Mal contado – Quase três anos de obra, três operários mortos e R$ 820 milhões consumidos, mas o estádio do Corinthians, que será o palco de abertura da Copa do Mundo, foi entregue oficialmente nesta terça-feira (15), apesar de inacabado. Algo parecido como comprar um carro novo na concessionária, mas sem as rodas. Há nessa epopeia do estádio do alvinegro de Parque São Jorge muitos assuntos inexplicáveis e incompreensíveis.
Começando pelo fato de que o Brasil não tem condições de sediar um evento da magnitude da Copa, a construção do Itaquerão foi um absurdo sem precedentes. O primeiro escárnio ficou por conta da prefeitura paulistana, à época sob o comando de Gilberto Kassab, que concedeu isenção fiscal no valor de R$ 420 milhões para viabilizar a construção do estádio. Uma decisão descabida, pois entre os contribuintes da maior cidade brasileira, São Paulo, há torcedores de muitos clubes, não apenas do Corinthians. Fosse o Ministério Público atuante como parece, essa isenção fiscal teria sido suspensa na Justiça. Sem contar que a cidade tem outras prioridades, que não a construção de um estádio de futebol.
A decisão de Gilberto Kassab foi justificada com a conversa fiada do legado que a Copa do Mundo deixará no País e, por consequência, na capital dos paulistas. Discurso pronto de quem não sabe como justificar o absurdo que foi a candidatura do Brasil para sediar o evento futebolístico.
O estádio do Corinthians é considerado inacabado, pelo menos por enquanto, porque ainda falta instalar as arquibancadas provisórias, que garantirão 20 mil lugares extras durante a competição. A exigência é da FIFA e custará aos cofres do clube a bagatela de R$ 40 milhões. Inicialmente comentava-se que o custo da estrutura temporária seria repassado a um consórcio liderado pela Ambev, mas há algumas semanas o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, que é o diretor da arena, disse que a conta será bancada pelo clube.
O Corinthians, como sabem os que acompanham o futebol brasileiro, não atravessa uma calmaria financeira e despesa desse valor deve atrapalhar ainda mais as contas do clube. Com esse dinheiro, o alvinegro paulistano poderia contratar alguns reforços, uma vez que o time parece ter parado em 2012.
No começo deste ano, Andrés Sanchez, ao ser questionado sobre a permanência do técnico Tite no clube, disse ao editor do ucho.info que o Corinthians era um clube com faturamento anual de R$ 400 milhões e não poderia enfrentar um situação de dificuldades entre as quatro linhas. À época de olho na presidência da CBF, Sanchez trabalhou nos bastidores e acabou forçando a contratação do técnico Mano Menezes, que até agora não conseguiu reverter a pasmaceira que reina na equipe.
Depois de desistir de concorrer ao comando da CBF, onde as cartas são sempre imundas e marcadas, Andrés Sanchez anunciou que será candidato a deputado federal pelo PT, partido ao qual se filiou a pedido do malandro e lobista Lula, que é conselheiro vitalício do clube. No caso de Sanchez se eleger em outubro próximo, o Corinthians terá de quitar o empréstimo no valor de R$ 400 milhões concedido pelo BNDES para a construção do estádio. Trata-se de uma cláusula contratual que terá de ser cumprida à risca e sem qualquer discussão.
Por enquanto, até que os nós sejam desatados, a Arena Corinthians pertence a Odebrecht, que cumpriu a sua parte em relação à obra e entregou o estádio de acordo com o projeto inicial, sem levar em conta as exigências da FIFA. Muito se falou na comercialização do chamado “naming rights” (direito de batizar a arena com o nome de alguma empresa, por exemplo), mas até agora o que se viu foi fumaça demais.