Muito trovão, pouca chuva

(*) Carlos Brickmann –

Semana animadíssima na política nacional:

1 – A Polícia Federal inicia investigações sobre Lula no Mensalão.

2 – A Câmara Federal inicia as discussões sobre a reforma política. O projeto envolve uma reforma constitucional, para proibir coligações em eleições proporcionais. Seria ótimo para os grandes partidos, PT, PMDB e, bem menos, para o PSDB; e péssimo para os outros. Mas é preciso ter o voto de 60% da Câmara. Não passa. O PT quer o voto de lista (o partido determina a ordem dos candidatos, e conforme o número de votos na legenda os nomes ganham a cadeira), mas a maioria da Câmara já votou contra. É difícil passar. O PT quer também o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais. Só há um problema: o eleitor aceita ver seu dinheiro entregue a candidatos, para que façam campanha? E como impedir que o partido pegue o financiamento público legal, mais o velho e popularíssimo caixa 2, que já é ilegal agora e muita gente continua usando?

3 – Hoje, em princípio, deve ser votado o projeto das drogas, do deputado federal gaúcho Osmar Terra. Não envolve descriminalização do consumo; o foco é aumentar as penas para traficantes, reduzir as atenuantes, permitir a internação de dependentes mesmo contra a sua vontade, ampliar o apoio às comunidades terapêuticas. Terra acredita na aprovação. Até pode ser, porque não contraria lá grandes interesses de parlamentares. Se vai funcionar é outro problema.

Enfim, uma semana animada, cheia de som e fúria – o que não significa nada.

O tempo passa

E, por falar em semana animada, cheia de som e fúria, o ministro Celso de Mello finalmente liberou a versão final de seus votos no Mensalão. Espera-se que o acórdão do Supremo seja publicado nesta semana, abrindo-se então o prazo para eventuais recursos da defesa dos réus. Terminada esta fase, algum dia a Justiça poderá determinar que os condenados iniciem o cumprimento das penas.

Guerra das togas

A discussão entre o ministro Joaquim Barbosa e dirigentes de três grandes associações nacionais de juízes sobre a instalação de mais quatro tribunais regionais federais no país foi estranhíssima por diversos motivos. Primeiro, pelo tom pouco polido, inesperado num encontro de magistrados (Joaquim Barbosa chegou a dizer a um dos presidentes que só se dirigisse a ele quando chamado); segundo, pela declaração do ministro do Supremo de que o projeto de instalação dos TRFs foi aprovado “na surdina” e “de forma sorrateira”.

Como, se as atividades do Congresso são públicas? O projeto entrou em pauta, foi discutido, votado, saiu no Diário Oficial, talvez até tenha merecido espaço nas tevês legislativas, e foi aprovado “na surdina”, de “forma sorrateira”?

Esquisitíssimo. Este colunista não entende do assunto nem tem qualquer opinião sobre a utilidade ou não dos novos TRFs. Mas sigilo na aprovação, isso não houve.

Questão de estilo

E por que a rispidez do ministro com os magistrados? Se houve mera divergência de opiniões, a indelicadeza não se justifica. Se o ministro acha que houve irregularidades no caso, que as denuncie.

Bate-boca não resolve questão alguma.

Os mais iguais

O desembargador Arthur del Guércio Filho, afastado do Tribunal de Justiça de São Paulo pela acusação de pedir dinheiro a advogados, estava sob suspeita desde 2006. O presidente do TJ na época disse que houve denúncias apenas verbais. Se o caro leitor fosse o alvo de denúncias desse tipo, provavelmente não seria afastado, seis ou sete anos depois, e com vencimentos integrais. Perderia o emprego, talvez passasse uns tempos preso; e salário, nem pensar.

Quem mandou o caro leitor escolher uma profissão em que é menos igual que os outros?

Ele é o bom

Nota do colunista Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br):

“O governo da presidente Dilma Rousseff trabalha para ajudar a restaurar a confiança do mercado no conglomerado empresarial de Eike Batista, que atravessa um período de grandes dificuldades. Segundo uma autoridade do Palácio do Planalto, o governo acredita que o principal desafio do Grupo EBX não é financeiro, mas sim de desconfiança perante os investidores”.

OK, OK. Capitalismo bom, esse nosso: quando dá lucro, é do capitalista. Quando dá prejuízo, o Governo entra.

Tomate, nô?

Boa parte do tomate usado na indústria brasileira de molhos e extratos está vindo da China – sim, do outro lado do mundo. O tomate chinês, já processado, viaja 65 dias de trem, navio e caminhão, e chega a Goiás, centro da indústria tomateira, mais barato que o brasileiro, algo como 20%.

Vá lá: o macarrão foi trazido da China, nada mais natural que o molho de tomate também venha de lá.

Família unida

A Comissão Mista de Orçamento já tem presidente: o senador Edison Lobão Filho. Justo: ele, o pai e a mãe têm os salários pagos pelo Orçamento. Édison Lobão é ministro das Minas e Energia, Lobãozinho está no Senado e Nice Lobão, a mãe, é deputada.

Vocação familiar para o serviço público.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.