Audácia vermelha – O Partido dos Trabalhadores e sua militância têm adotado ao longo dos últimos anos um comportamento dual em relação ao processo do Mensalão do PT e seus desdobramentos, em especial no caso da prisão dos condenados por corrupção e outras figuras penais.
Tão logo o escândalo veio à tona, por meio das denúncias do então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), o PT correu para negar os fatos que foram se confirmando com o passar dos dias. Na sequência surgiu em cena o agora lobista Lula, presidente à época, para pedir desculpas ao povo brasileiro pelo ocorrido. Enquanto isso, na CPI dos Correios e em outras comissões investigatórias instaladas no Congresso o PT operou fortemente nos bastidores para evitar que a verdade viesse a lume. Muitas provas foram varridas para debaixo do tapete, até porque a base aliada foi obediente, mas o resultado da CPI foi um considerável avanço em termos de combate à corrupção. E isso os brasileiros devem à coragem de Osmar Serraglio, deputado federal pelo PMDB do Paraná e relator da CPI dos Correios, que resistiu bravamente à pressão palaciana.
O tempo passou e os petistas passaram a negar a existência do escândalo, alegando que o episódio não passou de um equívoco na contabilidade de campanha do partido. Acontece que o publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha de Lula de 2002, reconheceu ter recebido parte dos honorários em conta bancária aberta em paraíso fiscal. Silvio Pereira, então secretário do PT e acusado de envolvimento no esquema, não apenas admitiu a operação palaciana ao fazer um acordo com o STF, mas disse que o objetivo do partido era arrecadar R$ 1 bilhão. No contraponto dessas declarações, Delúbio Soares, atualmente preso, apelou à bazófia e disse que o escândalo acabaria como piada de salão.
Quando o processo do Mensalão do PT apontou na reta de julgamento do Supremo Tribunal Federal, Lula começou a circular nas coxias do poder com o objetivo de postergar a ação da Corte, mas o tiro saiu pela culatra. Mais recentemente, o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, petista de carteirinha, reconheceu a existência do esquema de cooptação de parlamentares por meio de mesadas.
Encerrada a mais polêmica fase da Ação Penal 470, marcada pela prisão dos mensaleiros, muitos foram os petistas que bradaram contra a decisão da corte, como se os protagonistas do escândalo de corrupção devessem ser tratados como inocentes monges tibetanos. Foram todos flagrados em crimes de corrupção e outros quetais, por isso merecem o tratamento que lhes é dispensado pela Justiça.
Na tarde desta terça-feira (19), o senador Jorge Viana (PT-AC) ocupou a tribuna do Senado para lançar críticas ao Supremo. Viana disse que a transferência dos presos para Brasília foi desnecessária e serviu apenas como espetáculo midiático. O senador petista usou como base declaração do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que alegou que as transferências são descabidas e que o retorno dos condenados aos estados de origem consumirá dinheiro público. Considerando o volume de dinheiro que foi desviado dos cofres federais para alimentar o criminoso esquema palaciano, o que será gasto com a transferência dos presos deve ser encarado como troco. Engrossando o rol dos que reconhecem, de forma direta ou indireta, a existência do Mensalão do PT, Jorge Viana disse que líderes do seu partido agora acertam as contas com a Justiça.
É importante salientar que os condenados na Ação Penal 470 não têm direito a qualquer regalia por conta do histórico de vida. Devem cumprir as respectivas penas de acordo com o determina a Lei das Execuções Penais, em consonância com o que determina o conjunto condenatório proferido pelo Supremo. A transferência dos presos para Brasília aconteceu de acordo com o que estabelece a legislação vigente. Sem contar que na sessão plenária do STF, na última quinta-feira (14), ficou decidido que a competência acerca do cumprimento das penas caberia à Vara das Execuções Penais do Distrito Federal. Sendo assim, transferir os presos para a capital dos brasileiros não teve qualquer ilegalidade. Acontece que os presos em questão querem ser tratados com regalias típicas de celebridades, quando na verdade deveriam limitar a própria insignificância ao uniforme prisional.