Forçando a barra – Querem os condenados à prisão no processo do Mensalão do PT ser tratados no cárcere como seres superiores, acima do bem e do mal, muito além das leis. Na edição de sexta-feira (15), após a expedição dos mandados de prisão, o ucho.info alertou os leitores para que se preparassem para o “dramalhão rocambolesco” que surgiria na esteira da decisão do Supremo Tribunal Federal de mandar os mensaleiros para a cadeia.
Ex-presidente nacional do PT e deputado federal licenciado, José Genoino Neto acionou seu advogado, Luiz Fernando Pacheco, para que requeira ao STF o direito de cumprir a pena em prisão domiciliar, com base em alegada fragilidade da saúde. O petista submeteu-se recentemente a cirurgia para corrigir dissecção da aorta, mas não teria recebido alta médica se algum risco tivesse à saúde. Para quem cerrou o punho minutos antes de se entregar à Polícia Federal, em São Paulo, e afirmou que estava pronto para cumprir nova ordem de prisão, Genoino está fraquejando antes da hora.
A imprensa brasileira, ávida por um furo de reportagem em assunto que, sabe-se, está carente de novidades, noticia fatos de maneira pontual, sem ao menos dar à sociedade o contraponto do fato. José Genoino sentiu-se mal durante o voo entre São Paulo e Belo Horizonte, em aeronave da Polícia Federal, sendo prontamente atendido por médicos na base aérea da Pampulha, na capital mineira. O mesmo ocorreu na madrugada de domingo (17), já no presídio da Papuda, no Distrito Federal, sendo atendido por médico particular providenciado pela família.
Faz-se necessário destacar que hipertensão arterial é passível de tratamento com o uso frequente de medicamentos, o que Genoino já deveria estar fazendo por causa da cardiopatia que o levou à mesa de cirurgia, obrigando a se licenciar da Câmara dos Deputados. Há no sistema prisional brasileiro milhares de presos com as mais diversas doenças, inclusive hipertensão, que esperam meses, talvez anos, para uma consulta médica. Essas crises de hipertensão devem se repetir com certa frequência, até porque o script de novela mexicana prevê essa cena.
O ex-presidente do PT, partido que flanou no populismo barato, é um privilegiado por ser atendido por médico particular, mesmo no cárcere, mas não pode querer que o cumprimento da pena que lhe foi imposta pelo Supremo se dê em presídio com as mesmas características do Hospital Sírio-Libanês, centro médico de excelência a que os políticos brasileiros recorrem com frequência vil, sempre financiados pelo suado dinheiro do contribuinte.
Disposto a transformar-se em vítima de uma injustiça que não existiu, José Genoino abusa da vitimização nas declarações que faz chegar à imprensa. “Estamos presos em regime fechado, sendo que fui condenado ao semiaberto. Isso é uma grande e grave arbitrariedade, mais uma na farsa surreal que é todo esse processo, no qual fui condenado sem qualquer prova, sem um indício sequer”, disse Genoino, de acordo com seu advogado. “Sou preso político e estou muito doente. Se morrer aqui, o povo livre deste país que ajudamos a construir saberá apontar os meus algozes”, completou.
Esses discursos ufanistas têm vida curta e devem durar mais alguns dias, pois ao PT não interessa manter o caso na mídia. Prova maior desse desinteresse foi a maneira como reagiram ao fato o agora lobista Lula e sua sucessora, Dilma Vana Rousseff. Adotaram o silêncio obsequioso, pois acima da liberdade dos “companheiros” estão os interesses do partido.
Talvez uma temporada na prisão sirva para que os petistas descubram que o Brasil está a anos-luz de ser o país de todos, inclusive dos presidiários. Afinal, uma sentença condenatória pode privar a liberdade do indivíduo, mas jamais há de ceifar sua cidadania.
