Ação devastadora – O petróleo cru que vazou no Golfo do México após a explosão da plataforma Deepwater Horizon, em abril de 2010, está provocando anormalidades no desenvolvimento de espécies marinhas. Uma das consequências é a má-formação cardíaca em peixes como o atum-rabilho e o atum-amarelo.
A conclusão faz parte de um estudo da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, da sigla em inglês), divulgado na última terça-feira (25) na publicação Proceedings of the National Academy of Sciences. A data também marca os 25 anos do pior vazamento de petróleo da história do país, quando o navio Exxon Valdez despejou 41 milhões de litros de petróleo em uma área selvagem no Alasca.
No caso do desastre ambiental de 2010 no Golfo do México, mais de 4 milhões de barris de petróleo foram despejados ao longo de 7 mil quilômetros da costa norte-americana. Apesar das dimensões visíveis do acidente, estima-se que metade de todo o material tenha sequer chegado à superfície. No entanto, o acidente coincidiu com a época de reprodução dessas espécies, que depositam ovos na superfície oceânica.
A pesquisadora da Universidade de Standford, Barbara Block, uma das autoras do estudo, afirma que as evidências apontam um efeito comprometedor do óleo na fisiologia e morfologia dos embriões e larvas. O estudo mostrou que o petróleo age como um fármaco que impede processos-chave nas células cardíacas. O movimento de contração e descontração do músculo cardíaco é afetado, o que provoca arritmias.
As observações foram feitas usando microscópio, já que os alevinos dessas espécies são transparentes. A dificuldade maior dos pesquisadores foi encontrar amostras para os experimentos, uma vez que em seu habitat natural, as larvas de peixe estão misturadas a outros tipos de plâncton.
Larvas com defeitos
Assim, os cientistas inverteram o processo: utilizaram amostras do óleo cru colhidas no local do acidente em larvas criadas em cativeiro, uma atividade bastante rara. As anormalidades nos atuns foram observadas mesmo em baixas concentrações de óleo, inferiores às medições feitas no Golfo do México durante o acidente.
Os resultados confirmam uma tendência já verificada em estudos anteriores. De acordo com o coordenador do estudo, John Incardona, os atuns e olhos-de-boi, outro peixe estudado, foram afetados de maneira similar aos arenques que sofreram deformações depois do acidente do navio petroleiro Exxon Valdez.
Incardona explica que os problemas cardíacos afetam diretamente a capacidade de natação dos peixes, criando uma mortalidade tardia ainda relacionada aos derramamentos. Como a pesquisa confirmou deformidades que já haviam sido registradas, os autores acreditam que peixes-espada, marlins, cavalas e outras espécies também enfrentem o mesmo problema.
Além disso, o estudo afirma que os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos derivados do óleo, que são as substâncias que afetam diretamente o coração dos peixes, podem permanecer nos habitats marinhos por muitos anos, ampliando os impactos ambientais do acidente. (Deutsche Welle)