Bola de cristal – Policial eficiente é aquele que trabalha em silêncio e não se rasga diante de câmeras e microfones em busca de parcos minutos de fama, a ponto de conceder entrevista à geladeira de casa no meio da madrugada. O Brasil é a terra dos “achismos” e esse comportamento obtuso leva a opinião pública ao equívoco.
Na noite de segunda-feira (8), um hotel localizado no centro de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, foi consumido pelo fogo. Menos de 24 horas depois do acidente, o delegado Victor Lutti, responsável pela investigação, afirmou que o incêndio foi criminoso. “Com certeza absoluta o incêndio foi criminoso”, disse Lutti, que baseou sua afirmação na existência de possíveis indícios.
Os eventuais culpados ainda não foram identificados, mas o delegado disse que a Polícia Civil trabalha em “marcha acelerada”.
Em primeiro lugar é preciso lembrar que a palavra “certeza” nem mesmo em sonho pode estar no mesmo contexto do “indício”, pois definem situações absolutamente díspares. Erro imperdoável idêntico cometeu o delegado Marcelo Arigony, da cidade gaúcha de Santa Maria, responsável pelo inquérito da boate Kiss. Antes mesmo de a perícia ir ao local da tragédia, Arigony já dava entrevistas e usava as redes sociais para antecipar a conclusão do inquérito.
No caso do Hotel Park Plaza, em São Bernardo do Campo, há uma absurda contradição jurídica na fala do delegado. Qualquer calouro de Direito sabe que indício não prova a materialidade do crime. Fora isso, o Direito Penal é claro ao estabelecer que o indício absolve o réu. Ou seja, o silêncio de Lutti teria sido mais proveitoso.
Não se tem notícia de que a Polícia Civil de São Paulo tenha adquirido um vasto lote de bolas de cristal para solucionar crimes em questão de horas. Se os policiais paulistas chegaram a esse grau de excelência, a profissão de perito criminal está fadada à extinção.
Que alguém do governo explique essa conclusão antecipada do delegado, pois o resultado da perícia, que está sem seu preâmbulo, ainda não foi divulgado.
Em qualquer país minimamente responsável esse delegado já teria sido chamado ao gabinete do secretário de Segurança Pública, mas isso dificilmente acontecerá, pois Fernando Grella Vieira está mais para monge tibetano do que para chefe de corporações policiais que têm perdido a guerra para a bandidagem.