Lava-Jato: desdobramento da operação é refém da preguiça e da irresponsabilidade da imprensa

jose_janene_09Sem noção – No Brasil, lamentavelmente, a indústria de manchetes não respeita coisa alguma. Nem mesmo a lógica e o bom jornalismo. Nessa barafunda que dizem ser um país, jornalismo investigativo tornou-se fruto do mero vazamento de documentos por parte de autoridades, como se para tanto não precisasse fazer o óbvio: investigar. Aliás, o exercício do jornalismo é por si só um ato de investigação. Nessa guerra para garantir elevados índices de audiência e visitação ou aumentar o número de leitores, o “vale tudo” dá as ordens.

Há mais de cinco anos o ucho.info denunciou fatos que culminaram com a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, mas agora sobram na imprensa nacional os “saberetas” de ocasião. Todos esses alarifes do universo midiático, sem exceção, chamam para si a paternidade de um filho que não lhes pertence. Não bastasse a apropriação indébita do trabalho alheio, escrevem sem prestar atenção aos documentos vazados e não investigando os fatos em suas origens. Eis o equívoco!

Nas matérias sobre os desdobramentos da Lava-Jato que têm pululado na imprensa nos últimos dias, há erros jornalísticos imperdoáveis, que levados a sério podem transformar uma vítima em réu. A esses soberbos escribas importa apenas a repercussão da matéria jornalística, não a honra de quem pode ser arremessado na vala da culpa. Nas muitas matérias sobre a Lava-Jato publicadas nesta quarta-feira (16), um erro grosseiro causou estranheza. Jornalistas afirmaram que a empresa Dunel foi criada especificamente para lavar parte do dinheiro proveniente do Mensalão do PT, o maior e mais ousado escândalo de corrupção da história brasileira.

A Dunel, para que fique claro, foi vítima do esquema criminoso do então deputado federal José Janene, o “Xeique do Mensalão”. Ao contrário do que noticiaram alguns veículos de comunicação, a Dunel buscou recursos financeiros para expandir seus negócios, tendo sido direcionada a Janene, que por sua vez encaminhou os sócios da empresa para a CSA Project Finance, consultoria que integrava a pirâmide criminosa comandada por José Janene e pelo doleiro Alberto Youssef, preso em Curitiba. Em suma, a Dunel e seus fundadores caíram na armadilha montada por Janene e seus estafetas de luxo, alguns dos quais especialistas em truculência e intimidação. Tanto é assim, que um dos assessores (sic) do finado deputado atendia pela alcunha de “Ari Navalhada”.

O braço curto da mídia

A preguiça e oportunismo torpes que imperam em alguns setores da imprensa brasileira deixam escapar detalhes importantes sobre o esquema criminoso desbaratado pela Polícia Federal, que mandou para a cadeia alguns dos envolvidos. Quem conhece razoavelmente o caso e lê atentamente as denúncias formuladas pelo Ministério Público Federal (MPF) logo percebe que novos desdobramentos surgirão em breve, pois os tentáculos do esquema se esparramaram por muitas entranhas do governo federal. Isso porque foi preciso substituir o Mensalão do PT por outra mecânica de compra de parlamentares. E isso se deu com o loteamento do Estado, algo que aconteceu de maneira vil e com a conivência do Palácio do Planalto.

No momento em que o MPF aprofundar as investigações chegará a novos escândalos, todos gestados a partir do bandoleiro quarto-general controlado pro Janene e Youssef. Muito além da tentativa frustrada de usar a Dunel como lavanderia de aluguel, Janene montou uma rede de ilegalidades que teria passado pelo Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e por bisonhas concessões no setor energético. Nesse ponto específico (setor energético), alguns dos beneficiados estão vendendo energia no mercado futuro com compromisso de entrega daqui a vinte anos. Ou seja, um novo e bilionário truque está em marcha, mas já permitiu que muitos ganhassem oceanos de dinheiro imundo.

Ademais, o Labogen não foi a primeira incursão do grupo de Alberto Youssef na seara de laboratórios farmacêuticos. Muito antes de despedir-se da vida por conta de uma grave cardiopatia, José Janene tentou conseguir negócios escusos no Ministério da Saúde para um pequeno laboratório do Sul do País. O nome do proprietário do tal laboratório é mantido em segredo por este site.

