De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Autismo político

    (*) Ucho Haddad –

    Como sempre, Dilma, lembro que troco a formalidade do “Vossa Excelência” pela praticidade do “você” para garantir a fluidez do nosso costumeiro colóquio redacional. Além do mais, assim como eu, metade do Brasil está à procura da sua excelência, aquela que Lula disse que você tinha, mas ninguém viu.

    Há dias, Dilma, telefonei para um amigo petista para cumprimentá-lo pelo aniversário. Veja só que espanto! Consegui ter e manter um amigo petista. É verdade que ele é um vira-casaca, mas tudo bem. Para que você entenda, respeitando o seu regionalismo futebolístico, seria como um torcedor do Grêmio vestir a camisa do Colorado ou vice-versa. Paciência!Um dia ele há de recobrar a coerência.

    Esse meu amigo, Dilma, que está bem situado dentro da cúpula do PT, resolveu conversar comigo sobre você. Imagine que esse petista de ocasião desancou para o seu lado. Perguntou ele: “Ucho, é possível acreditar politicamente em alguém que tenta resolver uma crise com José Eduardo Cardozo, Aloizio Mercadante, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, o marqueteiro João Santana e, de quebra, Franklin Martins? Dilma, quem sou eu para discordar de um dos seus muitos companheiros de partido? Gostaria muito que ele não tivesse razão, pois assim o Brasil estaria em situação menos difícil, mas senti-me obrigado a concordar com o amigo neopetista. E confesso que não precisei de qualquer dose de esforço para essa concordância. Resumo da ópera, até mesmo dentro do seu partido tem gente que acredita ser você a “fulanização” do ridículo.

    Dilma, tenho acompanhado seus discursos, sempre recheados de sandices. É compreensível a sua postura desesperada diante da crise, mas não dá para aceitar uma enxurrada de afirmações estapafúrdias. Recentemente, comecei a pensar em você. Com tanta mulher bacana para frequentar o meu pensamento, fui gastar os meus neurônios com você, Dilma. É assim mesmo, cada louco com a sua mania. E quero me livrar dessa loucura o quanto antes.

    Na última semana, você aterrissou em São Paulo com seu entourage para, ao lado de Fernando Haddad, que ainda não tomou posse de fato, anunciar investimentos em mobilidade urbana. Você e Lula entupiram as cidades brasileiras com carros novos, mas só depois que o congestionamento na capital paulista transformou-se em nó cego é que seu governo disponibiliza verbas para a mobilidade urbana. Dilma, você acredita que essa é a sequência lógica? Não teria sido melhor e mais coerente investir antes em mobilidade urbana para, em seguida, deixar a classe média pobretona que vocês inventaram se afogar nas concessionárias de automóveis, enchendo o porta-malas com um carnê impagável?

    Ao longo dos dois anos do seu governo – os outros dois serão de campanha – tenho percebido sua ojeriza ao planejamento. Na verdade, desconfio que você não saiba o significado da palavra, quanto mais o que é. Até outro dia, acreditava que seu governo era refém da incompetência, mas mudei de ideia. Alguém que lhe visitou em palácio deve ter borrifado nos corredores do Planalto o vírus da cretinice. Dilma, preciso revelar que jamais presenciei tantos absurdos governamentais de uma só vez. O seu governo realmente é espantosamente cretino.

    Como se não estivesse satisfeita com o besteirol oficial acionado na maior cidade brasileira, você, dias depois, embarca para a gaúcha Osório e lá se atira nas incongruências discursivas. Dilma, no PT a ordem é não disfarçar a dependência que vocês têm do Fernando Henrique Cardoso. Volta e meia, os petistas (você inclusa) comparam dados atuais com os da era FHC. Dilma, se na política as comparações são imprescindíveis, você deveria comparar o seu governo com o do Lula. Pelo menos em um quesito você venceria: o seu governo tem sido menos bandido.

