Tragédia anunciada – Um novo naufrágio vitimando refugiados ocorreu na costa italiana nesta sexta-feira (11). O acidente aconteceu no Mar Mediterrâneo próximo à Sicilia, no sul da Itália, informaram as autoridades locais. De acordo com a Marinha italiana, a embarcação, com imigrantes principalmente da África Subsaariana, afundou entre a Tunísia e a ilha da Sicilia.
A agência de notícias Ansa informou que há mortos e que pelo menos duzentas pessoas estão ao mar. Embarcações da Marinha e helicópteros estão na região prestando socorro às vítimas do naufrágio.
Na última semana, um barco, com aproximadamente quinhentos refugiados, afundou próximo à Ilha de Lampedusa e deixou mais de 300 mortos. Foi uma das piores tragédias em uma longa e triste crise de imigração, marcada por uma legião de refugiados que deixa o norte da África a bordo de pequenas e frágeis embarcações, na esperança de se livrar da miséria e de regimes ditatoriais.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, pelo menos 32 mil pessoas chegaram ao sul da Itália e a Malta somente neste ano. Do total, dois terços desses imigrantes ilegais pediram asilo. Além da África Subsaariana, os refugiados são da Síria e do Egito, países que há muito enfrentam grave crise política. No caso da Síria, a guerra civil comandada pelo ditador Bashar al-Assad fez com que crescesse assustadoramente o número de imigrantes ilegais na Europa e no Oriente Médio.
Vucumprà: da miséria na África ao sonho do eldorado na Europa
O processo migratório de refugiados não é uma novidade na Europa, em especial na Itália, que convive com essa dura e triste realidade há décadas. Nos anos 80, a Itália foi invadida por refugiados que deixaram a Tunísia em busca de uma vida melhor. Diante da dificuldade com o idioma italiano e na condição de ilegais, os tunisianos foram logo apelidados de “vucumprà”, um neologismo comum e depreciativo decorrente da pronúncia distorcida de “vuoi comprare?”, frase incansavelmente repetida nas estações de metrô nos dias de chuva, quando os refugiados vendiam capas e guarda-chuva a preços muito módicos.
No verão, durante as férias, os “vucumprà” invadem as praias, onde vendem boias, colchões d’água, biquinis, cangas, bonés, colares e outras bugigangas. No restante do ano, se espalham pelas grandes cidades italianas, vendendo produtos falsificados, principalmente cópias de bolsas de grifes famosas.
É preciso que, mesmo com muito atraso, as autoridades internacionais adotem medidas para evitar tragédias como as recentes ocorridas na costa italiana, pois é inadmissível que pessoas morram de forma trágica apenas porque sonham com uma vida minimamente melhor. Na verdade, a condição de ambulante em qualquer país da Europa, assim como no resto do planeta, não é a mais digna e agradável. Qualquer mudança para evitar mais mortes deve começar no combate a ditadores irresponsáveis, que às custas da miséria da população enriquecem e dão as costas à dignidade humana.
O caso da Síria é o exemplo mais visível na atualidade de um ditador inconsequente e desumano que mata apenas e tão somente para se manter no poder. Mais de cem mil pessoas morreram na guerra civil comandada por Bashar al-Assad, que tão cedo não deixará a presidência do país.