(*) Carlos Brickmann –
Um romance magnífico, 1984, do socialista indiano George Orwell, criou uma nova palavra: duplipensar. Duplipensar é aceitar ao mesmo tempo duas crenças contraditórias, sabendo que uma delas é falsa, e se convencendo de que ambas são verdadeiras. É um processo consciente, por exigir precisão; e inconsciente, para que a percepção da falsidade não provoque sensação de culpa.
Exemplos? Eduardo Azeredo, no Mensalão tucano, disse que de nada sabia. Lula, no Mensalão propriamente dito, disse que de nada sabia. Alckmin, no cartel do Metrô e dos trens urbanos, disse que de nada sabia. E Dilma, no Petrolão, recita: “Eu não tinha a menor ideia de que isso ocorria dentro da Petrobras.”
Dilma foi ministra de Minas e Energia, ao qual a Petrobras é subordinada. Foi chefe da Casa Civil e gerente-geral do Governo – acionista majoritário da empresa. Ficou oito anos na presidência do Conselho de Administração da Petrobras. Nomeou para a presidência da empresa uma de suas amigas mais próximas, Graça Foster, a quem chama familiarmente de Graciosa. Se Dilma não sabia, quem saberia? Nunca terá tido a ideia de examinar os números da principal empresa do Governo, nem como ministra importante, nem como presidente da República?
Duplipensar. Dilma sabe que sabia, mas também acredita que não sabia. Como Azeredo, Lula e Alckmin, que sabem mas não sabem. E todos preferem não conhecer Orwell. Gostam de Sócrates – não o corinthiano, meia da Seleção brasileira, mas o filósofo grego. E, como ele, repetem: “Só sei que nada sei”.
A queda do pão dormido
Ensina a Lei de Murphy que tudo o que pode dar errado fatalmente dará errado. O pão, por exemplo, sempre cai no chão com a manteiga para baixo. Triste destino! Manteiga, sempre por baixo! Pioneirismo só ao esborrachar-se no chão.
Ao ministro falta o “i” no nome, mas o destino é o mesmo. Cristovam Buarque, ministro da Educação de Lula, foi demitido por telefone. A grosseria foi maior com Mantega, demitido com quatro meses de antecedência. Nunca dantes na história desse país um aviso prévio foi tão prévio. As serpentes sibilaram: o jornalista Ludenbergue Góes, por exemplo, disse que já viu muito ex-jogador em atividade, mas era a primeira vez que via um ex-ministro em atividade. Mas só gente má pode chamar Guido Mantega de ex-ministro em atividade. Ministro, nunca chegou a ser.
Em atividade, nem quando conseguiam encontrá-lo.
Ninguém é de ninguém
De um assíduo leitor desta coluna, o professor e escritor Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia: “Eduardo Campos viajava num avião sem dono? Darcy Ribeiro dizia que no Brasil só criança era abandonada. Não havia sequer bezerro abandonado. Mas agora temos um jato que não era de ninguém!”.
O amigo-inimigo
Os militantes petistas das redes sociais estão abrindo fogo contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Querem saber como vazou a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, berço do escândalo do Petrolão. Boa pergunta: há anos ocorrem vazamentos de investigações, mas, como atingiam pessoas afastadas do Poder Executivo, ninguém se incomodava com a ilegalidade. Neste caso, até o repórter Ricardo Kotscho, o mais moderado que um petista roxo consegue ser, afirma: “É bastante estranho o silêncio mantido até o momento, manhã de segunda-feira, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, e a Polícia Federal a ele subordinada, como se fosse a coisa mais normal do mundo um ‘vazamento’ destas proporções, sem qualquer prova, baseado em fontes anônimas, a quatro semanas da abertura das urnas, sabendo-se que este processo está submetido a segredo de Justiça e os áudios e vídeos da delação devem ser criptografados e mantidos num cofre forte”.
Este colunista arrisca um palpite: José Eduardo Cardozo não vai falar, não. Mudo está, mudo se quedará.
Os amigos-inimigos
Outro palpite (só palpite, nada de informação): a Polícia Federal manifesta há tempos descontentamento com o Governo. Há o caso dos 16 suicídios de agentes; e, por trás de tudo, até mesmo da onda de suicídios, o caso salarial. Dizem que o aumento foi concedido e formalizado, mas ainda não foi pago.
É claro, porém, que uma reles questão financeira não iria provocar um tumulto desses, não?
A hora dos tiros
Anotemos: Cardozo é candidato a uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Segundo o portal jurídico Migalhas, é um dos candidatos mais fortes.
Senso de humor
Lembra de Nelma Kodama, acusada de doleira? Muitas fotos dela já foram publicadas (veja no Google). Seu endereço de e-mail é angelinajolie….@…..
Esse coqueiro que dá coco
Desfile cívico da Independência, em João Pessoa. Um grupo de cem presos condenados por crimes como homicídio, estupro, narcotráfico e assaltos, todos já no regime semiaberto, desfila sob a faixa “Ressocialização: civismo e cidadania. Todos nós somos brasileiros”.
Segundo o secretário da Administração Penitenciária, Walber Virgolino, a iniciativa é inédita no Brasil e no mundo. Claro.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.