Apagando incêndio – É visível o elevado grau de desentendimento de integrantes do governo federal acerca da economia e da crise que começa a preocupar. Depois de o ministro Guido Mantega, da Fazenda, anunciar a redução a zero do IOF para investimentos estrangeiros em renda fixa, o que em tese serviria para conter a alta do dólar, a moeda norte-americana inverteu o movimento de queda que abriu os negócios desta quarta-feira (5) e passou a operar em alta.
Diante da repercussão do fato, que provocou incômodos no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff se apressou em afirmar que o governo não tem “medida nenhuma para segurar o dólar”. Como todo anúncio do governo deve ser interpretado ao revés, essa medida de controle do câmbio existiu e continuará existindo por muito tempo.
Questionada sobre a possibilidade de o governo adotar novas medidas para conter a alta do dólar, a presidnete foi contundente, sem convencer: “Nos não temos medida nenhuma para segurar o dólar. Eu queria informar que esse país adota um regime de cambio flexível”.
Não apenas pelo fato de ser a maior autoridade do País, mas por ainda ser o Brasil uma democracia teórica, Dilma pode dizer o que bem quiser, desde que não exija que o povo acredite em suas palavras. A valorização do real frente à moeda norte-americana ainda funciona como importante arma no combate à inflação, ao mesmo tempo em que prejudica sobremaneira as exportações. Eis a razão para que o governo mantenha uma perna em cada canoa.
Diante da inocuidade da medida anunciada por Guido Mantega na terça-feira (4), não restou alternativa à presidente, que não a de esculpir às pressas uma desculpa, mesmo que minimamente convincente. É no mínimo um ato de irresponsabilidade acreditar que o Brasil pode apostar contra o mercado financeiro internacional, onde o dólar recupera o fôlego na esteira da lenta e contínua retomada da economia dos Estados Unidos.
Como se não bastasse, a falta de credibilidade de um governo paralisado e os péssimos fundamentos da economia brasileira contribuirão para o acirramento da crise econômica, que colocam o Brasil cada vez mais próximo do despenhadeiro. O governo do PT erra enormemente ao centrar esforços apenas no combate à inflação, quando o remédio maior seria a eliminação do processo inflacionário atual. Em outras palavras, os palacianos, preocupados com a reeleição de Dilma, querem combater as consequências, não a causa, que exigiria a adoção de medidas impopulares.