A irresponsabilidade dos paraquedistas

O advento da internet e a fobia do ser humano em estar sempre conectado produziram uma enxurrada de jornalistas, sendo que a maioria desconhece como exercer a profissão com responsabilidade e ética. Blogs, redes sociais, sites e outras parafernálias cibernéticas foram transformados em depósitos de informações nem sempre confiáveis. O que não significa que exceções não existam, pois o trigo só vale à pena quando separado do joio.

A sanha que surgiu no rastro da tecnologia tem levado alguns oportunistas a cometerem equívocos éticos, como, por exemplo, a publicação na íntegra de denúncias do Ministério Público, sem que exista a preocupação de excluir os dados pessoais das vítimas e dos denunciantes (endereço, CPF e RG). Com essa atitude irresponsável por parte de alguns ditos jornalistas, aqueles que denunciam passam a ser presas fáceis para os denunciados.

Jornalismo não se faz com a mesma informalidade com que se toma um aperitivo no boteco da esquina. É um ofício que exige responsabilidade, seriedade e comprometimento, ingredientes que jamais podem faltar no exercício da profissão.

Muitos são os nossos inimigos e adversários, em especial na grande imprensa, mas no ucho.info não se tergiversa e muito menos faz-se jornalismo de encomenda. É por essa razão que na condição de um dos mais respeitados portais de notícias do País não pensamos duas vezes para adotar o slogan “A MARCA DA NOTÍCIA”, que há muito nos acompanha.

No ucho.info a superação é a reza obrigatória de todos os dias, por isso sempre buscamos ultrapassar apenas os nossos limites, mesmo que para isso deixemos de lado os furos de reportagem duvidosos, limitando-nos a comentários balizados e responsáveis, que nem sempre agradam políticos e autoridades.

Para aqueles que agora tentam pegar carona nos desdobramentos da Operação Lava-Jato, como se tivesse descoberto a pólvora ou inventado a roda, sugerimos que confiram abaixo as matérias que já em 2009 apontavam na direção de um escândalo sem precedentes.

O ucho.info antecipou os fatos e denunciou

Após alguns meses de investigação e checagem de informações, então de posse de um organograma dos crimes cometidos pelo grupo de José Janene, o ucho.info passou a publicar matérias sobre o tema, entre as quais se destacam:

Em 13 de agosto de 2009, o ucho.info publicou matéria sob o título “Lavagem de dinheiro faz o coração doente de José Janene bater mais rápido”. Na matéria ficou claro que a Dunel, única empresa brasileira a fabricar equipamentos de ensaio para a indústria eletroeletrônica, caíra em um golpe que passou pela CSA Project Finance.

Em 25 de agosto de 2009, uma nova matéria, intitulada “José Janene apela para interlocutor na tentativa de evitar condenação judicial”, não deixa dúvidas da atuação ilegal do mensaleiro que escapou da cassação por conta de manobra no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.

Em 21 de março de 2011, outra matéria – “Ministério Público do Trabalho caiu em esparrela de José Janene e suspendeu investigação” – mostrou que as empresas controladas pelo ex-deputado desrespeitavam de maneira acintosa a legislação trabalhista, inclusive promovendo o desvio de função.

Em 5 de agosto de 2011, uma nova matéria – “Herdeiros de Janene se surpreendem com os ‘amigos cítricos’ do xeique do Mensalão do PT” – apontava a indignação dos familiares de Janene com a descoberta de que alguns “laranjas” se apropriaram de bens do falecido mensaleiro, como o caso da conta bancária aberta no exterior e que, segundo apurou o site, tinha à época saldo de R$ 180 milhões, valor reclamado nos bastidores por alguns herdeiros.

Em 16 de abril de 2012, outra matéria – “Herdeiros de Janene podem ser desmascarados em caso de participação oculta em empresa” – revelou o descumprimento das regras de fiel depositário por parte da empresa Dunel, que Janene passou a controlar com o objetivo de transformá-la em lavanderia financeira. Mais uma vez, o ucho.info mencionou a CSA Project Finance, empresa que serviu como base para os muitos crimes cometidos pelo grupo e que acabaram investigados pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato.

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