(*) Ucho Haddad –
Cá estou a explicar as razões que me levaram a optar pelo “fundraising” como forma de manter o ucho.info no ar e ativo. Essa explicação decorre de preocupação de uma amiga e parceira de lutas de longa data, que gostaria de não ver o ucho.info solicitando a colaboração dos leitores. Compreendo a preocupação, o que só pode ser interpretada como lisonja, mas a decisão foi tomada depois de muita resistência de minha parte. Porém, a realidade que nos foi imposta pelos donos do poder, de forma covarde e rasteira, não deixou alternativa.
Durante doze anos seguidos financiei um projeto que logo nos primeiros meses de vida já dava sinais de que se tornaria uma realidade. Certo de que escolhi o melhor caminho, mesmo com erros cometidos ao longo da jornada, fui convencido por profissionais do mercado financeiro de que o “fundraising” era a melhor saída para manter vivo um veículo de comunicação que se transformou em ferramenta de transformação e de resistência ao totalitarismo, que mais uma vez volta a ocupar a cena do País.
Até essa decisão, tudo foi tentado para custear um jornalismo sério e independente, que leva aos leitores a notícia como ela é, sempre acompanhada por uma análise lógica e coerente dos fatos, pois a democracia exige que enxerguemos além do que está impresso, do que é falado, do que é mostrado à sociedade. Curvar-se à pasteurização de encomenda que a grande imprensa despeja sobre a parcela desavisada da população é no mínimo conivência burra.
É plausível pensar que empresas poderiam anunciar no ucho.info, mas as negativas sempre estiveram na companhia da mesma justificativa. O conteúdo do site é bom e extremamente necessário, mas ninguém quer correr o risco de se tornar alvo de um governo cada vez mais totalitarista e que não mede consequências para alcançar seus objetivos. Em outras palavras, todos querem nos ver guerreando, mas ninguém quer estar na linha de tiro. O que é compreensível. Há anos na alça de mira desses ousados detratores da cidadania e da liberdade, continuamos resistindo bravamente, apesar de todas as dificuldades que se apresentam.
O medo de a proposta de “fundraising” ser mal recebida diluiu-se com o tempo, à medida que os leitores a nossa necessidade e passaram a colaborar de acordo com suas possibilidades. O “fundraising” é uma prática muito utilizada em alguns países, onde setores da sociedade mantêm veículos de comunicação independentes, entre tantos projetos. Uma das alternativas seria cobrar pelo acesso ao conteúdo, mas essa hipótese foi descartada na primeira reunião sobre o futuro financeiro do ucho.info. O projeto inicial não previa esse tipo de cobrança e não será agora que mudaremos de ideia. Até porque, a informação de qualidade precisa ser democratizada.
Não há qualquer obrigação por parte dos leitores em contribuir, mas somente assim será possível manter a nossa independência profissional. Do contrário, a solução será o ponto final. Desistir no meio do caminho de uma luta? Render-se à pressão de governantes que agem de maneira espúria? Mudar de lado e se entregar ao dinheiro imundo? Jamais!
Se por um lado os leitores começaram a compreender a necessidade de se manter veículos de comunicação independentes e com credibilidade, por outro passamos a perceber que nossa proposta nada tem de abusiva, pois muitos pagam por assinaturas de jornais e revistas, que muitas vezes agem de forma tendenciosa ou sob encomenda.
Pelos motivos aqui expostos, lembro que pedir a colaboração dos leitores não configura ousadia ou pequenez, mas, sim, uma atitude verdadeira e transparente de pedir o apoio financeiro dos que enxergam o jornalismo de qualidade como trincheira da democracia. A ideia que lançamos é tão viável, que até a concorrência nos pediu licença para levar a ideia. Humilhação seria vender a consciência, algo que jamais permitirei.
Muito obrigado!
Clique e saiba mais sobre o projeto de fundraising do ucho.info
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, palestrante, escritor e poeta.