atua nos presídios e foi criada após o massacre.

Coincidências numéricas

O coronel Ubiratan Guimarães sempre teve o número 111 marcado em sua trajetória. De acordo com declaração do próprio militar, 111 era o número do cavalo que montava nos seus tempos de Regimento de Cavalaria da Polícia Militar de São Paulo.

Depois de assumir mandato de deputado estadual, na condição de suplente, Ubiratan conquistou vaga no Legislativo paulista com o número 14.111. Por conta desse macabro detalhe, o partido decidiu conservar o número da candidatura como homenagem ao coronel. Coincidência ou não, Ubiratan foi sepultado no número 111 da Rua Luís Nunes, na Zona Norte da capital paulista, no dia 11 de setembro de 2006.