Estica e puxa – Após impor à Rússia as sanções mais duras desde o fim da Guerra Fria, o presidente norte-americano, Barack Obama, convocou nesta terça-feira (18) uma reunião de emergência entre os membros do G7 e da União Europeia para discutir a crise na Crimeia.
Marcada para a próxima semana, a reunião do G7 – grupo que inclui, além dos EUA, a Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Japão e Itália – será à margem de uma cúpula sobre segurança nuclear em Haia e provavelmente contará com a presença de Obama. De acordo com a assessoria da Casa Branca, o encontro focará nos passos adicionais a serem tomados em relação à situação na Crimeia.
Em processo que durou menos de 30 horas, a península no Mar Negro aprovou em referendo sua independência da Ucrânia, foi declarada Estado soberano por Moscou e imediatamente anexada ao território russo, por decreto do presidente Vladimir Putin.
“A Rússia apresentou vários argumentos para justificar o que não é mais que uma usurpação de terras”, disse o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em visita à Polônia. “A agressão terá um preço para a Rússia e o presidente Putin, se eles seguirem o caminho de reivindicações territoriais contra a Ucrânia.”
Os líderes do G7 já suspenderam as preparações para uma reunião do G8, grupo que desde 1998 inclui também a Rússia. O evento, inicialmente marcado para junho, na cidade russa de Sochi, está sendo reavaliado em decorrência da crise na Ucrânia.
“Sancionem toda a Duma”
Após o referendo na Crimeia, tido como ilegal pelo Ocidente, a União Europeia e os Estados Unidos aplicaram uma série de sanções aos envolvidos na separação do território. Washington bloqueou todos os bens e rendimentos nos EUA de políticos ucranianos e russos, entre eles o vice-primeiro-ministro Dimitri Rogozin.
Os europeus tomaram medida similar, além de banir de seu território uma série de parlamentares, militares e outras autoridades russas. “A União Europeia não reconhece nem reconhecerá a anexação da Crimeia à Federação Russa”, afirmaram em comunicado conjunto os presidentes da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman van Rompuy.
As sanções foram ironizadas nesta terça-feira por Putin. “Propomos ao senhor Obama e aos europeus que apliquem sanções contra todos os membros da Duma [câmara baixa do Parlamento russo]”, disse o chefe do Kremlin no discurso em que anunciou a incorporação da Crimeia.
Para a Crimeia ser incorporada oficialmente ao território russo, o acordo assinado por Putin terá de ser submetido à Corte Constitucional do país e ratificado por ambas as câmaras do Parlamento.
Morte na península
Durante seu discurso, o presidente russo negou que o país tenha intenções de invadir a Ucrânia. “Quero que me ouçam: não acreditem naqueles que receiam que, depois da Crimeia, outras regiões se seguirão. A Rússia não quer dividir a Ucrânia. Não precisamos disso.”
Ao reiterar a posição russa de que o novo governo da Ucrânia é ilegítimo, Putin criticou o apoio dos países ocidentais a Kiev, afirmando que o Ocidente “ultrapassou uma linha vermelha”.
“Nos corações e nas mentes do povo, a Crimeia sempre foi e continua sendo parte inseparável da Rússia”, disse o chefe de Estado, sob aplausos dos deputados. “Na Crimeia estão os túmulos de soldados russos e a cidade de Sebastopol é a pátria da Frota do Mar Negro.”
Aumentando a tensão, a Ucrânia acusou a Rússia de matar um de seus soldados numa troca de tiros nesta terça-feira. O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, denunciou a morte – a primeira desde o início da crise na península – como “crime de guerra”.
Estratégia anunciada
Europeus e norte-americanos podem chiar à vontade, mas em pelo menos um quesito Vladimir Putin tem razão: as tais sanções representam muito pouco e têm efeito questionável.
Putin é um gazeteiro determinado e já vinha dando sinais de seu projeto de expansionismo político. O projeto não deve cessar e certamente avançará à sombra das provocações. O primeiro sinal evidente do projeto russo que tem como objetivo desfiar os Estados Unidos surgiu com a concessão de asilo temporário a Edward Snowden, ex-técnico da Ag~encia Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), que revelou detalhes da vasta espionagem patrocinada pelo governo de Washington.
O segundo sinal surgiu quando Barack Obama ameaçou atacar a Síria, sem invasão por terra, caso o ditador Bashar al-Assad não interrompesse o uso de armas químicas contra os rebeldes do país. Os Estados Unidos chegaram a posicionar navios militares no Mar Mediterrâneo, mas Obama foi obrigado a recuar em sua decisão de atacar o território sírio.
Para ficar ainda mais clara a tentativa de intimidação, Vladimir Putin se juntou ao Irã na defesa do governo de Assad. De quebra, o Kremlin anunciou sua disposição de estacionar navios de guerra na costa da Venezuela, Cuba e Nicarágua, três conhecidos adversários da Casa Branca. (Com agências internacionais)