ONU confirma uso de armas químicas na Síria, mas impasse persiste

Nó cego – Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon disse nesta sexta-feira (13) que o relatório produzido por especialistas deve confirmar o uso de armas químicas pelo regime do ditador sírio Bashar al-Assad contra os rebeldes.

“Acredito que o relatório será um relato esmagador, esmagador, de que as armas químicas foram usadas, embora eu não possa dizer isso publicamente antes de receber o relatório”, declarou Ban Ki-moon durante reunião na ONU.

Ciente de que o conteúdo do relatório é lamentavelmente positivo, o secretário-geral acusou Assad de ter cometido “muitos crimes contra a humanidade”. O documento, produzido pela equipe de inspetores de armas químicas da ONU, liderada pelo sueco Ake Sellstrom, que será divulgado na próxima semana, apontará se o arsenal químico de Bashar al-Assad foi utilizado no ataque de 21 de agosto nos subúrbios da capita síria, Damasco.

O presidente Barack Obama estava decidido a atacar militarmente a Síria, como forma de dar uma resposta ao sanguinário e covarde de al-Assad, mas acabou convencido pelo colega russo Vladimir Putin a aderir a um plano que propõe a devolução do arsenal químico pelo governo de Damasco. Os Estados Unidos, apoiados por potências ocidentais, afirmam que o governo sírio é provocou a de 1.429 pessoas no incidente, dentre elas 400 crianças.

Há dias, Vladimir Putin chegou a admitir que no caso de confirmação do uso de armas químicas por Assad um ataque seria inevitável. Apoiador de primeira hora do ditador sírio, Putin foi informado, pelo próprio al-Assad, sobre o uso de parte do arsenal químico no ataque ocorrido nos arredores da capital. A partir de então surgiu a ideia de propor a Bashar al-Assad a entrega do armamento químico do governo à comunidade internacional, o que foi prontamente aceito. Até porque, o ditador sírio sabe que seu blefe em relação à Casa Branca duraria no máximo até a divulgação do relatório da ONU, apesar de al-Assad alegar que as armas químicas foram utilizadas por seus adversários, tese que prosperou rapidamente no Kremlin.

Essa manobra coordenada foi mais uma tacada de mestre do ex-espião da KGB, Vladimir Putin, que deu novo drible em Obama, que aguardava a divulgação do relatório da ONU para atacar a Síria, mesmo sem a autorização do Conselho de Segurança.

Sem dúvida alguma um ataque militar à Síria, mesmo que limitado em termos de alvos e de tempo, não é a melhor solução, mas é preciso confiscar o arsenal químico que está nas mãos de Bashar al-Assad e, acima de tudo, tirá-lo do governo. A grande questão é que os rebeldes que há mais de dois anos lutam contra o governo não são pacíficos. Insuflados pela Irmandade Muçulmana, que após perder espaço no Egito migrou para a Síria, os rebeldes, em caso de saída de al-Assad, podem transformar o país em um república islâmica radical. É bom lembrar que a Irmandade Muçulmana, que reza pela cartilha de um Estado de exceção baseado na fé, é financiada pelo rico governo do Qatar.

Contudo, o enigma maior em relação à Síria está em quem assumirá a responsabilidade de coordenar a transição para uma suposta democracia, palavra que na maioria das vezes soa utópica quando o assunto é Oriente Médio.