Passe livre – Os ativistas do Greenpeace que estavam detidos desde setembro na Rússia, após um protesto contra a exploração petrolífera no Ártico, começaram a deixar o país na quinta-feira (26).
A Justiça russa retirou as acusações contra o último dos ativistas, e o governo russo começou a emitir vistos para que os 26 integrantes estrangeiros do grupo pudessem deixar o país, entre eles a bióloga brasileira Ana Paula Maciel. Ela declarou ao jornal Folha de S. Paulo que viaja nesta sexta-feira para Porto Alegre, onde mora a sua família.
Depois de obter o visto de saída, o ativista sueco-americano Dimitri Litvinov, de origem russa, foi o primeiro a deixar São Petersburgo num trem em direção a Helsinque, na noite de quinta-feira.
Lei de anistia
Após serem presos na ação de protesto no Ártico, em setembro, os 26 ativistas estrangeiros e os quatro russos haviam sido acusados de pirataria, com uma pena máxima de 15 anos de prisão. Posteriormente, a acusação foi atenuada para vandalismo, que prevê no máximo sete anos de prisão.
Várias personalidades internacionais, como Madonna, Paul McCartney e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, haviam apelado pela libertação dos ativistas.
Depois de dois meses de prisão e o pagamento de uma fiança, os 28 ativistas e dois jornalistas foram postos em liberdade condicional, mas estavam impedidos de deixar o país. Esse impedimento, no entanto, desapareceu após a anistia aprovada pelo Parlamento russo na semana passada.
A lei aprovada no último dia 18 de dezembro poderá beneficiar 25 mil pessoas. O texto original determinava que apenas os condenados por vandalismo e desordem pública pudessem ser contemplados, mas emendas introduzidas pelos deputados estipulam que processos em curso por acusações semelhantes possam ser arquivados antes de realizado o julgamento ou anunciado um veredicto.
Dessa forma, como a lei não vale somente para pessoas condenadas, mas em alguns casos também para processos em andamento, os ativistas do Greenpeace puderam ser beneficiados. Nesse contexto, as duas integrantes da banda punk Pussy Riot foram libertadas na segunda-feira (23).
Críticas de Putin
Em encontro com escritores transmitido pela TV russa nesta quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, atribuiu “motivos nobres” aos ativistas do Greenpeace presos pelos russos em setembro último. Putin acresceu, no entanto, que alguns ativistas da organização ambientalista teriam tentado escalar a plataforma e que outros teriam “atacado” a guarda costeira russa. “Isso não foi correto”, disse Putin.
Em sua entrevista coletiva anual, Putin afirmou que a anistia não foi elaborada especialmente para os ativistas do Greenpeace, mas que eles se beneficiaram dela. Ao mesmo tempo, o líder russo deixou claro que seu país não pretende, em absoluto, suavizar as punições para ações contra as empresas que trabalham na plataforma continental russa.
O presidente russo criticou a ação dos ativistas do navio Arctic Sunrise e afirmou que algumas ações ambientalistas têm objetivos desonestos, como chantagem e extorsão das companhias. “É inaceitável que as pessoas transformem [a defesa da natureza] num instrumento de autopromoção e de fonte de renda.”
Jogos de Sochi
Além da brasileira, a anistia aprovada pelo Parlamento russo para comemorar o 20° aniversário da Constituição do país beneficiou ativistas de 17 outros países, que estavam presos desde 19 de setembro por tentar se acorrentar a uma plataforma petrolífera no Ártico.
Antes de deixar São Petersburgo, Dimitri Litvinov, o primeiro dos ativistas a deixar a Rússia, declarou: “Eu nunca me arrependi daquilo que fiz, nem uma só vez, nem na prisão nem agora. Eles não nos jogaram na prisão por aquilo que fizemos, mas por aquilo que defendemos. A indústria do petróleo no Ártico tem medo de opiniões divergentes, e acertadamente!”
Para observadores, a anistia aprovada pelo Parlamento russo é uma tentativa de limpar a imagem internacional da Rússia antes dos Jogos Olímpicos de Inverno, que se iniciam em fevereiro na cidade russa de Sochi. (Com agências internacionais)