    O Fernando Henrique está quieto no seu canto, cuidando do fardão da Academia Brasileira de Letras, e você quer convencer a opinião pública de que é melhor do que ele. Dilma, se essa é a sua intenção, sugiro que telefone ao FHC e pergunte onde ele mandou fazer o fardão, pois esse alfaiate dos letrados deve também confeccionar camisa de força para malucos descontrolados. Se você não estiver com alguns parafusos soltos, por certo está de brincadeira.

    Voltando ao seu devaneio em Osório… Quer dizer que a inflação agora está sob controle? Há quanto tempo você não vai ao supermercado? Dilma, no país onde um pastel – guloseima com 90% de vento e 10% de recheio – custa o equivalente a 0,5% do salário mínimo, nenhum governante pode falar em inflação sob controle. Até porque, inflação oficial é coisa para inglês ver. Enquanto a inflação real, aquela do cotidiano, é capaz de fazer o inglês correr.

    Se governos tivessem explicações na literatura médica, certamente diria que o seu é portador de necessidades especiais. Isso porque evito ao máximo usar vernáculos como paralítico e aleijado. Dilma, o seu governo é literalmente paralítico e aleijado, sendo que a única coisa que se movimenta, e em excesso, é o avião presidencial, que leva você aos quatros cantos para balbuciar bobagens. Caso queira me ajudar, gostaria que explicasse como a economia de um país dito emergente pode sobreviver ao caos que Lula e você produziram ao longo da última década. Nem pense em dizer que a culpa não é sua. Você foi o braço direito do Lula – para determinadas coisas, é claro – e na sequência ele lhe apresentou com a garantia da continuidade. E não é verdade que o Lula tinha razão? Você conseguiu dar continuidade à lambança que ele patrocinou enquanto esteve presidente.

    Dilma, apesar das insistentes maquiagens palacianas, a situação brasileira é tão crítica, que os investidores estrangeiros só querem ver o Brasil no cartão-postal. Pense na ode ao ridículo em que se transformou o leilão do trem-bala. Apenas um interessado em despejar bilhões de dólares para tornar-se refém de um governo que não tem voz própria e vive no cativeiro do socialismo chicaneiro que devasta a América Latina. Esse trem, cuja bala só pode ser de festim por conta dos muitos adiamentos, é uma das promessas ufanistas do messiânico Lula, responsável por manipular os fios do ridículo fantoche político em que você se transformou. Imagine, Dilma, se alguém será capaz de investir no Brasil tendo um partido com vocação para quadrilha no comando de tudo. Só mesmo um irresponsável em último grau para cometer uma loucura como essa.

    E por falar em América Latina… Você foi a principal defensora da suspensão do Paraguai do Mercosul, esse grupelho de aloprados comunistas que jazem no túmulo da incompetência, mas agora quer convencer o próximo presidente paraguaio a rever sua decisão de não voltar ao bloco. Dilma, que baita vexame! A sua preocupação em relação ao tema é lógica, mas você deve pagar por esse pensamento tacanho que se faz presente nas suas decisões incompreensíveis. O Paraguai já se aliou a outros parceiros econômicos e, se bobear, em breve pode dar um drible no Brasil, caso você continue desejando factóides sobre a opinião pública. Dilma, sua incompetência é tamanha, que no Paraguai aquele folclore do “cavalo paraguaio” virou “jumento brasileiro”.

    Para não tomar mais o meu precioso tempo, até porque dizia o meu saudoso pai que quando o sujeito é burro peça a Deus que o mate e o diabo que o carregue, creio, Dilma, que o seu problema é autismo político. Você vive em um mundo só seu, que ninguém entende, e quando resolve falar mostra que tem uma visão totalmente fragmentada da realidade. A grande diferença, Dilma, é que com os autistas sempre aprendemos algo interessante, que acrescenta conhecimento à vida. No caso do autismo político, que lhe afeta sobremaneira, o máximo que se consegue é ter pena de alguém como você, que numa mistura de masoquismo com prolapso de sanidade consegue comemorar o caos.

    Enfim, garante a sabedoria popular que cada povo tem o presidente que merece, mas com certeza eu não atirei pedra na cruz para ver você subir a rampa do Palácio do Planalto exibindo o seu andar de John Wayne sem o cavalo. Até a próxima, Dilma!

    (*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e cometarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.