Vada a bordo, cazzo

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09O comandante é o último a abandonar o navio? Nem sempre: o comandante Francesco Schettino foi um dos primeiros a cair fora, quando o seu Costa Concordia começava a naufragar. O capitão Gregorio de Falco, da Guarda Costeira, indignou-se e mandou Schettino voltar ao navio. Vada a bordo, cazzo! – bradou. Schettino, cazzo, fingiu que não ouviu. Os passageiros que se danassem.

Mudemos de assunto. O presídio de Pedrinhas, no Maranhão, teve rebeliões sucessivas, o crime organizado tomou conta de tudo e promoveu assassínios com requintes de crueldade. O ministro da Justiça, esquecido de que seu partido está no poder há onze anos, reclama que o sistema penitenciário brasileiro é “medieval”, e diz que preferia morrer a ficar preso. Ele, a propósito, é o chefe do Departamento Penitenciário Nacional, que deveria cuidar do assunto.

Os rolezinhos se multiplicam e ameaçam transformar-se numa crise política – e numa crise se transformarão assim que alguém perder a cabeça e for para o confronto físico. E a segurança da Copa, que está sendo discutida, de que forma será equacionada?

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sabe perfeitamente o que fazer: como o comandante Schettino, abandonar o barco o mais rapidamente possível, antes que o naufrágio se complete, e deixar claro que tê-lo ou não como ministro da Justiça não faz a menor diferença. Cardozo descansou nos feriados de fim de ano, tirou férias entre 2 e 6 de janeiro, e, a partir de sexta, tira mais oito dias de folga. Volta dia 26.

E até agora, no Governo, ninguém lhe gritou Vada a bordo.

Woodstock à brasileira

O comentário é do jornalista e apresentador Marcelo Tas:

“O garoto amava os Beatles e os Rolling Stones, lutou contra a Ditadura… Hoje defende Roseana. O bagulho é doido, né ministro Zé Eduardo?”

Coincidência

Ah, os nomes! Pois não é que o recordista de gastos de dinheiro público, com o tal cartão corporativo do Governo brasileiro, também se chama Schetino?

Me engana…

Não leve a sério essa história de que o PMDB está disposto a deixar o Governo Federal por não ter conseguido o sexto ministério. O PMDB é coerente: sempre no Governo. Se a oposição vencer as eleições, o PMDB continua no Governo como se nada tivesse acontecido. A oposição pode ir para o Governo, os governistas podem ir para a oposição, mas o PMDB continua onde sempre esteve. Os peemedebistas, pessoas educadas, de fino trato, sabem que é feio morder a mão que os alimenta.

E, considerando-se que Dilma Rousseff é favorita na disputa, é mais fácil o Fluminense ser rebaixado do que o PMDB mudar de lado.

…que eu gosto

A autorização para que o Governo paulista concedesse à iniciativa privada cinco aeroportos regionais foi publicada no Diário Oficial da União por erro burocrático da Secretaria de Aviação Civil. O mesmo erro, certamente, foi responsável pela alegria do ministro Moreira Franco após divulgar as concessões.

Fica combinado assim. Espalhando isso todo mundo fica contente, até a presidente.

Constatação

Comparando-se as mesmas classes sociais, analisando hábitos, perfis e fotos, está claro que os franceses comem melhor que os brasileiros.

O rolo do rolê

O Carnaval cai em março. A Semana Santa, início oficial do ano, na segunda metade de abril. O Brasil já estará no clima da Copa. A campanha eleitoral começa em 5 de julho, coincidindo com a última semana da Copa. Em seguida, há as discussões sobre o desempenho do Brasil, quem foi bem, quem foi mal, as festas, se for o caso, ou as críticas ferozes. O horário gratuito começa em 15 de agosto. Quem é mais conhecido leva vantagem (e quem é mais conhecido do que Dilma?)

Na TV, tem mais tempo o candidato da maior aliança- Dilma sai com vantagem de novo. Para o PT, quando mais curta e menos intensa for a campanha, melhor. Aí aparecem os tais rolezinhos, que podem gerar tumultos. Alguém poderia explicar a este colunista por que tantos petistas apoiam os rolezinhos?

Abrindo o flanco

O ministro Joaquim Barbosa saiu de férias. Mas deve receber do Supremo onze diárias de viagem, no período de 20 a 30 de janeiro, no valor total de pouco mais de R$ 14 mil.

Explicação: Barbosa interromperá suas férias neste período para fazer duas palestras, em Paris e Londres. Como será então uma viagem a trabalho, faz jus às diárias. Tudo legal, sem dúvida. Mas pega bem receber onze diárias para fazer duas palestras, uma delas de 30 minutos?

Barbosa não tem medo de ataques: saiu de férias sem assinar a ordem de prisão do deputado João Paulo Cunha, já foi grosseiro com um repórter e com pelo menos três ministros do Supremo, não informa quando (e se) determinará a prisão do mensaleiro condenado Roberto Jefferson, agora recebe diárias de viagem a trabalho mesmo depois de ter dito que tiraria férias de 10 a 30 de janeiro. Não deve haver nada errado. Mas, como ensinavam os antigos romanos, mestres de nosso Direito, à mulher de César não basta ser honrada: é preciso também parecer honrada.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.