De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: Copa, xingamentos e derrière

(*) Ucho Haddad

ucho_32Dilma, não sei qual o grau da sua superstição, mas para você a sexta-feira 13 chegou com antecedência e se fez presente na quinta, 12 de junho. Aliás, o olho grego que você carrega dependurado no pulso – dizem que serve para evitar o mau-olhado e barrar as energias negativas – parece não estar funcionando.

Como você bem sabe, até porque sempre reforço o assunto nos nossos colóquios redacionais, fui criado para ser um cavalheiro. E assim procuro me postar na maior parte do tempo, mas às vezes cometo algumas gafes, pois afinal errar é humano e ainda não consegui provar da poção que faz dos petistas seres supremos. Esse introdutório serve para deixar claro que discordo dos xingamentos a você dirigidos durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians. Não é desse jeito que se cultua a democracia, da mesma forma que não se deve tratar uma mulher com insultos e palavras de baixo calão.

É verdade que o entourage palaciano trabalhou com afinco para blindá-la contra a reação popular, mas creio que é do seu conhecimento que um estádio de futebol nem mesmo em sonho é a sala de chá da Academia Brasileira de Letras. Nas arenas esportivas, em situações normais, não é deselegante mandar alguém tomar no c… ou até mesmo colocar em xeque a honradez da mãe desse ou daquele. Por certo ouvir alguém vociferando uma ofensa grave e pesada não é agradável, mas é preciso muita personalidade para vencer tal momento de constrangimento.

Sabe, Dilma, muito pior do que ser ofendida e hostilizada é ter metade da nação torcendo pela sua morte. Foi isso que aconteceu enquanto você esteve na batalha contra o câncer, que dele se livrou por obra e graça do Criador. Naquela fase, não apenas torci pela sua recuperação, mas saí em sua defesa diante da maledicência popular. E agora faço o mesmo, porque as diferenças políticas e ideológicas devem ser tratadas no campo da lógica e da inteligência. E mandar a presidente da República tomar no c… é burrice. Mesmo assim, Dilma, você há de concordar que o xingamento em questão lavou a alma de metade da população brasileira.

Sou do tempo em que mandar alguém tomar naquele lugar resultava em uma baita confusão. Às vezes, Dilma, até mesmo as famílias dos que trocavam palavras rasteiras entravam em cena para as devidas carraspanas. É fato que a humanidade mergulhou em quase irreversível processo de involução, mas a manifestação hostil que ecoou no Itaquerão é resultado da sensação de impunidade que o seu mentor eleitoral e você disseminaram em todo o território. Rouba-se descaradamente o dinheiro do contribuinte, mas você nada faz. Compra-se boa parte do parlamento de forma acintosa, mas você acredita ser essa uma prática legal. Você ensinou aos brasileiros que o vale-tudo é a regra. Ou seja, a culpa também é sua, apesar da deselegância dos descontentes.

Dilma, você prometeu aos brasileiros crédulos a Copa das Copas, mas até agora o que se viu foi um faz de conta sem fim, algo que tornou-se normal no Brasil sob o manto do seu partido, o PT. Seus estafetas de plantão tentaram poupá-la do pior durante a abertura da Copa, inclusive impedindo que imagens suas fossem exibidas nos telões do estádio, mas esqueceram de avisá-la de que prometer e não cumprir tem efeito catastrófico. É exatamente isso que você vem fazendo ao longo dos últimos quarenta meses. Você é capaz de prometer algo ao seu neto e não cumprir? Creio que não!

Prometer e não cumprir, Dilma, é suicídio político. A situação piorou quando você, a bordo das costumeiras ousadia e desfaçatez, ocupou os meios de comunicação horas antes da abertura do mundial para desfiar os muitos legados da Copa. Dilma, mais da metade das obras de mobilidade urbana, a cargo do seu desgoverno, não foram entregues. Mesmo assim, você tem se dedicado nas últimas semanas a inaugurar obras inacabadas. É o mesmo que falsa gravidez. A família fica esperando um novo integrante do clã e na hora da verdade… Pufff… Só vento. Aliás, Dilma, você tem vendido vento aos brasileiros. O pior é que alguns desavisados, e outros milhões abduzidos pelas esmolas sociais, acabam comprando.

Voltando aos xingamentos ecoados no Itaquerão… Como já frisei, Dilma, não defendo o extravasar da raiva usando a receita que coloca na alça de mira o derrière alheio. Esse é um assunto delicado, apesar de que há adeptos. Certamente não foi agradável ouvir milhares de pessoas disparando impropérios para o endereço das hemorroidas, mas você está experimentando um pouco do veneno caseiro. Entendo que você não merece tal hostilidade, mas seus companheiros de legenda, em especial os que se dedicam ao terrorismo cibernético, abusam da irresponsabilidade – e da inverdade também – ao espalhar na rede mundial de computadores que o senador Aécio Neves é usuário de drogas. Se ofendê-la não é justo, Dilma, creditar ao seu adversário político algo inverídico é covardia das grandes.

Apenas para que saiba, Dilma, durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo fui questionado mais uma vez sobre a sua orientação sexual. Tudo porque na campanha de 2010 surgiu na internet uma informação leviana e criminosa sobre o assunto. Dentre os seus críticos contumazes fui o primeiro a defendê-la. Disse, como ainda digo, que trata-se de uma sonora mentira, mas sempre lembro que fosse verdade em nada comprometeria o seu currículo. Afinal, incompetência e soberba independem da orientação sexual.

Resumindo, Dilma, no caso dos chulos apupos disparados na Arena Corinthians estou com você e não abro, apesar das muitas críticas que receberei. Até porque, prefiro enfrentá-la usando os neurônios, não a deselegância. E PT saudações!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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