Ganhando tempo – Durou pouco a esperança dos brasileiros de ver o petista André Vargas longe da Câmara dos Deputados. Acusado de ser sócio do doleiro Alberto Youssef em um laboratório farmacêutico fantasma que conseguiu contrato de R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde, Vargas anunciou que renunciaria ao mandato de deputado federal nesta terça-feira (15).
A decisão de André Vargas, que segundo ele foi tomada para preservar a família, virou fumaça e a eventual renúncia caiu no limbo jurídico. Como noticiou o ucho.info na última semana, a partir do momento em que o Conselho de Ética da Câmara abriu processo contra Vargas, a possibilidade de renúncia se extinguiu, de acordo com o que determina a Constituição Federal. Uma emenda à constituição, datada de 1994, impede que a renúncia ocorra com um processo investigatório em curso.
O melhor exemplo de cumprimento da lei, mesmo antes da cita emenda constitucional, se deu no caso do então presidente Fernando Collor de Mello, que no ápice de uma enxurrada de escândalos de corrupção apresentou carta de renúncia ao Congresso Nacional, desconsiderada naquele momento por causa do processo de cassação que já estava em marcha.
André Vargas teve a oportunidade de renunciar ao mandato, mas decidiu correr o risco a reboque de um discurso moralista mentiroso e nada convincente. A estratégia de renunciar a essa altura dos acontecimentos tem por objetivo não apenas abrir uma possibilidade de André Vargas voltar a se candidatar, ainda nas eleições deste ano, mas preservar as campanhas da senadora petista Gleisi Hoffmann, que disputará o governo do Paraná, e do ex-ministro Alexandre Padilha, que foi escolhido por Lula para participar da corrida ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista.
Dirigente do Partido dos Trabalhadores e em ascensão dentro da legenda, Vargas foi escolhido recentemente para coordenar a campanha de Gleisi Hoffmann ao Palácio Iguaçu, depois que o pedófilo Eduardo Gaievski foi preso, devendo ser condenado em breve pela Justiça paranaense por causa de dezenas de estupros de menores, alguns contra vulneráveis (menores de 14 anos).
No caso de Alexandre Padilha a situação não é menos grave. Com o apoio e a participação de Vargas, o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, conseguiu sangrar os cofres públicos do Ministério da Saúde por meio de contratos bisonhos de produção de medicamentos. Toda a operação contou com a anuência de Padilha.
O que deve prevalecer, pelo menos em tese, é a não aceitação do pedido de renúncia de André Vargas enquanto o Conselho de Ética trata do processo por quebra de decoro parlamentar, que pode terminar com o pedido de cassação. Somente depois da decisão do plenário da Câmara dos Deputados é que o pedido de renúncia poderá ser aceito, caso não prevaleça a cassação. Sempre lembrando que a votação de perda de mandato agora acontece em votação aberta.
A decisão sobre o caso depende do presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que como integrante da base aliada reza pela cartilha do Palácio do Planalto. O imbróglio envolvendo André Vargas mostra de maneira clara que política não se faz sem dinheiro, ao mesmo tempo em que confirma que o Congresso Nacional é um clube privado de negócios, sem que respeitados sejam os interesses dos brasileiros, sempre abandonados pela classe política.
Embalado pela corrupção desenfreada, o Brasil caminha perigosamente na direção de um regime totalitarista de esquerda, a exemplo do que ocorre na bolivariana Venezuela. Causa espécie o fato de a sociedade brasileira continuar de braços cruzados diante de uma sequência de escândalos inaceitáveis.