Manobra de ocasião – O ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla inglês) americana Edward Snowden tem a intenção de pedir asilo político permanente ao Brasil, país que já lhe negou anteriormente tal concessão, segundo uma carta obtida e publicada nesta terça-feira (17) pelo jornal “Folha de S. Paulo”. Em troca, ele colaboraria com eventuais investigações sobre as ações da NSA.
Após Snowden ter revelado que a presidente Dilma Rousseff, vários de seus ministros e até a Petrobras foram monitorados pelos Estados Unidos, o Brasil encabeçou diversas iniciativas globais para regular a espionagem através da internet. Ainda não há resposta oficial do Planalto à carta, mas, segundo fontes ouvidas pelo jornal, o asilo não será concedido.
Em “carta ao povo brasileiro”, Snowden afirma que “emergiu das sombras da NSA” para “compartilhar com o mundo” as provas de que alguns governos estão montando um “sistema de vigilância mundial”.
Ele afirmou, também, que decidiu denunciar essas práticas por estar convencido de que “os cidadãos merecem entender o sistema em que vivem” e que a “reação de certos países” diante de suas denúncias, entre os quais cita o Brasil, “foi inspiradora”. Na carta, Snowden se refere à forma como o Brasil foi afetado pela espionagem norte-americana.
“A NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa própria ‘segurança’ – em nome da ‘segurança’ de Dilma, em nome da ‘segurança’ da Petrobras –, revogaram nosso direito de privacidade e invadiram nossas vidas e fizeram sem pedir permissão à população de nenhum país”, destaca o texto.
O ex-técnico da CIA acrescentou também que “hoje, se você carrega um celular em São Paulo, a NSA pode rastrear onde você se encontra, e faz isso 5 bilhões de vezes por dia com pessoas no mundo inteiro”.
Discussão no Senado
Por meio de uma campanha na internet que permite a assinatura de petições, Snowden pretende obter o apoio da população brasileira para ir ao país. De acordo a ONG Avaaz, que hospeda em seu site a campanha, “se Snowden estivesse no Brasil, seria possível que ele pudesse fazer muito mais para ajudar o mundo a entender como a NSA e aliados estão invadindo a privacidade de pessoas no mundo todo”.
Nesta semana, Snowden enviou carta à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), uma das relatoras da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem, no Senado, em que se dispõe a colaborar com o governo brasileiro caso haja “possibilidades legais” para tal.
Nesta terça-feira, a CPI se reúne para discutir o tema e a possibilidade do asilo brasileiro a Snowden está na pauta. Em julho, o assunto chegou a ser debatido na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado. Por unanimidade, os parlamentares recomendaram a concessão de asilo ao ex-consultor.
Snowden reiterou sua disposição de “ajudar quando isso for apropriado e legal”, mas afirmou que “o governo dos Estados Unidos trabalha arduamente para limitar” sua “capacidade de fazê-lo”. O técnico em informática disse também que as “manobras” dos Estados Unidos “chegaram ao ponto de obrigar a aterrissar na Europa avião do presidente da Bolívia, Evo Morales”, sob a suspeita de que Snowden estava a bordo.
Segundo o ex-analista da NSA, “até que algum país” lhe conceda asilo permanente, “o governo dos EUA vai continuar interferindo” em sua “capacidade de falar” e denunciar. O jornalista Glenn Greenwald, ex-colunista do jornal britânico “The Guardian” e um dos “contatos” de Snowden, publicou muitos dos documentos revelados pelo antigo empregado da NSA e que mora no Rio de Janeiro.
“Se o governo brasileiro agradece as revelações, seria muito lógico protegê-lo”, declarou Greenwald à “Folha de S. Paulo”.
Ainda na Rússia
Ao obter refúgio temporário na Rússia, em junho deste ano, Snowden pediu asilo a uma dezena de países, entre eles o Brasil, mas o governo Dilma se limitou a comunicar que “não tinha intenção de responder”, o que em termos diplomatas equivale a uma recusa.
Dois meses depois, documentos entregues por Snowden a Greenwald demonstraram que até as comunicações pessoais de Dilma eram espionadas, o que levou a presidente a cancelar uma visita de Estado que faria a Washington em outubro.
As relações entre Brasil e Estados Unidos esfriaram desde então, e Dilma decidiu promover um debate na ONU com o objetivo de estabelecer normas globais que impeçam a espionagem pela internet.
Além disso, a governante brasileira convocou uma conferência global para março do próximo ano em São Paulo, a fim de que o assunto seja debatido por chefes de Estado e governo, empresários, acadêmicos e movimentos sociais. (Com agências internacionais)