Mortalidade infantil cai, mas está longe das metas da Organização das Nações Unidas

(Associated Press)
Tragédia conhecida – A evolução da mortalidade infantil no mundo pode ser vista de forma otimista ou pessimista. Em 1990, ainda morriam 12 milhões de crianças abaixo dos 5 anos de idade. No ano passado, segundo estimativas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o número caiu para 6,6 milhões de pessoas.

Considerando os respectivos números de nascimentos, a mortalidade infantil caiu mais de 40%. Mas o lado triste da história é que esses números ficam aquém dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. Segundo a meta da ONU, até 2015, a mortalidade infantil deveria ser reduzida em dois terços.

Por esse motivo, a organização internacional de defesa dos direitos da criança Save the Children alerta para mais esforços na luta contra a mortalidade infantil. Em relatório apresentado nesta quarta-feira (23), em Londres, a ONG constatou sucessos e fracassos.

Progresso significativo no Níger

Ben Hewitt, diretor de campanha de Save the Children, afirmou que se registrou “um progresso significativo”. Numa só geração, ressalta, o número de mortes de crianças caiu pela metade. “Mas agora temos de nos perguntar como podemos continuar a progredir e realmente impedir todos os casos evitáveis de mortalidade infantil”, disse Hewitt à Deutsche Welle.

O relatório com o ranking de 75 países emergentes e em desenvolvimento levou em conta não somente o declínio no número de mortes. Também os esforços para igualar as chances de sobrevivência de crianças provenientes de famílias ricas e pobres e de meninos e meninas foram levados em consideração. Foi avaliado, ainda, se um país persegue uma estratégia sustentável contra a mortalidade infantil.

De acordo com o estudo divulgado nesta quarta-feira, a República do Níger, na África Ocidental, foi quem mais progrediu mundialmente na redução da mortalidade infantil desde 1990. Embora ali ainda morram, segundo dados da Unesco, anualmente 114 em cada mil crianças abaixo dos 5 anos de idade, em 1990 ainda morriam 326 crianças.

O resultado é ainda mais notável porque perpassa por todas as camadas de renda. No entanto, na comparação com países como a Alemanha, o estudo mostra o quão ainda é preciso melhorar: no papis europeu, morrem quatro em cada mil meninos e meninas.

Maioria das mortes é evitável

Também países como Libéria, Ruanda, Indonésia e Madagascar obtiveram boas posições no relatório. Alguns países alcançaram até mesmo a pretendida meta de redução da mortalidade infantil em dois terços. As últimas posições do ranking são ocupadas por Haiti, Papua-Nova Guiné e Guiné Equatorial. As principais causas para que, em média, uma criança continue a morrer a cada cinco segundos são desnutrição, pneumonia, malária, diarreia e nascimentos prematuros. Segundo a ONG Save the Children, a maioria dessas mortes pode ser evitada com os métodos mais simples.

Há vários fatores que explicam por que alguns países são mais bem-sucedidos que outros na luta contra a mortalidade infantil. A estabilidade política e fatores ambientais, como as secas, por exemplo, têm um grande impacto. Segundo Hewitt, é especialmente importante o fato de os respectivos países perseguirem uma política de saúde pública direcionada. Esse é o caso, por exemplo, da Etiópia, onde o governo treinou dezenas de milhares de ajudantes de saúde.

Com vista aos Objetivos do Milênio, o país do leste africano está no caminho certo. Outros países também mostraram que uma maior possibilidade de sobrevivência é possível de ser alcançada mesmo sem um forte crescimento econômico. “Quando os países investem em saúde e na ajuda à alimentação de mães e crianças, registramos uma evolução muito positiva”, diz Hewitt.

Martin Dawes, porta-voz do Unicef para a África Central e Ocidental, acredita que a responsabilidade seja principalmente dos respectivos governos, que devem disponibilizar fundos suficientes para os cuidados de saúde.

“Há um consenso de que os governos devem utilizar 15% de seu Produto Interno Bruto para a saúde”, explica Dawes em relação à situação na África. Segundo ele, somente a Libéria e o Togo o fizeram. “Num país como a Nigéria, que gasta somente 4% de seu Produto Interno Bruto com a saúde, observamos grandes problemas”, lamenta o porta-voz.

O especialista da Unicef também vê a Etiópia como exemplo para outros países na região. “O modelo etíope traz a assistência de saúde para muito mais perto das pessoas”, elogia Dawes. Segundo ele, os ajudantes qualificados vêm diretamente aos afetados. Eles podem reconhecer os problemas, cuidar da vacinação em todo o país e educar sobre a malária.

Objetivos são interdependentes

Apesar dos êxitos, ainda há muito a fazer, na opinião de Hewitt. De acordo com o ativista, não se pode aceitar que a mortalidade entre recém-nascidos tenha aumentado. O número de meninos e meninas, que morrem logo após o nascimento, atinge atualmente 44% de todos os casos de morte entre os menores de 5 anos. Além disso, o abismo crescente entre pobres e ricos como também entre o campo e a cidade ameaça os atuais avanços em muitos países.

Na opinião do especialista em direito da criança, isso mostra que os diversos Objetivos do Milênio são interdependentes. Dessa forma, os dois objetivos – redução da mortalidade infantil e melhorar a saúde das gestantes – estão interligados. Também a luta contra a fome e a miséria e a exigência pela igualdade entre os gêneros seriam importantes, diz Hewitt.

Organizações como Unicef e Save the Children já têm planos para o período após 2015. Na opinião de Hewitt, as metas de desenvolvimento mobilizaram muitas forças – mesmo que os objetivos não tenham sido alcançados. “As condições após 2015 podem ser ainda melhores. E elas oferecem uma oportunidade histórica de erradicar totalmente a mortalidade infantil evitável até 2030.” (DW)