Se a Casa Branca revelar o conteúdo da suposta espionagem, o Palácio do Planalto desmorona

Por um fio – No ucho.info faz-se jornalismo de corpo e alma e com vocação já comprovada. Por isso abominamos o jornalismo de encomenda que tem como porto seguro evidências e conjecturas. Jornalismo se faz a partir de dados concretos, assim como na Justiça uma condenação deve ser precedida por provas.

O caso da suposta espionagem de que foram vítimas a presidente Dilma Rousseff e parte dos seus quase quarenta ministros continua no campo da especulação. Nesta quinta-feira (5), um renomado e badalado jornalista disse que são grandes as evidências da espionagem, o que tem provocado mal estar no centro do poder.

Considerando que neste site não se faz jornalismo de encomendo e muito menos se tergiversa, vamos aos fatos. Essa “estória” da espionagem já passou dos limites e assim como o “Siemensgate” está a um passo de cair na vala do esquecimento. Antes que isso aconteça, faz-se necessário considerar alguns fatos.

O núcleo duro do poder, instalado no Palácio do Planalto, nem de longe é vulnerável a esse tipo de bisbilhotice, mesmo considerando o poderio norte-americano no campo dos recursos tecnológicos. E a explicação é muito simples: os integrantes do grupo “VIP” palaciano usam um sistema de comunicação à parte, que tem como base um satélite venezuelano. As conexões são seguras e realizadas mediante o uso de senhas ultrassecretas.

Alegar que um organograma com a foto de Dilma é prova da espionagem norte-americana mostra o grau de amadorismo do jornalismo brasileiro. Um organograma como o que foi apresentado na reportagem do Fantástico qualquer adolescente minimamente esperto faz de olhos fechados. Os supostos documentos que embasam a denúncia não tiveram a autenticidade comprovada e por isso o caso deve continuar sendo tratado como “estória”. Fora isso, o principal arquivo em poder de Edward Snowden foi revelado com muito atraso. Ou o ex-técnico da National Secutiry Agency sofre de ausência de massa cinzenta ou desconhece política internacional.

Admitindo-se a hipótese de que a espionagem ianque tenha de fato ocorrido, esperar que o governo norte-americano apresente por escrito uma justificativa convincente, além de se retratar publicamente, é excesso de inocência. O melhor que os palacianos podem fazer é deixar o assunto de lado, pois se a Casa Branca decidir vazar o conteúdo da eventual espionagem o Palácio do Planalto desaba.

De chofre a questão é muito simples. O embaixador norte-americano Thomas Shannon deixará Brasília na sexta-feira (6) após três anos e meio no País. Shannon foi escolhido para assumir a representação diplomática dos EUA por causa de dois assuntos de interesse da Casa Branca.

O primeiro deles, de caráter político, era estreitar as relações com o país que lidera o socialismo latino-americano. O segundo, eminentemente comercial, era tentar recolocar a Boeing no projeto de reaparelhamento da Força Aérea Brasileira, que recentemente aposentou sua frota de caças. Quem transita na área da Defesa sabe que a opção do governo brasileiro pelos franceses Rafale é marcada por detalhes obscuros, os quais podem mandar o PT pelos ares. O ucho.info acompanhou de perto o processo e conhece os pontos de vulnerabilidade.

Como se fosse pouco, o governo dos Estados Unidos possivelmente já tem informações fidedignas sobre a venda de urânio brasileiro ao governo do Irã, cujo fim específico não é pacífico, mas produzir uma bomba nuclear. Diferentemente do que garantem as autoridades de Teerã.

Em outras palavras, é bom o governo brasileiro aposentar esse factóide de última hora, porque na política inexistem inocentes, como sempre afirmamos. E não é só no Brasil que a política é terreno proibido para tolos. Na esteira desse detalhe, que a parcela amestrada da imprensa deixe de fazer o ridículo papel de rês ao pé da manjedoura, porque esse comportamento é no mínimo ridículo.

O ucho.info não está a defender o governo de Barack Obama, pois esse não é o nosso papel. Apenas defendemos a tese de que uma denúncia deve ter provas e não pode estar calcada em evidências. Enquanto o governo brasileiro não provar o que fala, essa será mais uma história da carochinha.