(*) Carlos Brickmann –
Um dos anúncios mais populares da História foi o da RCA Victor, fabricante de aparelhos de som (gramophones), editora de discos, dona de uma das maiores emissoras de rádio dos EUA, a NBC. Um cachorrinho lindo, simpaticíssimo, ouvia atentamente os sons do alto-falante. O slogan era “A Voz do Dono”.
Como o ministro Gilberto Carvalho, um discretíssimo profissional da política, habituado a trabalhar em silêncio, que desandou a fazer discursos e a dar entrevistas, o gramophone da RCA Victor não falava: apenas repetia o que lhe era dito, com a máxima fidelidade possível. As opiniões de Carvalho, como as do alto-falante, não são dele. São de seu chefe máximo, a quem é sempre fiel: Lula.
Gilberto Carvalho é ministro de Dilma mas, quando fala, fala em nome de Lula. E as coisas que anda falando! Que se generalizou no país a insatisfação com o Governo; que o PT se ilude ao imaginar que “o povo pensa que está tudo bem”; que é bobagem dizer que só “a elite branca de São Paulo” vaiou Dilma no estádio do Corinthians – e em tantos outros estádios e shows espalhados pelo país. Culpar “a elite branca”, analisa, é um erro de diagnóstico. “Quando você não tem um bom diagnóstico, não tem um bom remédio”. Assume que houve casos de corrupção no PT, e põe a culpa na imprensa não por ter denunciado a corrupção petista, mas pelo tratamento, que considera mais ameno, que dá à corrupção de outros. Tem saudades da antiga militância petista; sente o PT contaminado pelo vírus da velha política.
E, lembremos, Gilberto Carvalho é o outro nome de Lula.
Pensando longe
Diálogo entre Gilberto Carvalho e a repórter Natuza Nery, da Folha de S. Paulo, autora da entrevista exclusiva:
– Gilberto Carvalho – Precisamos produzir um grande debate interno. Lula tem todas as condições de capitanear isso. Temos que rejuvenescer o partido.
– Natuza Nery – Com Lula candidato em 2018?
– Gilberto Carvalho – Não acho que é contradição. Ele tem uma incrível capacidade de criar o novo.
O dono da voz
Ou seja, se o eleitor se sente insatisfeito, a culpa é do PT e do Governo Dilma. Corrigir esses erros exige que se chame Lula de volta. Ele é o dono da voz.
Sinais no horizonte
Um monte de políticos deixa de lado a candidatura de Dilma e apoia seus adversários. Lembre-se: melhor que o poder de hoje só mesmo o poder de amanhã.
Dia quente
Hoje é o dia marcado pelo presidente renunciante do Supremo, Joaquim Barbosa, para o julgamento, pelo plenário, de cinco recursos de condenados no Mensalão. José Dirceu, Delúbio Soares, Romeu Queiroz e Rogério Tolentino querem autorização para trabalhar fora do presídio (Barbosa negou essa autorização, considerando que só pode ser concedida após o cumprimento de 1/6 da pena); José Genoíno quer retornar à prisão domiciliar, alegando que o presídio da Papuda não tem condições de lhe oferecer o tratamento médico específico de que necessita para evitar o agravamento de seus problemas cardíacos.
O novo relator do Mensalão, após a renúncia de Barbosa, é o ministro Luiz Roberto Barroso. Se tiver que decidir sozinho, por qualquer motivo, considera-se certo que aceitará os recursos dos réus, incluindo a permissão para trabalho externo. Pode ser que Barbosa nem apareça na sessão; se aparecer, talvez haja incidentes entre ele e outros ministros, ou entre ele e advogados. Tarde quente!
Assim não dá!
Permissão aos mensaleiros para trabalhar. Está começando a perseguição.
Acredite se quiser
1 – O governador paulista Geraldo Alckmin garantiu que sua Polícia já identificou alguns dos black-blocs que depredaram lojas e bancos na última quinta, depois de terem pro-me-ti-do que se comportariam se os policiais ficassem longe. OK, Alckmin acreditou nas promessas dos black-blocs, mas o caro leitor já pode confiar em suas previsões: ele tem informações diretas de uma pessoa de total confiança, o Saci-Pererê, tão enturmado que é até black, embora não bloc.
2 – Lula explicou a eliminação da Grã-Bretanha: sua Seleção, disse, não estava acostumada em jogar num campo da qualidade dos nossos. Claro, claro: os gramados ingleses são conhecidos no mundo inteiro por sua falta de qualidade. E estádios como Wembley, Emirates e Old Trafford, como se sabe, são péssimos!
Boa notícia
O deputado federal Roberto de Lucena, do PV paulista, apresentou projeto que isenta remédios de PIS/Pasep e Cofins. Se aprovado, o projeto permitirá a redução do preço da medicação. No Brasil, remédio paga em média 35% de impostos (já os medicamentos veterinários têm média de 14% – por isso, Joelmir Beting costumava dizer que era melhor entrar na farmácia latindo do que tossindo). Em outros países, paga-se bem menos: nos Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Suécia e México, não há impostos sobre remédios. Na União Europeia, os impostos representam 10% do preço dos medicamentos.
Brasil campeão!
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.