Conversa mole – O depoimento do petista José Sérgio Gabrielli à CPI da Petrobras, que acontece no Senado Federal e está sob o controle do Palácio do Planalto, não surpreendeu os que conhecem os meandros da política nacional: foi um tremendo fiasco encomendado pelo PT.
Tão logo o imbróglio envolvendo a petroleira voltou recentemente ao noticiário nacional e passou a rechear os discursos da oposição, Gabrielli, que foi chamado ä lide, não demorou muito para cobrar da presidente Dilma Rousseff uma postura responsável de alguém que autorizou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, negócio que meses antes valia US$ 42 milhões, mas acabou sangrando os cofres da empresa em US$ 1,25 bilhão.
Na ocasião de suas contundentes declarações, Gabrielli, que na era Lula presidiu a Petrobras, disse que as cláusulas constantes do contrato de Pasadena eram corriqueiras e que Dilma deveria assumir sua responsabilidade no negócio, uma vez que à época a petista comandava o Conselho de Administração da empresa. Pois bem, nesta terça-feira (20), em depoimento aos senadores que integram a vergonhosa CPI da Petrobras, José Sérgio Gabrielli mudou o discurso e isentou a “companheira” Dilma de qualquer responsabilidade pelo estapafúrdio negócio.
Que isso aconteceria, cedo ou tarde, todos já sabiam, mas a grande questão em relação ao depoimento é que Gabrielli começou afirmando que a compra da refinaria de Pasadena se deveu à necessidade da empresa de melhorar as condições de refino. Ora, se isso de fato for verdade, José Sérgio Gabrielli mentiu ou, então, não sabe o que fala. Como todos estão fartos de saber, a refinaria texana, além de obsoleta e sucateada, tinha capacidade técnica para processar apenas petróleo leve, ao passo que o petróleo brasileiro é pesado. Ou seja, o que a Petrobras fez foi o mesmo que comprar um sapato pequeno para um pé fora das medidas padrões.
A insistência de Gabrielli em tentar justificar o negócio, que ele classificou como sendo vantajoso à época, chegou ao ponto de o depoente afirmar que atualmente a refinaria de Pasadena fatura US$ 5 bilhões por ano. Os brasileiros não querem saber o quanto a refinaria texana fatura e muito menos de quanto é o lucro líquido, mas, sim, os motivos que levaram o Conselho de Administração da petroleira verde-loura a comprar uma empresa por preço muitas vezes maior do que valia. Até mesmo o dono anterior da refinaria, que durante alguns meses foi sócio da Petrobras, estranhou a facilidade com que os brasileiros aceitaram uma negociação absurda.
Em qualquer país minimamente sério e com autoridades responsáveis, todos os envolvidos no escândalo já estariam atrás das grades. No Brasil, terra da impunidade e da corrupção desenfreada, os culpados estão a disparar desculpas esfarrapadas, como se a população não tivesse capacidade de compreender a realidade. A compra da refinaria de Pasadena foi um assalto consentido aos cofres da Petrobras, sem que até agora tenham sido incomodados os que autorizaram a bisonha aquisição. Nesse rol, além de Dilma Rousseff, estão figuras conhecidas pelos brasileiros, como, por exemplo, o ainda ministro Guido Mantega (Fazenda) e o empresário Jorge Gerdau, sempre cortejado pela imprensa local. Enfim…