Soltando as rédeas – O entendimento histórico alcançado entre o grupo de seis potências mundiais e o Irã foi recebido nesta segunda-feira (25) com otimismo pelos europeus, que acenam com um relaxamento das sanções já em dezembro, com o rechaço de Israel e com o apoio, ainda que comedido, até das monarquias árabes do Golfo – donas de uma desconfiança histórica em relação ao regime dos aiatolás.
O acordo preliminar foi selado no final de semana entre Irã e o chamado Grupo 5+1, que reúne os membros com poder de veto no Conselho de Segurança e a Alemanha, e prevê o congelamento do programa nuclear iraniano durante seis meses e é tido como um teste de intenções antes de um pacto duradouro, que culminaria no encerramento das retaliações ocidentais a Teerã.
A União Europeia já analisa a suspensão de parte de suas sanções. “O trabalho já começou para implementar esse primeiro passo do acordo”, disse o porta-voz do bloco para assuntos internacionais, Michael Mann. “Pode ser dezembro ou janeiro, depende de quanto tempo levar o processo legislativo.”
O ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, confirmou que as sanções podem ser derrubadas já no próximo mês ou, no máximo, em janeiro. “É preciso que seja tomada uma decisão da Europa como um todo. Deve demorar algumas semanas até que um acordo parcial seja feito”, disse.
O entendimento alcançado em Genebra permitirá que o Irã mantenha exportações de petróleo nos níveis atuais, o que levou a uma queda no preço da commodity nesta segunda-feira. As autoridades de Teerã confirmaram que, como parte do acordo, já foram liberados cerca de 8 bilhões de dólares em ativos de contas iranianas nos Estados Unidos que estavam congelados há décadas.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, qualificou o acordo como um “erro histórico” e alegou que o pacto transformará o mundo “num lugar muito mais perigoso”. O chanceler britânico, William Hague, saiu em defesa das negociações, nas quais seu país teve papel-chave.
“Em um assunto dessa complexidade, e dado que qualquer pacto diplomático valioso envolve compromissos das duas partes, este acordo está destinado a ter críticos e opositores”, afirmou Hague. “Mas se não tivéssemos aproveitado a oportunidade de chegar a esse acordo, seríamos culpados de um grave erro.”
Merkel aguarda passos concretos
Em tom parecido, a chanceler federal, Angela Merkel, declarou, através de um porta-voz, que considera o acordo de Genebra um “passo importante”. Porém, ressaltou a necessidade de que o Irã faça sua parte e “elimine todas as dúvidas” da comunidade internacional sobre seu programa nuclear.
No Oriente Médio, o acordo foi bem recebido por Iraque, Síria, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Kwait e Catar, a maioria com poucas palavras. O Qatar, por exemplo, limitou-se a dizer que o pacto é um “passo importante para a proteção da paz e a estabilidade da região”.
Segundo observadores, as monarquias do Golfo temem que o acordo de alguma forma alimente as ambições regionais do Irã, rival de longa data. O presidente americano, Barack Obama, porém, fez questão de tranquilizar os aliados.
“A determinação dos EUA continuará firme, assim como nosso compromisso com nossos amigos e aliados, especialmente Israel e nossos parceiros do Golfo, que têm boas razões para serem céticos em relação às intenções do Irã”, afirmou.
Nos EUA, Obama defendeu o acordo, mais foi criticado por deputados e senadores opositores e líderes de organizações judaicas. Além disso, viu resistência até entre seus partidários. Líder dos democratas no Senado, Harry Reid disse que já trabalha para levar à votação mais sanções ao Irã. (Com agências internacionais)