Castelo de cartas – Logo após o anúncio da decisão da Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) de cobrar pelo estacionamento no maior entreposto de distribuição de alimentos da América Latina, começou correr entre os permissionários que tudo não passava de mais um imbróglio com a chancela do governo federal, uma vez que o órgão faz parte do Ministério da Agricultura.
A alegação para a cobrança era que o trânsito no local seria melhorado e o número de vagas aumentaria com a implantação de um projeto da vencedora da licitação, a empresa C3V (inicialmente batizada como consórcio Pôr-do-Sol). Quem frequenta o CEAGESP com regularidade sabe que o trânsito piorou sobremaneira depois que a C3V assumiu o controle do estacionamento. A situação ficou tão ruim, que refletiu nas vendas realizadas no local. A C3V não conseguiu agir de forma planejada e o CEAGESP virou uma enorme bagunça, onde grandes caminhões brigam por espaço com carros de passeio. Os monitores de trânsito, que não passam de desavisados com um colete alaranjado e um apito, não sabem o que fazer diante do caos que se instalou no local.
Na última sexta-feira (14), um violento protesto contra a cobrança de estacionamento, com direito a veículos e prédios incendiados, obrigou a direção do entreposto a suspender as operações no final de semana, decisão que refletiu no abastecimento da maior cidade brasileira, São Paulo. Que foi às feiras livres no final de semana, em São Paulo, encontrou produtos não tão frescos e com os preços nas alturas.
Contudo, comenta-se nos bastidores dos varejões da CEAGESP que o local é reduto de petistas da região de Osasco, cidade da Grande São Paulo e base política do mensaleiro João Paulo Cunha. Não há como comprovar essa acusação que corre de boca em boca, mas o fato é que há algo estranho nessa operação de cobrança de estacionamento no local. Além disso, os permissionários mais ousados afirmam que a Companhia de Concessões em Circulação Veicular – C3V foi criada especificamente para vencer a licitação que dá o direito de explorar o estacionamento da CEAGESP durante oito anos.
Gato no telhado
Acontece que no conselho de administração da C3V participam pessoas que nutrem ligações umbilicais com a cúpula do Partido dos Trabalhadores, como, por exemplo, Jair Antonio Bilacchi, ex-presidente da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil – PREVI.
Em dezembro de 2013, a Procuradoria Regional da República da 2ª Região (PRR2) se manifestou contrariamente à absolvição de seis ex-diretores da Previ em processo por gestão temerária do fundo de pensão do Banco do Brasil. Entre os envolvidos estão Henrique Pizzolato, o ex-diretor de marketing do BB e condenado no processo do Mensalão do PT, e Jair Antonio Bilacchi, ex-presidente da PREVI e agora conselheiro da C3V
Para o Ministério Público Federal (MPF), o crime foi cometido na aplicação de R$ 150 milhões da Previ no fundo de investimento (decisão judicial arbitrária impede o
ucho.info de citar o nome do mesmo) para o leilão de privatização da Telebrás, em 1998.
O procurador regional da República Mário Ferreira Leite requereu ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) a reforma da sentença, uma vez que a gestão temerária ficou clara em acordo verbal para a Previ aportar recursos no mencionado fundo de investimentos, gozando de isenção não documentada de taxas de administração e performance.
Relações escusas
Como sabem os leitores do ucho.info, o caixa do Mensalão do PT não foi alimentado apenas com recursos desviados do Visanet, mas por dinheiro escuso aportado por empresários interessados em se aproximar do governo e realizar determinados negócios com a máquina federal.
No caso do Mensalão do PT, um dos abastecedores do caixa gerenciado por Marcos Valério tinha o controle do fundo de investimento acima mencionado. Oportunista conhecido, o banqueiro em questão precisa se aproximar dos fundos de pensão para manter rodando seus negócios no setor de telefonia. Para isso, utilizou campanhas publicitárias superfaturadas de duas operadoras de telefonia celular para abastecer o caixa do Mensalão do PT.
Não foi por acaso que Henrique Pizzolato, em seu depoimento à CPI dos Correios, disse que cumpria ordens do petista Luiz Gushiken, então homem forte do primeiro governo Lula. Gushiken, como se sabe, detinha o controle dos fundos de pensão das estatais. Após a denúncia, Pizzolato acabou abandonado pelo PT.
Se as autoridades que apuram o protesto na CEAGESP forem a fundo nas investigações, abrindo os olhos para os desdobramentos e conexões do caso, certamente a República desaba em questão de horas.