Dois pesos – O petista José Eduardo Martins Cardozo, ministro da Justiça, está preocupadíssimo com o conteúdo da delação feita por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras. Cardozo deve reunir-se com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para saber o andamento do pedido para ter acesso às informações prestadas por Costa, no âmbito da Operação Lava-Jato, por meio de acordo de delação premiada.
O envolvimento de políticos em um milionário esquema de propina tem tirado o sono dos ocupantes do Palácio do Planalto, que temem pela contaminação da campanha de Dilma Rousseff, que busca a reeleição. De acordo com a revista Veja, Costa citou nomes de parlamentares, de um ministro e de três governadores, acusados de participar do esquema que tinha como fonte de financiamento o superfaturamento de contratos com a empresa petrolífera.
“É tudo muito novo, é a primeira vez que ocorre uma delação com essas características”, disse o ministro da Justiça, em referência ao fato de as citações envolverem pessoas com direito a foro privilegiado. Por isso, o inquérito policial foi encaminhado para a procuradoria-geral e para o Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Teori Zavascki (STF) autorizou a CPMI da Petrobras, que também investiga o escândalo na estatal, a ter acesso o acesso aos documentos, apesar de estar sob segredo de Justiça.
Segundo o ministro, a decisão de compartilhar os dados cabe às autoridades, mas a avaliação do governo é que o Poder Executivo deve ter conhecimento das declarações prestadas para que “medidas corretivas” sejam tomadas.
Há na declaração de José Eduardo Cardozo controvérsias, porque não dizer atos falhos. O governo sempre soube das transgressões cometidas na Petrobras, principalmente na diretoria de abastecimento e refino, comandada por Paulo Roberto Costa, que cuidava de separar parte dos valores dos contratos firmados pela empresa para rechear os cofres de alguns partidos da chamada base aliada, como PT, PMDB e PP.
No que tange a eventuais medidas corretivas a serem tomadas pelo governo para estancar o problema, qualquer ação será não apenas paliativa, mas com objetivo meramente eleitoral. No caso de o governo decidir punir os culpados a essa altura dos acontecimentos, o que nem mesmo em sonho deve acontecer, a candidata Dilma perderá o apoio das legendas mencionadas, uma vez que, sabe-se, o escândalo é muito maior do que foi revelado até agora.
Nessa lufada de “bom-mocismo” por parte do ministro da Justiça há pelo menos um detalhe interessante. Quando decidiu levar à Polícia Federal um documento grosseira e criminosamente adulterado para q eu fosse aberta investigação sobre o cartel metroferroviário em São Paulo, Cardozo não se preocupou em checar a veracidade do documento, com faz agora em relação à delação de Paulo Roberto Costa. O ministro sabe que seu partido está seriamente implicado no caso e que o PT pode naufragar até as profundezas se detalhes do escândalo de corrupção vierem à tona.