Reticência nefasta – A morte de Osama Bin Laden, em 2 de maio de 2011, foi o maior êxito dos Estados Unidos na batalha contra a organização responsável pelo maior atentado terrorista da história. O golpe não acabou com a Al Qaeda, mas teve impacto em sua forma de operar. Hoje, dois anos depois, o grupo sobrevive mais como uma base político-ideológica para radicais – com uma estrutura menos centralizada e, segundo especialistas, mais presente em ações no mundo islâmico do que no Ocidente.
Uma série de grupos radicais diz atuar em nome da Al Qaeda no mundo árabe, tanto na Península Arábica quanto no Norte da África. Eles defendem, no entanto, seus próprios interesses. Acredita-se que a base da organização criada por Bin Laden esteja no Afeganistão e no Paquistão, mas seu núcleo perdeu força consideravelmente.
Estima-se que apenas entre 300 e 400 pessoas formem atualmente o centro ideológico da Al Qaeda, enquanto facções de fora do núcleo da organização estariam, segundo especialistas, tornando-se mais fortes. O grupo ainda tem uma liderança central, exercida pelo egípcio Ayman al-Zawahiri, porém sem o carisma suficiente para se sobrepor às facções.
“Zawahiri sempre foi uma figura controversa entre vários não egípcios dentro da organização”, explica Guido Steinberg, especialista em islamismo do Instituto Alemão de Relações Internacionais e de Segurança.
O egípcio, no entanto, consegue se manter como comandante supremo da organização. Líderes de diferentes braços do grupo terrorista estão ligados por juramento a ele, que se sustenta também com base num círculo estreito de aliados de longa data, como explica o jornalista Yassin Musharbash, especialista em Al Qaeda.
“Eles apresentam a imagem da Al Qaeda para o mundo por meio de vídeos e discursos”, diz Musharbash em entrevista à Deutsche Welle. “E isso estabelece sua direção ideológica.”
Aliados espalhados
Segundo ele, fora da sede no Paquistão há também grupos oficiais da Al Qaeda e movimentos ligados à organização em outros países. “Há outras filiais no Iraque, no Norte da África e na Península Arábica”, afirma. “A milícia Al Shabab, que se subordina à Al Qaeda, é muito ativa na Somália. Mas não é a mesma coisa que a próprio Al Qaeda.”
O grupo terrorista agora liderado por Zawahiri é particularmente bem representado na Argélia, no Mali e na Líbia. A atividade terrorista tem crescido no Iraque, onde se acredita que existam aproximadamente mil seguidores da Al Qaeda. Da mesma maneira, grupos islamistas reforçaram sua posição entre os rebeldes na Síria, afirma Musharbash.
“Na Síria há a Frente al-Nusra, provavelmente o grupo jihadista mais importante do momento”, explica o jornalista.
Segundo o especialista, até agora a presença do grupo na Síria não representa qualquer ameaça ao resto do mundo. No entanto, ele alerta que a situação pode mudar com o eventual colapso do regime do ditador Bashar al-Assad. Caso isso aconteça, Musharbash afirma que a Frente al-Nusra poderá cumprir a ameaça de instalar um miniemirado e atacar Israel. “O grupo declarou sua intenção diversas vezes publicamente”, lembra.
Poucos membros, muitos apoiadores
Recentemente, foi desbaratado um plano de atentado contra um trem de passageiros no Canadá. As autoridades locais ligaram os dois suspeitos a facções da Al Qaeda no Irã. Especialistas, no entanto, duvidam da existência de uma presença considerável do grupo terrorista na República Islâmica.
Há apenas estimativas vagas sobre o total de apoiadores da Al Qaeda pelo mundo. Musharbash calcula que o número deve estar próximo de cinco mil pessoas: “Não deve haver mais de dez mil pessoas no mundo que se autodeclaram membros da Al Qaeda.”
Já Guido Steinberg acredita que todas as ramificações da Al Qaeda decidem sua estratégia de maneira independente. Ao mesmo tempo, afirma o pesquisador, muitas das ações são planejadas na sede da organização.
“Em 2010, quase todos os líderes da Al Qaeda, com nomes e posição, apareciam em um vídeo distribuído na época. Eles diziam: ‘Você não precisa mais vir ao Paquistão, não precisa se juntar à organização. Você pode procurar em seu próprio país e ver como você pode organizar atividades terroristas por aí mesmo'”, lembra Steinberg.
Ainda perigoso
O número de ataques da Al Qaeda em países ocidentais caiu significativamente graças ao sucesso das operações americanas antiterrorismo. Isso levou muitos a acreditaram – de forma errônea, segundo especialistas – que o perigo representado pela organização teria sido reduzido.
“A Al Qaeda é centenas de vezes mais ativa no mundo islâmico do que fora dele. Há estudos que mostram que a organização mata oito vezes e meia mais muçulmanos do que não muçulmanos”, conta Mushabarash.
A rede terrorista ganhou um segundo sopro após os desdobramentos da Primavera Árabe. “Ninguém deve subestimar a Al Qaeda”, afirma Mushabarash. “Em situações decisivas, a organização sempre encontra maneiras de se reinventar. E, neste momento, estamos vendo isso acontecer novamente.” (DW)