Lados opostos – Descontraído, camarada, espirituoso: é assim que o técnico do Borussia Dortmund, Jürgen Klopp (à esquerda na foto), gosta de se apresentar. Piadinhas são comuns nas entrevistas coletivas à imprensa, nestes dias que antecedem a final da Liga dos Campeões, marcada para este sábado (25), no Estádio de Wembley. Esse comportamento faz dele o “queridinho” dos jornalistas e dos torcedores.
O técnico do Bayern de Munique, Jupp Heynckes, é totalmente diferente. Piadinhas em entrevistas coletivas não são com ele, que responde às perguntas de forma calma e metódica e não se permitiu emoções nem mesmo antes do seu último jogo como treinador da Bundesliga, justamente na sua cidade natal, Mönchengladbach.
Nos seus primeiros anos como treinador, Heynckes era visto como uma pessoa temperamental e reservada, uma imagem que melhorou nos últimos anos. Ainda assim, os torcedores não morrem de amores por ele, que também não conta com a simpatia dos jornalistas. Todos, porém, o respeitam.
Tão diferentes e tão semelhantes
Apesar de terem personalidades tão diferentes, no trabalho eles têm muito em comum. Ambos se apoiam num profundo conhecimento futebolístico.
Justamente por causa de seu jeito descontraído, Klopp teve sua competência contestada várias vezes. Mas o sucesso com o Borussia Dortmund provou que ele é um treinador de primeira linha. Já em 2008 ele definiu sua filosofia de jogo: “Futebol com emoção, paixão e garra, mas sem deixar de lado a aplicação e a disciplina tática”. Essa filosofia levou a equipe a dois títulos da Bundesliga, uma Copa da Alemanha e à final da Liga dos Campeões.
Heynckes também é frequentemente contestado, mas os críticos atacam outros pontos. Ele apresenta um futebol pouco moderno, reflexo da sua idade avançada e sua forte teimosia, afirmam. Mas, com a excepcional temporada do Bayern, Heynckes conseguiu calar a boca dos críticos, e seu nome é muito bem visto no exterior, por exemplo, no Real Madrid.
Os dois preparam detalhadamente cada jogo. “Há muitos detalhes para preparar, coisas que quero mostrar aos jogadores”, diz Heynckes, de olho na final em Londres. “Não basta conhecer o Dortmund e saber que jogador joga em qual posição”, argumenta.
Da mesma forma meticulosa, Klopp trabalha com o seu grupo. A análise de vídeos é uma das ferramentas mais importantes, e é usada até mesmo durante os intervalos, como foi o caso na virada dramática por 3×2 em cima do Málaga pelas semifinais. “O jogo é muito rápido, o rival é forte: nessa situação podemos não perceber algo. Trata-se de oferecer uma ajuda aos jogadores”, explica Klopp.
Jogadores escolhidos a dedo
Ambos dão muito valor à personalidade dos jogadores e fazem questão de escolher a dedo os integrantes da sua equipe. Seguindo esse princípio, Klopp conseguiu reunir um time jovem, mas altamente bem sucedido ao longo dos anos.
Esse sucesso tem também outro lado, já que clubes mais ricos se interessam pelos novos talentos. Um caso exemplar é o da jovem estrela Mario Götze, que assinou contratado com o rival Bayern.
Heynckes é confrontado com problemas de outra natureza. Ele precisa transformar um grupo de estrelas numa equipe coesa, em que alguns aceitem também ficar no banco. A harmonia dentro do time é muito importante para ele, que tem natureza avessa a conflitos. Clarence Seedorf, campeão da Liga dos Campeões pelo Real Madrid em 1998 e hoje jogador do Botafogo, define assim o trabalho de Heynckes: “Ele era muito querido como treinador, por isso não combinava com o Real”.
No Bayern, o treinador é um caso de sorte, pois até mesmo o irritadiço Franck Ribéry desenvolveu uma boa relação com ele.
Ponto alto da carreira
“Disciplina toma um grande espaço da nossa vida, é assim em qualquer empresa, é assim no futebol”, descreveu Heynckes sua crença. Em 2007, quando renunciou ao cargo de treinador do Borussia Mönchengladbach, renunciou também a uma indenização e entregou o carro do clube lavado e abastecido, pontualmente.
Já Klopp engana com o seu estilo “amigão”. Ele também aposta em disciplina, aplicação e garra. Só que consegue transmitir sua mensagem de uma forma mais leve, graças à capacidade de contagiar os jogadores com seu estilo motivador.
A final da Liga dos Campeões em Londres será o ponto alto da carreira de ambos os treinadores. Para Heynckes, de 68 anos, pode ser o final brilhante de uma longa trajetória. Para Klopp, de 45 anos, a consagração de um excelente trabalho de renovação à frente do Borussia. (DW)