Prorrogação forçada – O juiz norte-americano Thomas Griesa, árbitro da disputa entre a Argentina e os fundos de investimento classificados como “abutres” pela Casa Rosada, convocou para sexta-feira (1º) uma nova reunião para tentar solucionar o impasse. O encontro será a primeira chance de o governo argentino sair da situação de calote técnico (default), na qual entrou na quarta-feira (30).
A Argentina precisa chegar a um acordo com os cerca de 10% de investidores que não aderiram aos planos de reestruturação da dívida contraída antes do calote de 2001. Sem entendimento, o país sul-americano não poderá continuar pagando as parcelas dos credores que aceitaram a renegociação dos débitos.
De acordo o jornal “Wall Street Journal”, sobre a mesa de negociação feira estará uma proposta do banco JP Morgan de comprar 100% dos títulos dos fundos litigantes. A instituição não cobraria a Argentina na Justiça, o que permitiria que o país pagasse a parcela das dúvidas reestruturadas e saísse do calote.
O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, nega que a Argentina tenha dado mais um calote. O dinheiro dos credores, argumenta, foi depositado, mas está bloqueado pela Justiça dos Estados Unidos. Na quarta-feira, após encontro em Nova York, Kicillof não descartou a possibilidade de uma solução ser alcançada por “terceiros”. A reunião da sexta-feira começa ao meio-dia (horário de Brasília).
Nesta quinta-feira (31), o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu novas discussões sobre o caso argentino e suas implicações, um problema, segundo ele, importante para “todos os países-membros”.
O chefão da ONU solicitou também que tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e o Mercosul se pronunciem a respeito. A Standard & Poor’s já declarou parte da dívida da Argentina em calote seletivo.
Radiografia do caos
A Argentina negociou em Nova York com os fundos de investimento que não aceitaram as propostas de reestruturação da dívida feitas pelo governo argentino, entre 2005 e 2010, e ainda têm em mãos títulos da dívida antiga, anterior ao “default” de 2001.
Os tais fundos recorreram à Justiça de Nova York para receber o valor integral dos papéis, aproximadamente 1,3 bilhão de dólares. O governo argentino, por sua vez, alega que não pode pagá-los porque títulos da dívida reestruturada contêm a chamada cláusula Rufo, que, até o fim de 2014, impede a realização de um acordo mais vantajoso do que o obtido pelos que aceitaram a reestruturação da dívida.
A polêmica vai além da liquidação da dívida de 1,3 bilhão de dólares. Concentra-se nos desdobramentos do impasse caso o governo argentino resolvesse pagar o que deve aos fundos que Cristina de Kirchner batizou como “abutres”. Os credores antigos, que concordaram em não receber boa parte do dinheiro a que teriam direito, poderiam, a partir de então, pleitear o pagamento integral dos títulos da dívida que têm em mãos. Tal situação colocaria a economia argentina à beira do despenhadeiro, pois o total dos compromissos em questão alcança a marca de 120 bilhões de dólares, valor que levaria a terra do tango, mais uma vez, à bancarrota.