Sem piedade – Não é preciso nenhuma dose extra de inteligência para saber que qualquer material pesado e não flutuante afunda quando está na água. Isso só não acontece quando um determinado objeto foi desenhado com base nas regras da engenharia naval. Isso explica porque um transatlântico, pesando milhares de toneladas, flutua como se fosse de pluma, ao passo que um simples e pequeno prego afunda quando arremessado na água.
Essa introdução serve para classificar como irresponsáveis as informações dos governos da China e da Austrália de que satélites de ambos os países registraram imagens de eventuais destroços do Boeing 777-200 da Malaysia Airlines, que desapareceu no dia 7 de março enquanto cumpria o trajeto entre Kuala Lumpur e Pequim. No caso das imagens do satélite chinês, as autoridades despacharam navios e ao local onde estavam os tais destroços do Boeing, mas descobriu-se que eram partes de embarcações que se desprenderam durante a navegação.
Na quinta-feira (20), autoridades australianas divulgaram imagens de satélite, registradas quatro dias antes, de dois supostos destroços do Boeing da Malaysia Airlines. No mesmo dia, o ucho.info afirmou em reportagem que era preciso redobrar os cuidados no âmbito das informações sobre o paradeiro do avião, porque pedaços da fuselagem de um avião simplesmente afundam em razão do peso. Nesta sexta-feira (21), integrantes do governo da Malásia informaram que destroços do Boeing desaparecido certamente afundaram no momento da eventual queda. Além disso, os envolvidos nas buscas admitiram que os objetos registrados pelo satélite australiano podem ser de contêineres que caíram no mar.
Este site usa “eventual queda” porque não se pode descartar a possibilidade de o avião ter sido sequestrado e levado para algum país da região, a mando de rebeldes que pululam naquela porção do planeta. Afinal, o transponder, transmissor de rádio localizado na cabine de comando que se comunica através de um radar de solo com o controle de tráfego aéreo, foi propositalmente desligado.
O cuidado redobrado que cobramos na matéria de quinta-feira se deve ao farto de que a famílias dos 239 passageiros e tripulantes devem ser respeitadas na dor e na expectativa. A cada nova informação renasce a esperança em relação ao desfecho para um caso que continua flanando entre as nuvens do mistério. Em uma situação como a do desaparecimento do Boeing da Malaysia Airlines, qualquer especulação deve ser duramente condenada, porque ninguém tem o direito de brincar com o sentimento alheio, em especial em momento de dor e questionamentos.
Para que os leitores compreendam o que ora defendemos, atitude igualmente responsável marcou o acidente com o Airbus da TAM, no Aeroporto de Congonhas, em 17 de julho de 2007. Na ocasião, veículos de comunicação passaram a travar uma disputa insana pela audiência, o que levou os jornalistas a buscarem informações supostamente exclusivas, sem que fosse respeitado o momento de dor dos familiares das 199 vitimas. Informações naquele momento, como a temperatura que atingiu a aeronave depois da explosão, serviram para impulsionar a dor das famílias. Fora isso, notícias mentirosas sobre as causas do acidente foram veiculadas de forma irresponsável, sem levar em conta a ética que o exercício do jornalismo sempre exige.