Mas a vida continua

(*) Carlos Brickmann –

Até ontem (sábado, 25 de maio), caro leitor, acredite, o presidente da República foi Renan Calheiros. A presidente Dilma Rousseff fez uma inadiável viagem à Etiópia, o vice-presidente Michel Temer viajou para levar sua inestimável solidariedade à posse de Rafael Correa, reeleito presidente do Equador, o presidente da Câmara, Henrique Alves, fez importante visita oficial ao Congresso americano. Tudo coincidência, claro; ninguém jamais poderia imaginar que todas essas viagens ao mesmo tempo tivessem sido combinadas para prestigiar o nome seguinte na linha de sucessão, o senador Renan Calheiros, expoente do mesmo PMDB de Temer e Alves, baluarte da base de apoio ao Governo da presidente Dilma Rousseff.

Renan Calheiros é o primeiro presidente da República que assume com três denúncias no Supremo, pelos crimes de peculato, uso de documento falso e falsidade ideológica. Seu sucessor na Presidência do Senado, Jorge Viana (PT), foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral por abuso de poder econômico e está sendo julgado no Tribunal Superior Eleitoral. Pode perder o mandato.

De certa forma, ganha-se tempo: ao assumir, o cavalheiro já está sendo processado. Como diziam os propagandistas do Macaco Tião, anticandidato que teve 400 mil votos para prefeito do Rio, sua vantagem é que já estava preso.

Mas não foque a atenção só no Senado. É injusto. Dois deputados federais, Pedro Henry (PP) e Valdemar Costa Neto (PR) exercem o mandato, embora condenados no Mensalão. Dois outros condenados, João Paulo Cunha e José Genoíno, do PT, ainda por cima fazem parte da Comissão de Constituição e Justiça.

Eles brigam…

O deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, por pouco não impede a aprovação da Medida Provisória dos Portos. O governador fluminense Sérgio Cabral, do PMDB, mandou um recado duro a Dilma: ou o PT apoia seu candidato Pezão, retirando a candidatura de Lindbergh Farias, ou ele trabalhará contra o apoio do PMDB à reeleição da presidente (e, no mínimo, impedirá que o PMDB fluminense lhe dê suporte no Rio).

O deputado mineiro Leônidas Quintão, do PMDB, já reuniu assinaturas mais do que suficientes para uma CPI da Petrobras. Há histórias a respeito da empresa que seria interessante deixar claras – por exemplo, a tal refinaria americana que custou caríssimo e, se vendida, se conseguirem livrar-se dela, vai dar um prejuízo enorme à Petrobras. E daí?

…a gente paga

E daí, nada. Em briga do PMDB com o PT, sempre estão em jogo os grandes valores nacionais. A CPI da Petrobras não nasceu para apurar o caso da refinaria americana, mas como vingança do deputado Quintão, a quem havia sido prometido um ministério e que foi esquecido.

Sergio Cabral gosta de Pezão, mas o que quer mesmo é a garantia de que continua sendo o cacique governista no Rio – ou seja, pode aceitar um candidato de outro partido, desde que não lhe faça sombra. Eduardo Cunha, bem… Eduardo Cunha é Eduardo Cunha. Não há divergência entre PT e PMDB que resista à força pacificadora dos grandes valores nacionais.

Ponto de encontro

Estará Alckmin com Aécio, depois de apoiá-lo para presidente do PSDB, comparecer à convenção que o elegeu e discursar em seu favor? Pode ser, pode não ser: a convenção, diz Alckmin, consagrou a unidade do partido – mas candidatura à Presidência, só no fim deste ano ou no começo do ano que vem. E Serra pode ser candidato, sim; aliás, será certamente candidato a algum cargo. À Presidência, pela terceira vez? “Essa é uma decisão coletiva”. Em verdade, caro leitor, em verdade vos digo, o candidato de Geraldo Alckmin é Geraldo Alckmin.

União? O partido dos tucanos só se une para ficarem todos em cima do muro.

Solução simples…

A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, já sabe como evitar tumultos causados por boatos a respeito do Bolsa Família: vai transmitir torpedos, informações por celular. Os beneficiários do Bolsa Família, naturalmente, todos dispõem de celular.

Se não puderem pagá-lo, ué, que se virem.

…e errada

Sugestão da PM paulista para evitar crimes durante a Virada Cultural, quando diversas atrações, espalhadas pela capital, funcionam dia e noite: que as atrações sejam cercadas por tapumes. Mas, mesmo desidratada pelo prefeito petista Fernando Haddad, a Virada teve neste ano quase mil atrações.

Cadê madeira suficiente para tanto tapume? E que é que fazem os cidadãos que só queiram assistir aos shows quando bandidos armados pularem o tapume e não houver por onde escapar? Não vale dizer que a Polícia estará em cada um dos cercadinhos. Se há policiais para vigiar cada um dos cercadinhos, para que os tapumes?

Pois é

Ontem (sábado), dia 25, comemorou-se no país uma data oficial, instituída pela Lei 12.325/2010. Sente-se, caro leitor, e se apoie firmemente nos braços da cadeira: a data comemorada é o Dia Nacional do Respeito ao Contribuinte (existe!). O IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, liderou a manifestação Simplifique Já – por um sistema de impostos mais simples e justo.

Boa ideia!

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.