(*) Ucho Haddad –
No momento em que a política brasileira é refém de um misto de incompetência e descrédito, sem qualquer perspectiva de sair desse cativeiro que açoita a cidadania, escrever sobre Almino Affonso é o melhor dos colírios para os olhos da alma, um sândalo que embala o pensamento, um afago na esperança.
Democrata incorrigível e homem público com letras maiúsculas, Almino é um dos mais importantes políticos da história nacional em todos os tempos. Na verdade, se monumentos existem na política brasileira, com certeza Almino Affonso é um deles e esculpido com o mais preciso cinzel. O melhor de tudo é que esse monumento, que deve ser diuturnamente reverenciado, está vivíssimo e atuante como respeitado andarilho da democracia, papel que nos dias atuais poucos têm capacidade de assumir com tamanha grandeza.
Quando fala de política, Almino Affonso é protagonista de aula magna que chega a anestesiar. E o faz com tanto talento e humildade, que não há quem deixe de admirá-lo. Conversar com esse homem que a nova geração de brasileiros desconhece é sempre um deleite, sendo impossível sair de cada encontro sem uma dose a mais de respeito por alguém que é a essência da liberdade e da boa política. Ao longo de mais de três décadas de jornalismo, poucos foram os políticos brasileiros que me fizeram parar como ser humano. E por sorte Almino me “obrigou” a isso. Parar para ouvi-lo, para absorver seus ensinamentos, para incensá-lo como derradeira referência.
Almino Affonso é um homem público de bravura pacífica e cuja estirpe tornou-se algo escasso e precioso nas plagas verde-louras, o que é lamentável para uma nação que balança em termos de futuro democrático. Equilibrado, justo, profundo conhecedor da matéria e ser humano do mais raro e cobiçado naipe, Almino é, para o meu privilégio, um amigo cuja história me empurra na direção da luta incansável, que me coloca na trilha da crença de que é possível mudar o Brasil. Mesmo que senhor da razão, o tempo é implacável com todos, exceto com Almino, um eterno jovem que é e sempre será uma injeção de ânimo para aqueles que não arredam o pé da trincheira da democracia, da justiça, da coerência.
Neste dia 11 de abril, Almino Affonso completa 84 anos muitíssimo bem vividos e de dedicação à liberdade democrática, à terra natal e aos seus patrícios. Aniversário faz-se todos os dias, a cada instante, pois o renascimento é contínuo. Almino Affonso não é membro da Academia Brasileira de Letras, mas sua invejável história o transformou em imortal. Ouso substituir o “parabéns a você”, o “é pique, é pique”, o “rá-tim-bum” por um sonoro e ecoante “muito obrigado”, o qual repetirei incansavelmente mesmo que em silêncio e à distância.
Alguém como Almino Affonso precisa-se ter, obrigatoriamente, para sempre. Por isso continuo torcendo para que o homem, com a inteligência que o Criador lhe concedeu, descubra o quanto antes a pílula da eternidade, apenas para poucos e excelentes, como é o caso de Almino. Sua humildade é tamanha, que por vezes penso que ele não sabe o quanto representa.
Pessoa ímpar e de dignidade e honradez incomensuráveis, em termos políticos sonha como um menino responsável sobre o cume da experiência e da sabedoria que a vida lhe deu.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista político, cronista esportivo, escritor e poeta.