Conselho de Ética: atuação questionável e blindagem a alguns dos envolvidos com Youssef

alberto_youssef_01Caso sério – O caso do deputado federal Luiz Argôlo (Solidariedade-BA), que responde a processo no Conselho de Ética da Câmara por suposto envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, começa a ganhar contornos de baixaria.

Correndo o risco de perder o mandato por quebra de decoro parlamentar, Argôlo arrolou testemunhas que depuseram no Conselho a seu favor, mas esbarrou nas declarações questionáveis da contadora de Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, que anteriormente havia acusado o parlamentar e na quarta-feira (3) negou a tentativa de extorsão relatada pelo deputado baiano.

Há nesse imbróglio detalhes que chamam a atenção: o primeiro deles é a forma irresponsável e amadora com que o Conselho de Ética vem tratando o caso. A questão é muito simples e passível de questionamento.

A suposta tentativa de extorsão teria ocorrido durante um jantar entre a contadora e o defensor de Argôlo, o advogado Aluísio Lundgren. Durante o encontro, Lundgren teria dito a Meire Poza que “os deputados sabem que o Argôlo não é santo” e que “os deputados sabem que ele teve algum envolvimento com o Youssef”. Essas são as declarações que constam de uma gravação que a contadora entregou parcialmente aos jornalistas que cobrem o cotidiano do Congresso Nacional.

Ora, se Meire Poza decidiu contar o que sabe depois de anos colaborando com o esquema criminoso de Alberto Youssef, não havia motivo para que ela quisesse se reunir com o deputado ou com seu advogado. Essa deveria ser a primeira questão feita à contadora, que por questões lógicas precisa depor novamente no Conselho de Ética, sob pena de o processo ficar carente de provas que podem ser decisivas. Não importa a essa altura que a fase de instrução do processo esteja encerrada, pois o presidente do colegiado, deputado federal Ricardo Izar, tem o poder de prorrogar o prazo como forma de garantir o amplo direito de defesa.

O ucho.info não está a defender Luiz Argôlo, mas apenas considerando estranha a atitude de Meire Poza, que foi ao encontro do advogado decidida a gravar a conversa. Para quem assessorou o doleiro da Lava-Jato durante anos, Meire tem se mostrado uma aluna aplicada.

Reiterando o que afirmamos em matéria anterior, no momento em que Meire Poza declarou que cedeu uma conta bancária em nome de sua empresa para que Youssef movimentasse dinheiro do esquema criminoso que foi desbaratado pela PF, os deputados que integram o Conselho de Ética deveriam ter dado voz de prisão à depoente, não tê-la tratado como uma celebridade em ascensão.

Aliás, foi por esse motivo, a afirmação que fizemos na mencionada reportagem, que o advogado Luiz Argôlo arrolou o editor do ucho.info como testemunha de defesa do parlamentar. Muito estranhamente, o editor, jornalista Ucho Haddad, recebeu por e-mail um convite para comparecer ao Conselho de Ética na última terça-feira (2) e depor no processo a que responde Argôlo. Pela gravidade do caso, o convite deveria ter sido enviado de maneira formal ou, então, se por meios eletrônicos, com a devida segurança. Ao contrário, o responsável pelo site recebeu um arquivo sem qualquer tipo de segurança, ou seja, desprovido de senha e totalmente editável. O que mostra a forma pouco séria como o Conselho trata os processos que analisa.

Por se tratar de um convite, não de uma intimação, o editor tinha o direito de não comparecer à Câmara dos Deputados, como de fato não compareceu. E o fez por um conjunto de razões, algumas das quais elencamos abaixo.

O primeiro motivo para não comparecer à audiência no Conselho de Ética foi, como já relatado, a forma como o colegiado enviou o tal convite. No mínimo o Conselho deveria ter se preocupado em enviar um arquivo em formato confiável, protegido por senha e sem qualquer condição de ser alterado. O documento enviado ao editor era tão vulnerável, que a até a assinatura do presidente do Conselho, Ricardo Izar, poderia ser facilmente substituída. Considerando que um mandato parlamentar está na fila da degola, o processo, como um todo, não deveria exibir tanta vulnerabilidade. Ademais, no momento em que sobram na rede mundial de computadores armadilhas escondidas atrás de falsos e-mails, o editor precisou telefonar para o Conselho de Ética para confirmar a autenticidade da mensagem.

A segunda razão para recusar o convite foi a necessidade de o próprio editor ter de custear sua viagem a Brasília e o deslocamento na capital dos brasileiros. Se o objetivo do Conselho de Ética é descobrir a verdade dos fatos para, na sequência, tomar uma decisão em relação às acusações que pesam sobre Luiz Argôlo, cabe à Câmara dos Deputados arcar com as despesas dos depoentes, mesmo que testemunhas de defesa sejam. Ao contrário, o Conselho sugeriu que telefonássemos ao advogado de Argôlo para que o mesmo providenciasse a ida do editor a Brasília. Por questões óbvias isso não aconteceu, pois nosso compromisso é não apenas com a verdade, mas, como sabem, com o Brasil e os brasileiros. Aceitar o custeio da viagem por parte de Argôlo seria permitir que alguém concluísse que o depoimento foi previamente combinado. Se no ucho.info não se faz jornalismo de encomenda, muito menos depoimentos sob medida.

A terceira razão para recusar o convite repousa no fato de este site já fez a sua parte quando, ainda em 2009, denunciou o esquema criminoso então comandado por José Janene e Alberto Youssef, o que permitiu que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagrassem a Operação Lava-Jato, desmantelando possivelmente o maior esquema de corrupção e desvio de dinheiro público da história nacional. Sendo assim, a presença do editor no Conselho de Ética em nada mudaria o andamento do processo a que responde Luiz Argôlo, mesmo que fosse apenas para reiterar a opinião do site sobre Meire Poza.

A quarta razão é de conhecimento dos leitores que seguem o ucho.info. O editor, por ter colaborado diretamente para o fim da farra comandada por Youssef, está diuturnamente monitorado pelos incomodados – por meio de grampos telefônicos, ataques cibernéticos e monitoramento pessoal – sob constante ameaça, o que exigiria um esquema de segurança em Brasília para que não ficasse na mira dos implicados e de seus capatazes.

A quinta razão para recusar o convite feito pelo Conselho de Ética é que este site não concorda com a decisão da Câmara dos Deputados de investigar, no âmbito da Lava-Jato, apenas Luiz Argôlo e André Vargas, acusados de envolvimento com Youssef. Salientamos que não nos cabe defender Argôlo e Vargas, mas não é novidade que o número de parlamentares envolvidos com o doleiro é muito maior. Basta conferir o depoimento da contabilista Meire Poza e acompanhar o sumiço de muitos políticos, que preferem o silêncio repentino ao excesso de exposição.

Como afirmamos em matéria recente, o escândalo que deu origem à Operação Lava-Jato ainda há de subir a rampa do Palácio do Planalto, pois há nas investigações da Polícia Federal a identificação de uma teia de desmandos e atos de corrupção que, como disse em tom de ameaça Paulo Roberto Costa, o Brasil pode ficar sem eleição se a verdade vier à tona.

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