Hora de sorrir e apunhalar

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Nos próximos dias, semanas, talvez meses, a presidente Dilma Rousseff será o grande ídolo dos operadores do Direito. Simpática, competenta, gerenta de primeira, arguta, inteligenta. Ah, o que faz a perspectiva de poder! Luiz Fux, por exemplo, para chegar ao Supremo, prometeu até matar no peito o processo de José Dirceu. De certa forma, era verdade: matou no peito e botou lá dentro.

A lista dos possíveis substitutos de Joaquim Barbosa é vasta: nela estão José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça, Luís Adams, advogado geral da União, Benedito Gonçalves, único ministro negro do STJ, a ministra Nancy Andrighi, também do STJ. Mas a presidente não está restrita a esses nomes: escolhe quem quiser. E o Senado, não há dúvida, aprova quem quer que seja indicado.

Enquanto o nome não é escolhido, vale tudo para quem quiser chegar lá. Aproximar-se de pessoas cuja opinião é ouvida pela presidente, defendê-la sempre que possível, elogiá-la, garantir que vota no PT desde criancinha (este, a propósito, foi um dos quesitos que levaram Barbosa ao Supremo). Enquanto isso, torpedear os adversários: sorrir-lhes pela frente, abraçá-los e, aproveitando o abraço, colocar-lhes fundo o punhal nas costas. Quando a presidente finalmente se decide por alguém, o novo ministro deixa de depender da boa-vontade dos outros, por mais poderosos que sejam; e a próxima fase muitas vezes não é tão amistosa. Que o digam o próprio Joaquim Barbosa e Luiz Fux, hoje detestados no PT.

Talvez por isso a nomeação demore. A primeira fase é bem mais agradável.

Por que saiu?

Joaquim Barbosa diz que vai aposentar-se porque já tem 41 anos de serviço público. E também porque nada perde: mantém o salário integral e pode se dedicar a outros afazeres. Mas também diz que o motivo “sairá no momento oportuno”. Não quer estar num tribunal dirigido por Ricardo Lewandowski, de quem não gosta (não gosta também dos demais ministros, no que é correspondido).

Não pode concorrer a eleições; mas pode fazer campanha, se quiser.

Saiu por que?

Há quem diga que ele quer apenas descansar, há quem diga tê-lo ouvido dizer que vai “entrar pesado” na campanha. Há quem sustente que apoiará Aécio Neves, do PSDB, e em caso de vitória iria para o Itamaraty. Barbosa acha que, quando trabalhou nas Relações Exteriores, foi vítima de racismo. Esta seria sua oportunidade de dar o troco.

Seu jeito truculento, arrogante, autoritário não casa bem com o Itamaraty. Mas, enfim, não existe mais Ministério da Guerra.

As aparências enganam

Ao pedir à Justiça que casse o mandato do deputado André Vargas, o passageiro privilegiado da Youssef-Tour, o PT não o prejudica: ao contrário, o ajuda. Se perder o mandato por infidelidade partidária, pode candidatar-se novamente em 2016. Mas, se o mandato for cassado por falta de decoro parlamentar (o processo está correndo), fica inelegível até 2022. Por isso Vargas se desligou do partido: para permitir que o próprio PT encaminhe a solução menos dolorida.

Nádegas ao vento

Búzios se celebrizou como praia favorita de Brigitte Bardot; hoje, destaca-se pelo prefeito André Granado, PSC, que está em viagem oficial a Cannes e St. Tropez por conta do Tesouro, mas sem deixar o cargo para não dar posse ao vice. Seus adversários protestaram com um “bundaço”, “resposta a todos os políticos que acham que temos cara de bundão”. Foram à Câmara com as nádegas de fora.

Correram risco: ninguém deve expor as nádegas com políticos por perto.

A lei, ora a lei

O Movimento Passe Livre, que iniciou a temporada de protestos no ano passado, está de volta: alguns se acorrentaram nos portões da Secretaria de Segurança de São Paulo, outros se deitaram na rua, para impedir o trânsito. Querem que a Polícia Civil deixe de intimá-los para depor sobre o vandalismo ocorrido em suas manifestações. Querem também que os intimados que não comparecerem deixem de ser procurados em casa pela Polícia. Mas houve vandalismo e, manda a lei, tem de ser investigado; e intimados que não compareçam devem, de acordo com a lei, ser conduzidos “sob vara”, ou seja, obrigados.

Mayara Vivian, do MPL, disse ao portal G1 que “está questionando os inquéritos de maneira geral” e que, como não considera o inquérito legítimo, seus integrantes se recusam a depor.

OK; a Justiça existe para isso. Questionem – mas como, se não depõem?

Deus e o diabo

Em Aquiraz, pertinho de Fortaleza, CE, Tarcília Bezerra começou a construir um anexo em seu cabaré; e a igreja neopentecostal fez forte campanha contra a construção, com orações contínuas. Uma semana antes da inauguração, um raio incendiou o cabaré. Tarcília processou a igreja e o pastor, responsabilizando-os pela “intervenção divina” que destruiu a obra. A igreja alegou que não houve prova de intervenção divina a partir das orações.

Comentário do juiz, na audiência de abertura: “Pelo que li até agora, temos de um lado a proprietária de um prostíbulo que acredita firmemente no poder das orações e do outro lado uma igreja inteira que afirma que as orações não valem nada”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.