Ninguém me quer

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09As últimas pesquisas mostraram um dado interessantíssimo: em boa parte dos Estados, na disputa pela maioria dos cargos, o eleitorado manifesta o mesmo voto, Nenhum Deles. Nenhum Deles acumula 34% das preferências pelo Senado em São Paulo; é seguido por Serra, PSDB, com 34%, e Suplicy, PT, 23%.

No Rio, Nenhum Deles lidera para o Governo, com 33%. É seguido por Garotinho, PR, com 21%; Crivella, PRB, 16%; Pezão, PMDB, 15%. E, com 42%, levaria o Senado, seguido por Romário, PSB, 24%, e César Maia, DEM, 17%.

Nenhum Deles ganha o Governo de Minas, com 44%; Pimentel, do PT de Lula e Dilma, tem 25%; Pimenta da Veiga, do PSDB de Aécio, 21%. O ex-governador Anastasia, PSDB, tem 38% para o Senado. Nenhum Deles tem 46%.

Os candidatos, os mais competitivos de que os partidos dispõem, não são aqueles com quem os eleitores sonham. Serra já foi candidato ao Planalto, Garotinho também; Romário foi campeão do mundo; o PSDB mineiro aponta seu líder, Aécio, para a Presidência; nem assim empolgam o cidadão. Mesmo para o Governo de São Paulo, onde Alckmin lidera com 50%, indicando vitória no primeiro turno, Nenhum Deles está bem na fita: tem 29%, contra 21% de todos os outros candidatos somados – e isso inclui o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, com Duda Mendonça e tudo, e Padilha, do PT, com Lula, Andrés Sanchez, o popular ex-presidente do Corinthians, e a poderosa máquina da Prefeitura paulistana.

É hora de renovar. E renovar não é trocar um líder antigo por um poste novo.

Buraco na cédula

Ainda faltam dois meses para as eleições, há tempo para que os candidatos se tornem mais conhecidos e ganhem mais corpo. Mas, neste momento, pelo menos um terço do eleitorado, em todo o país, não quer votar nos nomes disponíveis: divide-se em nulo, branco, não sei.

Não se pode esquecer que os Estados citados na nota acima são os mais populosos do país, onde vivem 4 entre 10 eleitores.

Petista atucanado

A frase é de Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional, petista desde criancinha mas ainda assim capaz de tucanar o buraco nas contas públicas: “Foi um resultado fiscal menos dinâmico, decorrente de receita menos forte”.

Preço ao alto!

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou que não haverá tarifaço de eletricidade após as eleições. A presidente Dilma, na Confederação Nacional da Indústria, garantiu que não haverá tarifaço elétrico.

Prepare-se, pois: tarifaço não haverá, mas uma revisão do equilíbrio econômico das empresas do setor com viés exógeno de ascensão modal estruturante, isso ninguém desmentiu.

Imóveis na berlinda

O número é de São Paulo – mas não se pode esquecer de que é o Estado mais rico da federação. Em um ano, a porcentagem de pessoas que desistem da compra de um imóvel, arcando com pesados prejuízos, passou de 5 para 15%. Alguns desistem antes mesmo da entrega do imóvel; mas a maioria das desistências acontece no momento da entrega das chaves.

Para desistir do negócio e fazer o distrato, o comprador perde mais da metade do que pagou. Este índice sugere que, na melhor das hipóteses, reduziu-se entre os compradores a confiança no futuro. E, na pior, que mais e mais famílias, que eram capazes de arcar com as prestações de um imóvel, deixaram de ter condições de comprá-lo.

Memórias da morte

Questão de tempo, talento e gosto. Um grupo de admiradores do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, o Trincheira Chavista, desenvolveu uma fonte de texto para computadores chamada ChavezPro, baseada na caligrafia de seu ídolo. O designer Marcos Volpe utilizou esse tipo de letra para tatuar em seu corpo frases bolivarianas.

Quem quiser abandonar o Garamond, o Arial e tantos outros pode baixar a fonte chavista no endereço http://trincheracreativa.com

Onde está o dinheiro?

O Governo Federal diz que entregou ao Governo de São Paulo determinada quantia destinada à Santa Casa paulistana. A Santa Casa diz que recebeu menos do que isso. O Governo de São Paulo diz que repassou à Santa Casa toda a verba recebida do Governo Federal. O Ministério Público Federal decidiu investigar a questão.

Mas não há muito a investigar: devemos imaginar que o Governo Federal, ao repassar a verba, recebeu documentos do Governo estadual acusando o recebimento; da mesma forma, ao encaminhar as verbas à Santa Casa, o Governo estadual deve ter recebido documentos atestando o montante. É só conferir. E, se houve desvio de verba, não há perdão possível: roubar dinheiro de doente não dá.

E os doentes, senhores?

Por falta de dinheiro – segundo a Santa Casa, os fornecedores já haviam suspendido as entregas – o pronto-socorro da entidade chegou a ser fechado. Há versões segundo as quais não houve repasse correto de verbas federais, ou de que as verbas estaduais não chegaram, ou de que a entidade é mal administrada.

É uma excelente oportunidade para descobrir quem é quem, quem mente e quem não tem escrúpulos de deixar gente necessitada sem ter quem a atenda.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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