Discurso matreiro – Quem participou da abertura oficial da Expozebu, em Uberaba, Minas Gerais, por certo acreditou que a presidente Dilma Rousseff está preocupada com o futuro do País. Diante de políticos, autoridades e empresários, Dilma destacou a importância da MP dos Portos, que, segundo ela, aumentará a competitividade do Brasil no mercado internacional.
É importante lembrar que não será com ações isoladas em apenas um setor da economia que a competitividade brasileira dará um salto na direção do futuro. De nada adianta ter portos competitivos se as estradas que levam aos mesmos são caóticas.
Inoperante e dona de visão cada vez mais obtusa, Dilma está preocupada com o seu projeto de reeleição e por isso sintoniza seus discursos na frequência desse propósito. O objetivo da presidente não solucionar o apagão logístico que se alastra pelo País, mas engessar politicamente o governador de Pernambuco, Eduadro Campos (PSB), seu eventual adversário na corrida presidencial de 2014.
A MP dos Portos prevê a transferência da gestão dos terminais marítimos à iniciativa privada, o que faria com que Eduardo Campos perdesse o controle administrativo de uma das principais bandeiras de seu governo, o Porto de Suape, localizado no litoral sul pernambucano.
O segundo objetivo da mesma cajadada presidencial é promover um racha interno no PSB. Com a MP, ganham força e atribuições extras a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Secretaria Especial de Portos, quinhões políticos controlados pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, este último governador do Ceará. Ciro e Cid são integrantes da cúpula do PSB e têm trabalhado contra o projeto presidencial do partido para 2014.
No contraponto, Eduardo Campos reforça seu cacife como candidato com pelo menos quatorze governadores, cujos serão prejudicados com a aprovação da MP dos Portos. Dois desses governadores são do PSB: Ricardo Coutinho, da Paraíba, e Renato Casagrande, do Espírito Santo. Os portos desses três estados serão gerenciados pela iniciativa privada se a Medida Provisória lograr êxito no Congresso Nacional.
Tão complexo enxadrismo político explica um assunto que veio à tona e, em seguida, caiu no esquecimento. A determinação do Palácio do Planalto para que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorasse sindicalistas do Porto de Suape.