O país que bate cabeça

(*) Carlos Brickmann –

1 – Paulo Nogueira Batista Jr., representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional, não apoiou o auxílio do FMI à Grécia. A posição do Governo brasileiro, expressa pelo ministro Guido Mantega, é a favor da concessão do auxílio à Grécia. Quem manda, quem obedece? Mantega, que sempre obedece, nesse caso vai mandar? E Dilma? Alguém a desobedeceu. Quem perde o cargo?

2 – Manifestantes em São Paulo vão à Prefeitura gritar “Fora, Alckmin” e “Fora, Cabral”. Poderiam contar-lhes que o prefeito é Haddad e que Alckmin fica do outro lado da cidade. E que Cabral é governador de outro Estado.

3 – Na denúncia de formação de cartel em São Paulo, para superfaturar equipamentos, a Siemens diz que o Governo estadual do PSDB a informou de que era melhor haver um acerto prévio entre as empresas, para a concorrência fluir bem. O secretário de Transportes do Governo Covas (época dos primeiros acertos denunciados), Cláudio de Senna Frederico, diz que não soube do cartel. Mas completou: “Não me lembro de ter acontecido uma licitação, de fato, competitiva”. Se a licitação não era, de fato, competitiva, por que o secretário a realizou assim mesmo e aceitou o resultado? Terá informado o seu chefe Mário Covas?

4 – Segundo o Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o acerto, iniciado no Governo Covas, estendeu-se no mandato do sucessor Alckmin, e pegou o primeiro ano de Serra, todos tucanos, críticos da corrupção. Muita gente que foi destes Governos, até na área da Justiça, continua no poder. Será ouvida?

Ui, ui, ui

O PSDB paulista divulgou nota informando que quer investigar os fatos, punir os responsáveis e conseguir a restituição do que tiver sido cobrado a mais. Queixa-se do Cade, que não apenas deixaria de repassar informações à Corregedoria de São Paulo como também vazaria dados à imprensa “para produzir efeitos políticos e eleitorais”. OK. Mas desde 2008 esta coluna informa que investigações na Europa mostraram irregularidades nos contratos internacionais com São Paulo.

O Governo agiu rápido na época: sentou-se em cima para abafar o caso.

Sim, não, talvez

Por falar em bater cabeça, o secretário de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho, Sérgio Vidigal, disse que o reajuste do seguro-desemprego, para quem ganha mais de um salário mínimo, passaria de 6,2% para 9%, com a concordância da Casa Civil e do Ministério da Fazenda. O Ministério da Fazenda o desmentiu: nem um tostão acima de 6,2%.

Detalhe: ambos os ministérios fazem parte do mesmo Governo, chefiado pela gerenta Dilma.

Onde está Gilbertinho?

O colunista Augusto Nunes, de Veja, é o autor da descoberta e da pergunta: que é que fazia o chefe da Casa Civil da Presidência, Gilberto Carvalho, numa grande manifestação contra Sérgio Cabral, aliado do Governo petista? Ele estava lá, sim, e feliz: veja

Para facilitar, ache Gilbertinho em 1m07s, 2m20s, 2m24s. Estaria gritando “Fora, Cabral”?

A ordem é repousar

O Congresso Nacional, que não estava em recesso, continua em recesso após o final do recesso – quer dizer, continua não estando em recesso, já que não havia recesso, mas trabalhar que é bom fica para a semana que vem.

Explicando melhor os estranhos hábitos dos nobres congressistas: por lei, não poderiam entrar em recesso (nome parlamentar das férias) sem votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Não votaram, logo não poderiam tirar férias. Então decidiram suspender as sessões deliberativas (e, com isso, não precisariam temer o desconto das faltas). Não estavam em recesso, mas estavam. No dia 1º o recesso que não era recesso acabou, mas só 37 dos 513 deputados apareceram (o Senado também tinha pouca gente).

Ou seja, o recesso que não havia, mas havia, terminou, mas não terminou. Ou, simplificando, o repouso democrático continua em vigor.

É vendaval

A Transpetro, braço da Petrobras para transporte de combustíveis, sofre um processo bilionário (o valor exato só será calculado mais tarde), acusada de usar há anos a tecnologia criada por um empresário brasileiro sem pagar nada por ela. O empresário é Leo Maniero, presidente da Transpavi-Codrasa; a acusação esbarra em outras empresas e em ocupantes de altos cargos no sistema Petrobras.

A história inteira é contada pelo jornalista Daniel Fraiha em Petronotícias. A Transpetro não se manifestou.

Olhe as lâmpadas!

Daqui a pouco o caro leitor deixará de encontrar no mercado as lâmpadas tradicionais de 150 e 200 watts: já está em vigor a Portaria 1007, do Governo Federal, que aos poucos vai banir as lâmpadas incandescentes, que gastam muita eletricidade.

Prepare-se: de agora em diante, cada vez mais, as opções serão as lâmpadas eletrônicas ou de LED. Ambas são bem mais caras que as comuns, mas duram mais e gastam menos – a longo prazo, portanto, o custo é menor. O problema é encontrar lâmpadas de LED. A Osram passou uma lista de revendedores a este colunista. Nenhum tinha essas lâmpadas; nenhum sabia quando chegariam. (Leia aqui um artigo a respeito do assunto)

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.