Sob pressão e contra o tempo, governo argentino negocia para evitar novo calote

axel_kicillof_01Fio da navalha – A Argentina enfrenta nesta quarta-feira (30) uma corrida contra o tempo. Para evitar o que pode ser o segundo calote do país em quatorze anos, o país sul-americano precisa chegar a um acordo com os detentores de títulos da dívida antiga (que em 2001 o país anunciou que não pagaria), que ingressaram na Justiça para receber o valor integral dos papeis.

Nesta quarta-feira, a delegação do governo argentino, liderada pelo ministro Axel Kicillof (Economia), volta a se reunir com os principais detentores de bônus da dívida antiga, depois de um primeiro encontro nesta terça-feira, em Nova York.

Após mais de cinco horas de reunião, Kicillof deu uma breve declaração à imprensa, visivelmente cansado, e assegurou que a negociação da dívida está em andamento. “Seguimos trabalhando com toda a seriedade que a questão exige”, assegurou o ministro, que lamentou não poder adiantar os resultados da reunião porque as negociações continuam.

Kicillof incorporou-se às negociações por volta das 18h, hora local de Nova York, depois de voltar de Caracas. A reunião, que havia começado às 11h, ocorreu no escritório do mediador Daniel A. Pollack, nomeado pelo juiz instrutor do caso, Thomas Griesa.

Em comunicado, Pollack afirmou que o primeiro encontro cara a cara entre as duas partes foi um “intercâmbio franco de pontos de vista e preocupações” e que “os assuntos que as dividem continuam irresolutos”, motivo pelo qual as discussões prosseguirão nesta quarta-feira.

À meia-noite, encerra-se o prazo para que se chegue a um acordo, permitindo o pagamento de bônus aos detentores da dívida reestruturada. A falta de um acordo pode levar ao chamado calote técnico.

Depois de um pedido de embargo apresentado pelos credores ao juiz Griesa, o dinheiro que a Argentina transferiu para os Estados Unidos para um pagamento da dívida reestruturada, e que tinha de ser pago até ao dia 30 de junho, foi bloqueado.

A Argentina negocia com fundos de investimento – conhecidos no mercado como holdouts, mas chamados pelos argentinos de abutres – que não aceitaram as propostas de reestruturação da dívida feitas pelo governo argentino entre 2005 e 2010 e ainda detêm títulos da dívida antiga, anterior ao calote de 2001.

Esses fundos recorreram à Justiça de Nova York para receber o valor integral dos papéis, algo em torno de US$ 1,33 bilhão. O governo argentino argumenta que não pode pagá-los porque títulos da dívida reestruturada contêm a chamada cláusula Rufo, que, até o fim deste ano, impede acertar com credores um acordo melhor do que o obtido pelos que concordaram com a reestruturação.

O governo argentino argumenta que, caso ofereça melhores condições aos credores antigos, os que toparam a reestruturação também podem fazer exigências, elevando a dívida do país a um valor impagável.

Solidariedade do Mercosul

Os países que integram o Mercosul demonstraram solidariedade à Argentina, que também é membro do bloco, por causa das dificuldades que o país enfrenta. Em comunicado, o Mercosul exortou a comunidade internacional a se pronunciar sobre a situação.

Para o bloco, a forma de agir dos fundos holdout impede que credores e devedores cheguem a acordos definitivos, pondo em risco futuras reestruturações de dívida soberana e, assim, a estabilidade do sistema financeiro internacional.

O manifesto do Mercosul nada resolve a situação de dificuldade em que se encontra a Argentina, que sob o comando da bolivariana Cristina de Kirchner tenta desqualificar os fundos de investimentos que compraram títulos do governo argentino e agora tentam receber o que lhes é devido, fora da negociação que criou a chamada dívida estruturada.

A presidente Dilma Rousseff discursou durante encontro do grupo em Caracas e alertou para o perigo que representaria ao mercado internacional um “default” da Argentina. A mandatária brasileira simplesmente desconhece a realidade, pois a Argentina há muito não consegue tomar dinheiro emprestado no mercado financeiro global.

Dilma aproveitou a oportunidade para falar sobre o risco que correm as dívidas soberanas de alguns países diante da decisão da Justiça norte-americana, que deu ganho de causa aos fundos de investimentos chamados de “abutres”, mas não será com conversa fiada que a Argentina escapará do seu segundo calote em pouco mais de uma década. (Com agências internacionais)

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