Dois e dois – A política brasileira é de tal forma previsível, que chega a avançar na seara do empirismo. Na edição de segunda-feira (9), em matéria sobre a exploração excessiva por parte do governo das denúncias de suposta espionagem norte-americana, o ucho.info afirmou que no caso da Petrobras não causaria surpresa se surgisse, a reboque da xenofobia, um movimento para tentar cancelar o leilão do Campo de Libra, na camada pré-sal da Bacia de Santos (SP).
O governo por si só já deu sinais de que não assumirá esse papel, mas acionou sua tropa de choque no Senado para iniciar o processo. Marcado para o próximo dia 21 de outubro, o leilão de Libra recheia os discursos de muitos integrantes da base aliada, em especial dos partidos de esquerda. A temeridade está no fato de que até agora a tal denúncia de espionagem não foi comprovada e baseia-se em documentos vazados por Edward Snowden, cuja autenticidade não checada.
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), é um dos que defendem o cancelamento do leilão, que o ministro Edison Lobão afirma que está mantido. “É muito provável que a espionagem tenha recolhido informações estratégicas sobre esse campo, informações que outras empresas não têm e que apenas as empresas americanas teriam” afirmou em discurso o senador do Distrito Federal.
Na mesma linha de raciocínio segue pó senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), para quem o leilão está sob suspeita depois das denúncias de que a Petrobras teria sido espionada pelo governo norte-americano. Randolfe, que já solicitou à presidente Dilma o cancelamento do leilão, disse que o seu partido estuda recorrer ao Supremo Tribunal Federal para cancelar a hasta.
“Esse leilão já está viciado. É um leilão de cartas marcadas. Não há como ele ser realizado”, declarou o senador amapaense, que apontou “latente interesse econômico” na questão.
Pedro Simon (PMDB-RS) também considera “prudente” o adiamento. Em pronunciamento, o senador peemedebista lembrou que os termos do edital já vinham sendo criticados por muitos especialistas, mesmo antes da denúncia de espionagem. Simon ressaltou o fato de que o potencial do Campo de Libra, entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris, desperta “a atenção e a cobiça” de empresas de vários países. Para ele, empresas norte-americanas poderiam ser favorecidas com a interceptação de informações da Petrobras.
“Isso que está acontecendo é realmente dramático. O que está parecendo é que a espionagem do governo dos Estados Unidos é usada como pirataria, inclusive para favorecer as empresas americanas”, declarou o gaúcho Pedro Simon.
Presidente da CPI da Espionagem, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) falou sobre a insegurança gerada pelas denúncias, lembrando ser impossível manter o leilão, a não ser que haja “absoluta certeza” de que dados do campo de Libra não foram vazados.
A grande questão é que por enquanto a espionagem continua no campo das suposições, sendo temerária qualquer afirmação palaciana positiva em relação ao caso. É preciso lembrar que as denúncias de espionagem, ainda sem comprovação alguma, transformaram-se em palco de uma disputa entre os Estados Unidos e a Rússia.
Até o momento não se o conteúdo do material que está em poder de Snowden, que permanece sob a guarida do russo Vladimir Putin, um ex-espião da KGB que esbanja destreza ao manusear informações, delas fazendo evento muito maior do que realmente é. Como a veracidade das informações usadas como base para as denúncias ainda não foi confirmada, o máximo que se deve fazer é adotar cautela.
Contudo, o que o governo brasileiro vem insistindo em fazer é dar como líquido e certo o que até por enquanto é especulação. Não se trata de desconsiderar a possibilidade de a espionagem ter ocorrido, mas é preciso prudência no trato de assunto tão sério e delicado, que se não for confirmado poderá provocar estrago diplomático considerável. (Com informações da Agência Senado)