Muita calma – A decisão do Tribunal Superior Eleitoral de rejeitar a criação da Rede Sustentabilidade, partido da ex-senadora Marina Silva, era esperada, apesar de ir contra os pareceres dos ministros em relação ao Solidariedade, eivado de denúncias de fraude na coleta e confirmação de assinaturas.
Muitas foram as críticas a Marina Silva após o resultado do TSE, mas é preciso considerar alguns fatos em relação à ex-senadora e ex-ministra. Quem arranca das urnas 20 milhões de votos em uma eleição presidencial não pode ser desprezado. Uma coisa é não compactuar com a linha ideológica de Marina Silva, outra é ignorar seu potencial eleitoral. Marina é, pelo menos por enquanto, a maior ameaça à reeleição da presidente Dilma Rousseff. E isso é um considerável patrimônio político se considerarmos o perigo que corre a democracia brasileira.
Qualquer cenário político-eleitoral deve ser analisado com o cérebro e isenção de ânimos, pois só assim é possível chegar a uma conclusão próxima da realidade. Analisar com o fígado só interessa aos que sonham em manter o status quo.
No caso de Marina Silva ser candidata à presidência, cresce sobremaneira a chance de segundo turno, o que causa muita preocupação à cúpula do Partido dos Trabalhadores. A maioria dos petistas estrelados não aposta todas as fichas na presidente em cenário de dois turnos, até porque as mentiras que camuflam a economia brasileira são como os pratos que um malabarista põe a girar diante da plateia. Em algum momento um deles há de se espatifar no chão. E caindo o primeiro, o segundo é uma questão de tempo.
Marina tem o DNA do Partido dos Trabalhadores e por certo não é a candidata dos sonhos de boa parte do eleitorado brasileiro, mas no momento em que a democracia corre riscos cada vez maiores, a melhor estratégia é tê-la como parceira. Na maioria das batalhas é preciso ter aliados, sempre tomando cuidado ao escolhê-los. Até mesmo um ex-adversário pode ser crucial na busca da vitória. O que não se pode é imaginar que mudar o Brasil será tão fácil quanto levantar do sofá da sala e acionar o interruptor para apagar ou acender a luz. Os brasileiros ficaram dez anos de braços cruzados e não podem querer resolver o enorme problema em apenas uma eleição.
Resumindo, política é enxadrismo e é preciso saber jogar, inclusive com direito a blefes e muito sangue frio, pois em algumas situações dormir com o inimigo é a garantia da sobrevivência.