(*) Carlos Brickmann –
Centenas e centenas de milhares de pessoas das mais diversas tendências se manifestaram contra tudo isso que está aí. E obtiveram os seguintes resultados:
1 – O Governo Federal, pressionado, teve de liberar muito mais dinheiro público para as emendas parlamentares. Nos sete meses anteriores, as propostas de interesse direto de Suas Excelências mereceram R$ 1,4 bilhão do Tesouro. Nos primeiros nove dias de agosto, as liberações alcançaram R$ 1,2 bilhão.
2 – O prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, desandou a pintar faixas no chão e a chamá-las de “faixas exclusivas de ônibus”. Paralisou a cidade.
3 – O presidente do Senado, Renan Calheiros, colocou em votação alguns projetos que criam dificuldades à Presidência da República – por exemplo, derrubada da multa de 10% sobre o FGTS em demissões sem justa causa e orçamento impositivo, obrigando o Governo a executar o que o Congresso determinou. Mas, depois de conversar com Dilma, disse que a pauta pode ser alterada. E de que depende a mudança? Renan foi absolutamente claro: “de negociação”.
4 – O Governo tucano paulista, enfrentando o escândalo do Metrô e dos trens denunciado pela Siemens, reagiu exatamente do mesmo jeito que os petistas acusados em outros casos: disse que há escândalos também fora de São Paulo. E, enquanto não denunciarem todos, os casos paulistas não devem ser investigados?
A voz do povo é um pilar da democracia. Mas é preciso evitar que o ruído das ruas encubra o crescimento silencioso da incompetência e da corrupção.
Os novos amigos
Dilma, para não perder posição nas pesquisas, virou amiga de infância do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, e é toda amável com Renan Calheiros. O blogueiro Josias de Souza ouviu “de uma cascavel do PP” a seguinte análise sobre as novas amizades federais: “O apreço da Dilma pelo Renan ficou claro no dia em que ela tentou fazer do Edison Lobão presidente do Senado. Quanto ao Eduardo Cunha, ela não queria vê-lo nem pintado de ouro. Os dois pediam mais diálogo. E ela insinuava que precisavam era de interrogatório. De repente, viraram os três mosqueteiros. Dizem que é altruísmo. Tudo pelo Brasil. Isso costuma dar em CPI.”
Velhos tempos…
Como dizia Fausto Silva, este colunista é do tempo em que Polícia impedia a invasão de prédios públicos. Polícia invadir a Câmara dos Deputados, mesmo para apresentar reivindicações justas, é novidade.
Gente fardada e armada invadir o Congresso para constranger parlamentares eleitos era só na época da ditadura.
…velhos dias
Este colunista é do tempo, também, em que sessão do Supremo era aguardada por quem queria apreciar a inteligência dos ministros, aprender com sua sabedoria e assistir à ação da Justiça. É estranho esperar reunião do Supremo, como a de hoje, para ver se alguém bate em alguém.
Surpreenda-se: STF não era UFC.
De Holanda a Brasília
Não faz muitos anos, Chico Buarque de Holanda dizia que o Brasil falava fino com as potências e grosso com os vizinhos. No Governo Lula, o Brasil falava grosso com as potências e fino com vizinhos como Evo Morales, que fez o que quis sem encontrar reação. No Governo Dilma, como comprova a detenção em Londres do namorado brasileiro do jornalista Glenn Greenwald, do Guardian, que escreveu sobre a espionagem global americana, o Brasil fala fino com todos.
Surpresa antiga
A capacidade de memória dos computadores dobra a cada dois anos. A memória humana parece reduzir-se. Hoje, o mundo se surpreende porque os Estados Unidos fazem espionagem eletrônica em escala global. Na década de 1970, há mais de 40 anos, nos EUA, o senador democrata Frank Church comandou uma comissão que investigou a violação de direitos humanos pelas agências americanas de informação. Já naquela época se soube que a NSA, National Security Agency, a mais discreta das entidades de espionagem, monitorava comunicações em escala global, decifrava códigos de Governos estrangeiros, tinha verbas muito superiores às da CIA.
Um romance do início da década de 1990, O Punho de Deus, de Frederick Forsyth, já tinha como fio condutor a interceptação pela NSA de uma conversa telefônica no Iraque de Saddam Hussein. E mostrava, há mais de vinte anos, a colaboração entre os serviços secretos americano e britânico.
A dança dos números
O governador paulista Geraldo Alckmin, PSDB, está feliz: a pesquisa Sensus lhe dá 37% de aprovação, enquanto o prefeito paulistano Fernando Haddad, PT, tem 17%. No Rio, o prefeito Eduardo Paes, PMDB, foi atingido pela baixa popularidade de seu companheiro de partido, o governador Sérgio Cabral: tem 19% de aprovação (Cabral, 15%). No Paraná, o tucano Beto Richa festeja aprovação de 67%. Mas talvez Richa festeje mais pelos adversários que não tem (a principal é Gleisi Hoffmann, do PT, se resolver arriscar o cargo de ministra) do que pelos números. Um ano antes das eleições de 2010, Serra tinha 36%, contra 17% de Dilma, 14% de Ciro, 12% de Heloísa Helena, 3% de Marina.
Deu no que deu.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.