(*) Lígia Fleury –
Eu ouvi o que você disse, Dilma: “devemos condenar e coibir com vigor atos contra o patrimônio público“. Eu não votei em você nem votaria, jamais. Porém, sou obrigada a concordar com essa sua frase – e apenas essa.
Dilma, pense no investimento, a grosso modo, sem licitação – apenas com preço encontrado na internet, ou seja, nenhum desconto ou superfaturamento, para o que seria uma compra no atacado -, de um mobiliário que poderia atender ao aprendizado de 25 crianças:
Carteira escolar – R$ 120,00 x 25 = R$ 3.000,00
Mesa para professor – R$ 240,00
Lousa verde – R$ 1.300,00
Apagador- R$ 5,00
Caixa de giz – R$ 3,00
Salário de professor – R$ 8000,00 por 40 h (chutei baixo no sonho, em se tratando do desprestígio dessa classe)
Total= R$ 12.548,00
Atente ao fato que esse valor não seria diário, semanal, mensal ou anual, pois carteiras duram anos, assim como lousa e mesa, se bem utilizados e conservados. A reposição fica para o giz, o apagador e o salário. Crianças na escola têm a oportunidade de aprender a respeitar pessoas e ambientes, o que nos dá grandes possibilidades para a manutenção correta do mobiliário.
Agora, vamos pensar em cursos de atualização para os professores.
Se for apenas algo pontual como uma palestra para até 1.000 professores, há profissionais extremamente bem qualificados que poderiam cobrar R$ 15.000,00 por esse trabalho. Um profissional fazendo 1000 pensarem!
Caso falemos de curso de 30 horas, poderá encontrá-los por R$ 4. 0000,00 para os mesmos 1.000 professores. Lembre-se que 1.000 professores multiplicam seus saberes para, no mínimo, 25.000 alunos, considerando um professor para cada classe de 25 alunos.
Claro que essa não é a conta real, mas é clara o suficiente para que me entenda. Mais que isso, só desenhando e sou tão péssima em desenho quanto você em sua capacidade gestora.
Agora, quero saber de você: quanto custa uma viagem de sua comitiva para qualquer lugar desse mundo? Quanto custa as roupas que vocês, políticos, vestem? Quanto custa cada jantar que vocês oferecem? Quanto custa cada sessão nos plenários para que sejam aprovadas verdadeiras ofensas à dignidade do povo brasileiro? Quanto custa defender cada ato corrupto dos políticos? Quanto custa a mídia que vocês operam para defender o indefensável?
Consegue fazer a comparação? O investimento na Educação é ínfimo, comparado ao que vocês gastam com bandalheiras. E, diga-se de passagem, é o nosso dinheiro e não o de vocês. Se ao menos tirassem do contribuinte para dar aos menos favorecidos, mas para o próprio bolso é de uma canalhice desmedida!
O brasileiro que trabalha como eu, paga impostos. Se o que eu pago fosse direcionado para o pagamento do professor, do médico, do policial… se o que eu pago fosse gasto pelo governo para o transporte, manutenção de vias públicas…juro que nem me incomodaria. Sério, pode acreditar. Viver em sociedade é isso mesmo, ajuda quem pode e se beneficia quem precisa.
O valor gasto com um único bem adquirido por qualquer um que hoje esteja representando o povo brasileiro, vulgo políticos, é infinitamente maior do que o necessário para salvar essa nação de morrer enlameada, afogada na sujeira que vocês, dirigentes, insistem em fazer.
Calcule um imóvel no valor de cinco milhões de reais – de novo pensei baixo, mas é para facilitar o cálculo- adquirido com o dinheiro do contribuinte para cada político…sabe o que seria possível fazer?
Construir escolas e hospitais, formar profissionais de excelência, propiciar segurança, entre outras coisas.
Sabe quanto custa para qualquer brasileiro a vergonha de ter na presidência do Senado alguém que é a cara da corrupção? Sabe quanto custa para cada brasileiro engolir quem temos na Comissão da Justiça?
Na escola ensinamos que não devemos vaiar, mas sim mostrar ao outro qual o seu erro, sempre em um diálogo respeitoso. Mas não deu! Das duas uma: ou muitos ali não tiveram oportunidade de escola ou todos, absolutamente todos, frequentaram as melhores escolas e se mostraram seres pensantes, críticos e cansados de serem massacrados.
Faço minhas considerações, mas apresento soluções:
– construa prédios escolares como se fosse para sua filha
– valorize os professores- não dê esmola – para que tenham o mesmo padrão de vida dos profissionais melhores remunerados
– invista em qualificação profissional, para que se multipliquem conhecimentos
– cumpra o ECA, garantindo escola de qualidade para todos, o que diminuiria significativamente o gasto com a bandidagem
– mande para cadeia os bandidos que governam esse país- uma fila com começo, meio e fim!
– reduza os ministérios, para que Brasília passe a ser a capital do país e deixe de ser a vergonha de um cabide de empregos
– invista na saúde do brasileiro e não no bolso dos cubanos, de forma que sua filha possa ser atendida em hospitais públicos
– reduza o salário dos vereadores, deputados e senadores, para que entendam o sofrimento de um povo
– combata o crime, começando por tirar o auxílio dado às famílias dos presos – é o mesmo que legalizar a profissão de bandido; como ele não pode “trabalhar”, o dinheiro que ele deixa de roubar por estar preso, é dado à sua família…
– E, por último, mas não menos importante, vá dormir porque o povo acordou.
Foi você mesma quem disse que “devemos condenar e coibir com vigor atos contra o patrimônio público“. Você e sua gangue precisam devolver o patrimônio intelectual dos brasileiros, assim como a dignidade, a saúde, a segurança, a educação. Patrimônio público é isso que vocês tiram do cidadão a cada novo aumento, a cada novo embuste. E o povo está protestando para condenar e coibir os atos de vandalismo que vocês insistem em praticar. Concordamos apenas nisso – condenar com vigor! Saiam da nossa frente!
Completando a lista de investimento – gasto é quando não se tem retorno positivo -, a única coisa que não teria preço seria ver todos os corruptos atrás das grades. Ah! Isso sim seria a certeza do restabelecimento de uma nação.
E agora? Quer mesmo coibir e condenar com vigor atos contra o patrimônio público? Eu quero e já mostrei soluções.
(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.