Por que o feriado?

(*) Lígia Fleury –

Uma das insatisfações da época do Império era o alto grau de analfabetismo. Veio a República, comemorada dia 15 de novembro. Feriado Nacional. Proclamação da República!

Não sei quantos alunos têm o conhecimento sobre a data, mas sei que aproveitarão o feriado, de uma maneira ou de outra; não haverá aula. Feriado!

Claro que esses dias, essas paradas obrigatórias em nossas vidas proporcionam lazer, descanso, muitas vezes merecido. Mas a pergunta é se os alunos sabem o que se comemora. Por que a República?

Analisando os índices de analfabetismo desde os anos de 1800, é bastante óbvio que houve uma queda enorme de analfabetos em nosso país. Porém, o fato que me intriga, é que evoluímos absurdamente em tecnologia, em descobertas da saúde que prolongam a nossa vida, com qualidade, falamos e praticamos a consciência ecológica- deveríamos ser mais atuantes nessa área também-, temos acesso às mais variadas informações pelos múltiplos canais de comunicação e, com todo esse progresso, ainda ousamos falar em ANALFABETISMO!

Um país se faz por seus cidadãos, se mede pelo conhecimento da sociedade. É inadmissível que de 1800 até hoje ainda tenhamos quase 10% da população acima dos 15 anos analfabeta. “Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada nesta sexta-feira (27), em 2012, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 8,7%, o que correspondeu ao contingente de 13,2 milhões de analfabetos”.

Por certo muitas escolas debatem sobre datas importantes da nossa história com seus alunos. Aqui, o que quero mostrar, é que desde a Proclamação da República, enfrentamos o problema de uma sociedade pouco letrada. O país cresceu, a população multiplicou-se e, com isso, os problemas aumentaram. Não há como ser diferente.

O absurdo da situação é errar o mesmo erro, é manter o problema por tantos anos. A qualidade do ensino, do que se ensina, precisa ser revista e modificada imediatamente. O significado de alfabetização merece ser compreendido por todos.

A solução para o problema que se arrasta há séculos está sim na formação do professor, na qualidade insatisfatória que se dá à grande maioria dos cursos de Pedagogia e outras graduações, ao como se avalia o aprendizado dos alunos, ao tempo dedicado à leitura, ao prazer de aprender.

Então, por que o feriado? As escolas devem apresentar essas datas importantes aos seus alunos e fazer um paralelo entre problemas e soluções entre tantas décadas. Conscientizar a população de que há soluções e que todos devemos agir, é obrigação de todos nós.

O feriado seguinte ao do dia 15 de novembro, em algumas cidades do país, certamente trará outras reflexões, mas que também nos remete à questão da Educação. E lanço aqui um desafio: alguém duvida que o dia 20/11 terá mais mídia que o analfabetismo?

É importante ressaltar que ambos são assuntos essenciais a serem refletidos e solucionados. Ambos tratam a exclusão social pelo viés da Educação. A própria Educação exclui.

O Brasil precisa acordar para solucionar essas injustiças sociais causadas, principalmente, pela displicência na própria Educação. O maior responsável pelas injustiças educacionais é o próprio sistema educacional. Isso não seria, no mínimo, inaceitável?

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.