Oportunismo barato – O Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista, vem aproveitando os muitos escândalos de corrupção identificados pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e os imbróglios da Petrobras para tirar do foco o caso do cartel de trens em São Paulo, que merece investigação rígida e profunda, pois a grave crise institucional que se alastra no âmbito federal não é desculpa para que os fatos sejam esclarecidos e os culpados devidamente punidos.
Tão logo o caso do cartel liderado pela Siemens veio à tona, o governador Geraldo Alckmin, abusando da pompa e da circunstância, anunciou a criação de comissão externa para investigar o imbróglio, mas nenhum resultado prático surgiu no horizonte. O ucho.info cobrou inúmeras vezes algum tipo de manifestação por parte do governador tucano, mas a turma do “deixa disso” alegou que era cedo demais para cobranças. Disseram os conformistas que era preciso dar tempo para que as investigações avançassem. Acontece que o tempo passou e nenhuma atitude foi tomada em relação aos envolvidos no escândalo.
Tudo o que se viu ao longo desse período foram suspeitos negando as acusações e troca de farpas entre os culpados. O que a população do mais importante estado brasileiro não pode aceitar é que o caso seja varrido vagarosamente para debaixo do tapete, pois sobram roubalheiras no País.
Um dos episódios mais inexplicáveis dessa epopeia de corrupção tem Robson Marinho como protagonista. Ex-chefe da Casa Civil no governo do tucano Mário Covas, Marinho é acusado pela Justiça suíça de ter recebido propina para ajudar a Alstom a obter contratos públicos com o governo de São Paulo, mais precisamente na construção e ampliação da rede metroferroviária da região metropolitana paulista. De acordo com autoridades da Suíça, o dinheiro (US$ 1 milhão) foi depositado em conta bancária daquele país e os respectivos documentos (ficha de assinaturas e movimentação) já foram disponibilizados aos investigadores brasileiros.
O mais interessante é que Robson Marinho tornou-se conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, indicado para o cargo por José Serra e Geraldo Alckmin. Confirmada a acusação feita pela Justiça suíça, que já era de conhecimento do Judiciário e do Ministério Público paulistas, Marinho será a raposa que toma conta do galinheiro.
Velho conhecido
Em 2011, o Tribunal de Justiça de São Paulo, em decisão unânime, barrou a estratégia de Robson Marinho de afastar de seu caminho a juíza do caso Alstom, Maria Gabriela Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública da Capital, acusada pelo conselheiro de parcialidade.
Dois anos antes, mm 2009, em ação de sequestro movida pelo Ministério Público paulista, a juíza Maria Gabriela Spaolonzi determinou o bloqueio dos bloquear de Marinho no exterior – ele teria pelo menos US$ 1 milhão em conta na Suíça – e de outras dezoito pessoas físicas e jurídicas citadas no escândalo.
Em 2010, em outra ação (cautelar de exibição), a juíza quebrou o sigilo bancário e fiscal de Marinho e outros acusados de participação no caso. “As investigações revelam que, de forma efetiva, altos valores foram desembolsados e trilharam por caminhos obscuros e fraudulentos até as contas de agentes políticos, funcionários do governo e terceiras empresas a eles diretamente relacionadas”, destacou a juíza, à época.
Melhor afastar
Reza a Constituição Federal que todos são cidadãos são considerados inocentes até o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória, mas na administração pública deveria prevalecer a máxima secular de que à mulher de César não basta ser honesta, mas parecer como tal. O ucho.info não está condenando Robson Marinho por antecipação, mas sua permanência no TCE-SP é no mínimo estranha.
O corregedor do Tribunal de Contas paulista, conselheiro Dimas Ramalho, abriu sindicância para apurar as denúncias, mas esse é um caso de polícia e não cabe ao TCE-SP chamar para si a elucidação do caso. Basta o TCE tomar como base as investigações policiais e a decisão da Justiça. Enquanto isso não acontece, Robson Marinho deveria ser afastado do tribunal, o que foi cobrado prontamente por este site, mas o conselheiro continua atuando no órgão como se nada tivesse ocorrido. A permanência de Marinho no TCE-SP é não apenas estranha, mas uma declaração de que o corporativismo está falando mais alto.
Então presidente da República, Itamar Franco não pensou duas vezes para afastar Henrique Hargreaves do comando da Casa Civil da Presidência. Hargreaves foi acusado de corrupção e a decisão de Itamar foi tomada para preservar o governo e também o currículo do amigo de longa da data. O afastamento de Henrique Hargreaves durou enquanto a Polícia Federal investigava o caso com total liberdade. Como a PF apontou que nada do que foi creditado AP chefe da Casa Civil se comprovou, ele retornou ao cargo ainda mais forte.
Tomara que Geraldo Alckmin tenha um momento de lucidez e cobre do Tribunal de Contas uma medida urgente, até porque a intransigência do PSDB em relação a escândalos de corrupção não deveria valer apenas no Planalto Central. Ou será que no tucanato prevalece aquela burra teoria popular de que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”?