Crime na CBF: parte dos cachês da seleção era desviada com a ajuda do presidente do “Barça”

Caso de polícia – Diziam os mais antigos que determinados assuntos jamais poderiam ser misturados, sob pena de se conseguir acaloradas discussões. Dois desses assuntos são futebol e política, até porque a junção de lamaçais representa a plena decadência moral da humanidade.

Que a CBF jamais foi um mosteiro de frades inocentes todos sabem, mas a cada novo dia surge um escândalo distinto envolvendo a entidade maior do futebol tupiniquim. Desta vez, o imbróglio tem como coadjuvante ninguém menos que o catalão Sandro Rosell (à esquerda na foto), atual presidente do galáctico FC Barcelona, equipe que a peso de ouro contratou o ex-atacante santista Neymar.

A confusão consiste em lavagem de dinheiro, evasão de divisas, elisão fiscal e outros crimes. Parte do dinheiro pago à CBF, como cachê, por seleções para enfrentar o onze verde-louro era desviada para empresas nos Estados Unidos, registradas em nome de Rosell, ex-representante da Nike no Brasil e amigo de Ricardo Teixeira. De acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo”, documentos apontam que as ilicitudes foram cometidas na gestão de Teixeira, a partir de 2006.

A seleção brasileira cobra pelo menos US$ 1 milhão para enfrentar seleções de todo o planeta, não levando em conta a importância do adversário no cenário futebolístico global. Desde 2006, ano do início do esquema, o direito de organização dos jogos da seleção é da ISE, empresa com sede no paraíso fiscal das Ilhas Cayman.

O esquema funcionava da seguinte forma: a partir de cada jogo, eram repassados para a ISE como lucros da partida cerca de US$ 1,6 milhão. Desse total, US$ 1,1 milhão seguia de volta para a CBF como pagamento pelo cachê. Mas o restante – cerca de US$ 500 mil – não era contabilizado para a entidade. Pelo contrato obtido pelo Estado, US$ 450 mil seriam encaminhados para contas nos EUA, em uma empresa de propriedade de Rosell.

No total, o contrato aponta que, por 24 jogos, o valor previsto para o pagamento seria de 8,3 milhões de euros (US$ 10,9 milhões) para a empresa nos EUA. Dividido por 24 jogos, esse valor seria de US$ 450 mil.

Vale lembrar dois detalhes importantes: 1) O presidente do Barcelona foi investigado no Brasil, em 2008, por causa da polêmica que se abateu sobre o amistoso entre Brasil e Portugal, em Brasília, episódio que envolveu empresas fantasmas com sede em propriedades rurais de Ricardo Teixeira. 2) Antes de deixar o comando da CBF e se refugiar em Miami, Teixeira renovou o contrato com a ISE até 2022.

Se as autoridades brasileiras se imbuírem de determinação e cautela, Ricardo Teixeira poderá passar os próximos anos contemplando o nascer do astro-rei de forma geometricamente distinta. Até porque, nos Estados Unidos a lavagem de dinheiro é crime, com direito à dureza da legislação local.