Doze anos fazendo do ucho.info a trincheira do Brasil e dos brasileiros

    (*) Ucho Haddad –

    Não me lembro de algum dia ter me importado com o próprio aniversário. Nem mesmo na infância, que ficou para trás faz algumas décadas. Na verdade, muitas vezes saí de cena para que o dia fosse normal como qualquer outro. Como de fato é. Outras, nem precisei me dar a esse trabalho, pois estava longe da terra natal, da família e dos amigos. E essa distância durou alguns longos anos. Certa vez, viajando, lembrei-me do meu aniversário um dia depois. Já era tarde e estava menos jovem.

    Mesmo não dando importância a esses detalhes, desde 17 de julho de 2001 passei a cuidar dessa data com especial dose de carinho. Creio que fiz desse dia o meu novo e verdadeiro aniversário. Há exatos doze anos, embalado pelo sonho de ver o meu país melhor, publiquei na rede mundial de computadores, pela primeira vez, o que em seguida viria a ser o ucho.info. Não imaginei que pudesse chegar tão longe, disponibilizando aos brasileiros a notícia como ela deve ser.

    De muitos ouvi que se tratava de uma enorme loucura, que seria engolido pela concorrência, que os poderosos me derrotariam com facilidade. Naquele momento não estava preocupado com essas previsões derrotistas, pois trocara uma vida minimamente confortável no exterior por uma luta incessante pelo Brasil. E no Brasil, o que torna os meandros da luta menos fáceis. Algumas pessoas não demoraram a dizer que cometia uma grande irresponsabilidade. Na sequência muitos repetiram esse discurso. Quanto mais ouvia isso, maior era a confiança em relação à escolha feita. E essa confiança permanece intacta.

    Jamais pensei que o caminho seria fácil, mas em nenhum momento a palavra desistir fez parte do cotidiano. Quando abri mão de um honroso convite para integrar o grupo de trabalho do saudoso embaixador Sérgio Vieira de Mello, o fiz com a certeza de que o Brasil era merecedor da prioridade. Para cá voltei com dois lenços, como sempre, documento e determinação. Com o apoio de amigos indescritíveis, colaboradores notáveis, parceiros inesquecíveis e leitores fiéis consegui transformar o sonho em realidade.

    Ao ucho.info doei muito além do meu máximo, mas acredito que foi pouco. Dediquei-me como se fosse a reza de cada minuto, a derradeira oração. Abri mão de muitas coisas, perdi amores imperdíveis. Coloquei a vida na mira inimiga, ultrapassei a fronteira da insegurança. Sacrifiquei a família, penalizei a convivência com os filhos. Recusei dinheiro fácil e imundo, amealhei tostões suados e castos. Perdi o sono, ganhei a sensação do dever cumprido. Recusei convites, aceitei desafios. Não vi o Corinthians jogar, contemplei a notícia como um gol de placa. Na dificuldade chorei calado, na alegria me permiti ao riso modesto. Ouvi muito porque sempre quis, falei pouco por ser aprendiz.

    Faria tudo outra vez e pelo mesmo motivo. Pelo Brasil, pelos brasileiros. Erraria para acertar melhor, acertaria para errar menos. Trocaria o dia pela noite, atravessaria as madrugadas com palavras. Comeria fora de hora, perderia a hora para não perder a notícia. Fotografaria o presente, aguardaria a imagem do amanhã. Tudo outra vez, sempre para fazer o que sei. Mais uma vez, para sempre repetir o que faço com devoção.

    Escrevi e escrevo demais, quero escrever ainda mais. Vim ao mundo para escrever, dele quero sair escrevendo. Quando isso acontecer, na outra linha travessão, porque o ucho.info há de continuar. Muito obrigado a todos, sem exceção. Muito obrigado a cada um, sempre de coração.

    (*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e cometarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.