De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Sua mãe não tem culpa

(*) Ucho Haddad –

ucho_26Presidente, como sempre faço ao iniciar os nossos contundentes colóquios redacionais, lembro que deixarei de lado a formalidade, até porque do contrário o texto terá problemas de fluidez. Dilma, reconheço que não é fácil estar presidente, mas diz a sabedoria popular que quem não pode não se estabelece. Você acreditou que era o Aladim de saias e instalou-se no gabinete presidencial, promovendo uma lambança jamais vista. Como se não bastasse, você, Dilma, continua acreditando que fez tudo certo.

Sei muito bem como é ter gente na contramão. Como jornalista e crítico do Estado sinto isso na pele quase que diariamente, pois os terroristas cibernéticos do seu partido recebem para me infernizar. Como, por sorte, tenho mais de uma mãe, não me incomodo com esse bando de utópicos terroristas cibernéticos que pensam ser eu um filho da puta. Dizia Jânio da Silva Quadros que o melhor que se pode fazer para atormentar o filho da puta é chamá-lo de “filho de puta”. Assim, a “putice” da mãe não fica solta no espaço, mas com endereço certo. Como há muito criei uma mãe “fake” e imaginária para ser enxovalhada, que esses vilipendiadores da honra alheia sintam-se à vontade para xingá-la. Afinal, isso significa que estou no caminho certo.

Dilma, ser presidente da República é como um juiz de futebol. Por maiores que sejam a retidão e a boa vontade, em algum momento o juiz há de escutar ofensas à genitora, que, por questões óbvias, não tem culpa pela profissão do filho. Sem dúvida é uma tarefa hercúlea e impossível contentar gregos e troianos, mas não se pode aceitar passivamente a banalização do caos. Como você bem sabe, Dilma, até porque já deixei isso claro em outros “colóquios”, fui criado para ser um cavalheiro. E por conta disso não aceito deselegâncias, em especial com as mulheres. Não importa se de lupanar ou filha de alguma frequentadora de bataclã.

Ainda no campo do cavalheirismo, Dilma, confesso que tenho me esforçado continuamente para evitar que sua mãe pague o pato por algo que não é da responsabilidade dela. Eu e você oramos em genuflexórios distintos, mas não podemos transferir às respectivas mães os efeitos colaterais das nossas escolhas. Discordar da sua ideologia e condenar a incompetência que você exala é uma quase obrigação de todo brasileiro de bem, mas não aceito que a honra alheia seja arremessada na vala da maledicência. Incompetentes que se instalam no poder devem ser varridos com as cerdas das urnas. Assim se faz uma democracia. Qualquer outra estratégia, por mais peçonhento que seja o governante, é “filhadaputice”.

Dilma, por vezes fico imaginando o quanto sua mãe é lembrada, em especial no momento em que os brasileiros, que acreditaram em você e no seu criador, estão na fila do caixa do supermercado ou diante do dono da venda da esquina mais próxima. Como já destaquei anteriormente, sua mãe não tem culpa de qualquer desvario que desce a rampa do Palácio do Planalto ou das sandices que pululam do Monte Caburaí ao Arroio Chuí, mas você tem sido uma madrasta com todas as letras para cada cidadão deste desgovernado Brasil. Arrisco dizer, parodiando um famoso comunista de boteco, que você certamente conhece, “nunca antes na história deste País”. Aliás, esse gazeteiro a que me refiro é outro que acabou colocando a mãe na linha de tiro da opinião pública.

Você, Dilma Vana, deveria se comportar como uma boa filha e poupar a própria mãe de mais uma temporada palaciana. Quando deparo-me com as pesquisas eleitorais, nada confiáveis, diga-se de passagem, logo penso que o povo brasileiro nutre enorme respeito por sua mãe. Querem os nossos patrícios poupar a mãe da presidente de mais um quadriênio de impropérios e bizarrices discursivas, muitas delas na seara da covardia. Contudo, dizem os mais experientes que chumbo trocado não dói.

Estivesse no seu lugar, Dilma, deixaria de lado a vaidade e a obsessão pelo poder, o que de chofre seria um alívio para sua mãe. Afirma a sabedoria popular que quem tem mãe tem tudo, por isso creio que uma derrota nas urnas de outubro próximo será o maior – e também atrasado – presente à sua honrada mãe. Imagine o alívio que ela sentiria ao perceber que um peso descomunal foi sacado do seu dorso.

Há anos, Dilma, alguém lançou a ideia de que a única saída para o nosso País seria votar nas mães, porque nos filhos já está mais do que provado que não adianta. Isso, presidente, seria admitir que todos os políticos são filhos de rapariga. Da mesma forma, votar nas mães seria transferir a “filhadaputagem” às gerações anteriores, o que contemplaria a leviandade da plena covardia. Como existo de forma cavalheiresca, prefiro acreditar que sua mãe é sábia, ao passo que você, bruxa.

Sendo assim, Dilma, aqui deixo meus sinceros e respeitosos cumprimentos à sua mãe, até porque, ao contrário do que pensam nove entre dez brasileiros, tenho certeza de que ela não é responsável pelas coisas estabanadas que a filha faz em palácio. Ao chegar neste derradeiro parágrafo, Dilma, sinta-se à vontade para açoitar a honra da minha genitora, pois, como prega liturgia da fé, bendita seja entre as mulheres. Feliz Dias das Mães!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.